Cascavéis. Ouço seus chocalhos e suas línguas sibilantes antes de realmente enxergá-las na escuridão. Elas estão por toda parte.
Atrás de mim, uma parede. O concreto gelado faz minha nuca se arrepiar. Não há saída.
Eu tenho minha adaga. Nunca estou sem ela. Desembainho, e percebo com uma surpresa que aquela não é minha adaga. O cabo de prata ornamentado, em formato de cascavel, com rubis para representar olhos da cobra peçonhenta, só podiam pertencer a uma pessoa.
Gaspar.
– Roubando de novo, S/N? Ladrazinha...
Ele aparece das sombras naquele corredor escuro, seguido por suas horrendas cascavéis. Sua voz era quase tão melódica e pavorosa quanto o canto das cobras.
Gaspar estava exatamente como eu me lembrava: cabelos negros e ondulados na altura da orelha, pele pálida como a lua, e os olhos...
Não... Os olhos estavam diferentes. Bem em seu olho esquerdo, um corte horrendo, dissecando toda sua íris verde e cegando-o daquele lado.
Eu tinha feito aquilo. Eu o tinha cegado com sua própria adaga.
Não. NÃO.
– Sabe o que fazemos com ladras dentro da organização, não sabe? – sussurrou ele para mim. Ele estava perto demais, e eu sentia seu bafo venenoso, como o das cobras.
– Espera. Gaspar. ESPERA!
– Vão, meninas. – ordena ele às cascavéis que, como sempre, obedecem seus comandos.
***
Acordo suando frio.
O céu está escuro lá fora. É madrugada. Tento normalizar minha respiração por alguns segundos. O sonho foi muito real.
Sento na minha cama, tentando não fazer nenhum barulho para não acordar as meninas. Depois de muito nos divertimos, elas tinham se espalhado no chão e dormido em colchonetes. O barulho baixinho de suas respirações indicavam que todas dormiam.
Eu precisava de ar.
Levanto da cama e logo procuro minha prótese. Predo-a firme no que restou da minha perna direita e sigo em direção à varanda entreaberta. A corrente de ar que beija meu rosto é reconfortante. Me apoiando no parapeito, respiro. Uma, duas vezes.
Foi só um sonho. Eles não podem te machucar agora.
Puxo a manga do meu moletom quentinho. Desenrolo as bandagens que eu estava usando para cobri-la. Eu precisava vê-la.
No meu pulso esquerdo, aquela tatuagem. Aquela marca do meu passado.
A cascavel enrolada em um galho de oliveira. Ao lado dela, o meu número de identificação: 20092020.
Aquela tatuagem me dava desgosto. Me relembrava de coisas que, no momento, eu só queria esquecer.
"Esquecer... Há. Eu sou literalmente incapaz de esquecer", disse a mim mesma. Droga de hiperminésia.
Ok. Talvez não esquecer. Mas quem sabe seguir em frente. Sem ter repetidamente os mesmos pesadelos. Sem pensar a cada momento o quanto eu não presto.
– Olha só... Perdeu o sono, novata? – disse uma voz que eu percebi que conhecia.
A uma distância de alguns metros, estava o garoto loiro (Bakugou, se me lembro bem – e eu sempre me lembro) em sua própria varanda, na ala dos meninos. Ele olhava debochadamente para mim. Pra quem reclamava que queria dormir cedo, me surpreendi de vê-lo acordado.
Droga, a tatuagem! Puxei rápido a manga do casaco. Acho que ele não viu. Pelo meu bem, espero que ele não tenha visto.
– Sua festinha do pijama não acabou ainda não, foi? – perguntou ele, em tom debochado.
Eu estava sem paciência para as afrontas daquele babaca. Então, fiz o que toda pessoa sensata passando por uma crise de pânico faria.
Apontei o dedo do meio para ele. E voltei para a cama.
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Sentimentos Explosivos - UA de BNHA
Fanfiction* Nesse universo de Boku No Hero Academia, S/N consegue refúgio no Japão após passar por coisas obscuras de seu passado. Ela recebe uma bolsa de estudos na U.A., onde faz novos amigos ao mesmo tempo que precisa esconder as suas origens. S/N não sab...