10. Não se pode apagar o passado - pt. 1

91 13 6
                                    

A verdade.

Ok, heróis. Aqui está a verdade.

Desde o começo da vida, eu tive que fazer escolhas difíceis. É assim de onde eu venho. O Brasil não é para amadores.

Acho que vocês sabem do governo ditatorial de Abel Graecus e sua política contra individualidades.

Eu sou uma órfã do governo. Isso significa que nunca conheci meus pais porque... Bem, eu acho que eles foram mortos. Me contaram sobre fuzilamentos em massa dos contrariantes da ditadura. E isso acontece até hoje, deixando muitas crianças órfãs. Crianças como eu.

É claro que um Governo tirano como esse ia provocar revolta.

É ai que entram os grupos revolucionários. O maior dentre eles são os Cascavéis.

Foi esse grupo que me acolheu desde que eu era bebê. Eles ajudavam os órfãos do governo e lhes davam comida, abrigo, e mais importante; um propósito.

A mídia os trata como terroristas. Mas na verdade o principal objetivo dos grupos revolucionários é derrubar o governo de Graecus. Ele sim é o verdadeiro inimigo, com aquela política ridícula baseada em uma religiosidade doentia.

Assim, eu cresci em uma base secreta de operações dos Cascavéis. Desde pequena aprendi combate, invasões, furtos. Qualquer coisa que pudesse desestabilizar a ordem. 

Eu também lia muito, estudava muito. Ao longo do tempo, li mais livros sobre todos os assuntos possíveis do que qualquer um na base secreta. Conhecimento é poder, e era algo que ninguém podia tirar de mim.

Recebi essa tatuagem quando voltei da minha primeira missão, aos 12 anos. Por causa da minha hiperminésia, me usavam sempre em missões de reconhecimento. Eu decorava o mapa do local só de olha-lo alguns segundos. Assim, fui crescendo, cada vez mais alcançando importância dentro do grupo.

Foi depois de uma missão especialmente bem sucedida aos 15 anos que minha vida começou a ficar uma bagunça. Eu tinha acabado de roubar o carregamento de um caminhão que ia para a base do exército brasileiro, com comidas e roupas. Todos estavam muito satisfeitos. Aquela apreensão nos garantiria mantimentos pelos próximos meses.

Então, enquanto eu e outros adolescentes recrutas dos Cascavéis bebíamos e comemorávamos, fui surpreendida por Gaspar, filho do chefe dos Cascavéis. Ele tinha 19 anos na época, e era um revolucionário louco. Tinha complexos de grandeza e as vezes suas ambições exageradas complicavam as missões.

Acontece que Gaspar nasceu com o sibilo, a individualidade que permitia controlar as cobras com a sua voz. Isso era assustador para a maioria de nós, mas isso que fazia Gaspar tão poderoso. Ele impunha medo.

— Tenho observado você. —  disse ele. Lembro de ter percebido pela primeira vez que sua língua era bifurcada, como a das cobras. Não sei ele nasceu com aquela característica ou foi ele quem cortou a língua. Também não sei o que seria menos assustador.

— É? Por que? —  perguntei. Interiormente, eu estava assustada. Achei que tinha feito algo errado para o filho do chefe querer falar comigo.

— Você tem talento natural.

— Eu não diria isso, senhor.

— Por favor, me chame de Gaspar. — ele piscou. — Tem um minuto? Acho que você pode se interessar no que eu tenho a dizer...

— É claro.

Eu o segui, e foi aí que tudo começou a dar errado.

***

Sentimentos Explosivos - UA de BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora