Odeio não conseguir lhe odiar

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    Ele não interviu, não se aproximou e muito menos chamou minha atenção. Bryan apenas ficou me observando da entrada de sua casa,me observou dar socos e chutes em tudo que meus punhos e pés alcançavam naquele carro,me observou chorar e me observou gritar com todas as minhas forças até que tudo cessasse,até que minha dor fosse anestesiada e o choro começasse a se dissipar. Então ele entrou,com um único olhar meu em um pedido silencioso, Bryan entrou em sua casa deixando a porta aberta.
    Com minhas mãos trêmulas, apanhei meu celular sobre o suporte do carro e disquei o número do Vitor,e desta vez ele atendeu:

" Katrina,onde inferno você está? Lhe liguei e te mandei mensagens assim que encontrei registro de chamadas suas "

    Sua afobação fez todo meu coração doer novamente,pois de certa forma,estava seguindo seus conselhos mas não conseguia me sentir tranquila.

  “ Estou seguindo seus conselhos! "

   Foi a única coisa que saiu da minha boca,a única coisa que poderia justificar minha me te conturbada e meu medo aterrorizante,minha insegurança dominante.

    " Sei que devemos esclarecer nossos problemas, devemos acertar todas as pendências que nos trouxeram até esse momento tão difícil. Mas estou com tanto medo, Vitor! Estou com medo de não ser suficiente ouvir,estou com medo das palavras que ele tenha para me dizer apenas destrua o restante de esperança que tenho. Essa não sou eu,essa garota frágil e amedrontada não sou eu.

     Não fui capaz de ouvir suas palavras encorajadoras, não fui capaz de ouvi-lo me repreender como se eu pudesse ter domínio do que penso e do que sinto. Encerrei a chamada e sai daquele carro,com toda minha relutância e medo do que estava por vir,fiz o mesmo trajeto que Bryan fizera a minutos atrás, então,após uma semana longe,adentrei aquela casa podendo encontrar o que arrancava meus melhores sorrisos: Matheo estava sentado sobre o carpete daquela sala de estar, entretido com pequenos brinquedo enquanto seu pai acariciava seus fios macios e um tanto escuros. Naquele momento,me senti um monstro por ter lhe abandonado,por ter me afastado como se demonstrasse não me importar consigo.
    O olhar de Bryan e Ruth seguiram até mim,a mulher já de idade avançada não se limitou em se colocar de pé e seguir até mim puxando-me para um abraço no qual fazia inúmeros questionamentos,nas nenhum deles sufocava a sua necessidade de saber como estava me sentindo e demonstração de afeto. Então, me afastando de Ruth,me ajoelhei naquele chão e abri os braços chamando meu menino para um abraço, e não tardou muito para estar lhe acolhendo contra meu corpo e liberando todos os meus soluços,todas as minha lágrimas.

      — Me perdoa meu filho! — lhe implorei sem deixar de abraça-lo e distribuindo beijos em todos os seu fios e rostinho perfeito.

      — Você voltou, mamãe? — sorrindo por ouvir aquela voz completamente embolada e em processo de aprimoramento,lhe respondi em um acenar de cabeça.

      Poderia não reatar com Bryan,poderia ter de me fazer de forte a cada segundo que o sentisse por perto. Mas nunca,em hipótese alguma abandonaria meu filho,em hipótese alguma o deixaria longe de mim e do bebê que estou esperando.

      — Por que você não fica com a Ruth? A mamãe precisa conversar com seu papai — aconselhei me afastando deixando um beijo em sua testa e acariciando seu rostinho delicado.

     E foi o que ele fez, enquanto seguimos para o escritório de Bryan, Ruth se disponibilizou a ficar com Matheo por mais algumas horas. Já dentro do cômodo que me trouxe nossa penúltima discussão,apenas me sentei diante si e sinalizei para que começasse,pois ele era o único que deveria falar naquele estante.

     — A família deles me enviaram um envelope,no começo pensei ser apenas algo irrelevante, mas então o abri; haviam uma fotografia sua e do meu filho,ambas marcadas com um x vermelho feito a sangue — iniciou enquanto se negava a olhar para mim.

     — E você não pensou em me contar? — não estava lhe cobrando,pois no final de tudo, não gostaria de preciptar as dores e frustrações.

     — Eu queria uma forma de proteger vocês,em momento algum pensei em omitir o que estava acontecendo, apenas não era o momento certo a lhe contar. As ameaças não pararam,ambos estavam monitorando todos os seus passos,e naquele dia em que fiz a grande besteira de lhe magoar, Dante havia me dito que a equipe de investigação tinha um plano para prender todos eles — Bryan se colocou de pé a minha frente demonstrando toda sua frustração — sei que nada justifica meu erro, aquelas palavras e a forma que falei com você. Mas Katrina, eu estava sob pressão,estava exausto com a tentativa falha de proteger a minha família.

     Por um estante, me desviei daquele assunto e me permitir enxergar suas frustrações e sua insegurança,me permitir sentir cada emoção que lhe dominou no momento de exaustão. Bryan agiu no impulso, agiu com todos o problemas lhe atingindo de uma única vez.

     — Esses meses,esses no qual você ficou fora,tudo foi para descobrir uma forma de prendê-los? — questionei o vendo assentir lentamente.

     — Sei que pode estar me odiando...— o impedir de prosseguir com suas palavras.

     — Não,o que estou odiando não é você. O que estou odiando é o fato de você ter dito para todos,ter contado a cada pessoa que estava com você, exceto para mim!

     — Eu não podia, Katrina! A polícia e os investigadores me impediram — tentou justificar.

     — impediram? Você poderia dizer para todos, exceto para mim? Vitor, Ruth até mesmo cada um de seus funcionários poderiam saber, menos a idiota da sua namorada — esbravejo me pondo de pé a sua frente.

      — Eu iria te contar,diria no mesmo dia em que te encontrei naquela sala de estar gemendo de dor — igualou seu tom de voz ao meu.

       — Naquele momento, naquele maldito momento já não era necessário, Bryan. Eu havia perdido a confiança em você! — e as lágrimas se acumularam a medida que as palavras saíam da minha boca — não me importava mais,nada do que você dissesse faria a maldita mágoa evaporar. Não foi o que você disse nesse escritório, não foi o que você fez... Foi o que não fez,foi a ausência de explicação e a omição para mim!

     Me sentindo sufocada o bastante para perder todo meu controle e calmaria no tom de voz,me afastei até sentir uma segurança na distância que impus entre nós. O meu desejo era esquecer tudo isso, é esquecer os problemas e me jogar em seus braços e pedir por proteção, pedir para que me fizesse confiar novamente. Mas não consegui,algo dentro de mim estava prestes a enlouquecer, algo gritava a ponto de me fazer expressar da forma errada. Bryan era meu porto seguro,o que aconteceu conosco para tudo perder o sentido? O que aconteceu para nos destruir dessa forma?

      — Katrina, você precisa se acalmar! — pediu de forma aflita e querendo se aproximar — você pode me odiar,pode não querer minha aproximação,mas eu preciso que se acalme,por favor!

      —  Para de falar em ódio! — perdi o controle do meu choro,a angustia estava me sufocando — a única coisa que odeio é não conseguir assimilar tudo. Odeio o fato de tudo a minha volta estar desmoronando. Odeio o fato de não conseguir confiar em você. Odeio não poder me aproximar sem me sentir traída. Odeio essa mágoa que parece não ter fim.

    E naquele momento, Bryan não se importou com o meu afastamento e não se importou com o que nos levou até aquele lugar e situação; ele apenas se aproximou e me abraçou sentindo o tremor de meu corpo, sentindo cada músculo tensionar e cada lágrima molhar sua camisa,ele sentiu e aceitou cada reação do meu corpo.

     — Por favor... Tenta se acalmar, Trina! Por favor,meu anjo! — implorou me apertando contra seu corpo e deixando um beijo em meus cabelos.

     — Mas de todo ódio que sinto,nenhum se compara o que mais me cega; eu odeio não conseguir te odiar!

     Então eu cedi. Deixei que meu corpo fraquejasse, deixei que a dor dominasse cada centímetro do meu ser. Amar Bryan era isso,era sentir incontáveis emoções em uma só. Desde que tudo aconteceu,desde os anos que se passaram,ele não enxergou que morreria por ele e morreria sem ele. Ele sequer percebeu o quão me tornei dependente de si.
     Mas não deixaria isso me dominar, não aceitaria ser dependente de um sentimento que faz inúmeras promessas,mas dentre elas existem muitas que são vagas e um perigo para minha sanidade. O amo e não nego,mas não posso me matar por alguém que não provou o quanto seu sentimento é merecedor de tal sacrifícios. Não duvido do que ele sinta e sei que é tão forte quanto o meu,porém meu medo é vê-lo desistir.

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora