Dois anos

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    Era incrível como o tempo estava passando rapidamente diante a nossos olhos, incrível como tudo mudou de uma forma inexplicável. Não conseguia explicar como as coisas aconteciam e como se marcavam em minha memória para jamais serem esquecidas,mas tinha a noção do quão estava feliz e bem. Talvez precisassemos de um impulso para nos fortalecer,um motivo para insistir em nossa felicidade e foi exatamente isso que fizemos.
Pode parecer estranho,mas se passaram dois anos depois de tudo o que vivemos. Foi um tempo revigorante,dias nos quais foram perfeitos ao lado do meu namorado e do meu filho de dois anos,quase três. Tudo isso prova que a ferida pode ser brutal,mas a cicatrização é certa.
     Descendo as escadas após ter me vestido em uma roupa mais casual,mas que poderia me servir para marcar presença no hospital. Encontrando Ruth na sala de estar enquanto olhava meu filho sentado no carpete rodeado de inúmeros brinquedos que Bryan havia lhe dado, não pude impedir de um sorriso se formar em meus lábios ao me aproximar. Em silêncio,me sentei atrás de meu eterno bebê o abraçando e distribuindo beijos em seu rostinho podendo ouvir suas gargalhadas gostosa.

     — Mamãe! — Matheo não sabia dizer muitas palavras,mas estava aprendendo e acabava me deixando encantada com cada progresso.

    Me lembro a primeira vez em que ele me chamou de mãe: estávamos na casa de veraneio de Bryan, como as férias da faculdade vieram e com elas também o meu aniversário de dezenove anos, havíamos decidido passar um tempo longe da cidade e de toda pressão diária de nossa rotina. Matheo estava no colo do pai enquanto me encontrava ao lado de Ruth os observando admirando o quanto aquele pequeno serzinho poderia ser curioso,e em um momento inesperado ao ter sido posto no chão para que pudesse dar alguns passos desastrados. Meu bebê correu até mim e se jogou em meus braços gritando aos quatro ventos a palavra que me fez chorar por longos e felizes momentos.
   Assim como as primeiras palavras e ainda tendo sido mamãe - o que aconteceu após dias de ter completa nove meses - os primeiros passinhos me deixarem emotiva e insegura por temer que alguma queda em busca de equilíbrio, pudesse lhe machucar, acho que fiquei tão insegura com tudo o que aconteceu que meu medo se alastrou além dos limites. Matheo se mostrou para mim como se me reconhecesse como sua mãe biológica,se mostrou como se me acolhesse para a vida inteira,e era isso que seria para ele. Não precisamos ter o mesmo sangue correndo em nossas veias,apenas o meu amor por ele e sua reciprocidade eram os bastante,e não importa o que digam,essa criança é meu filho e ninguém mudaria isso.

     — Meu bebê é muito fofo! — murmurei lhe sentindo se jogar contra meu peito enquanto lhe apertava contra mim.

      — Sempre é bom e emocionante ver como é o carinho e amor de vocês. — Ruth comentou com um sorriso nostálgico.

      — Esse menino é a minha vida, Ruth.

     Não precisavam de milhares de palavras para descrever o quão amava meu filho,o quão agradecia pela vida que tenho e que escolhi levar.  Tento demonstrar com os olhares,com minha presença e o carinho que sempre estou disposta a lhes dar, não importa se estou cansada após um dia exaustivo de estudos e trabalho do meu estágio, não importa o quão possa estar desejando apenas um banho relaxante e a minha cama. Minha vida são eles,ambos são a minha felicidade a cada dia que se passa e o motivo de meu acordar e insistir.
    Direcionando meu olhar para a porta que acabara de ser aberta,pude encontrar Bryan adentrando com uma expressão nada alegre. Era perceptível sua tensão e seu pequeno stresse,o que não me surpreendeu ao lhe ver seguir para seu escritório sem ao menos olhar para o filho ou para mim. Não sabia o que estava acontecendo,porém estava me vendo cansada de ter de explicar para o meu filho o porque de seu pai não lhe dar atenção ou até mesmo se negar a passar dez minutos ao seu lado,era o quarto dia seguido que estamos nessa rotina.

     — Ruth, você pode continuar a olhando esse bebê? — dei um beijo nos cabelos do meu filho que se concentrava em seus brinquedos.

     — Posso sim! — confirmou forçando um sorriso por prever o que precisaria fazer.

      Me levantando daquele carpete, suspirei pesadamente tomando direção do escritório no qual passei a não entrar desde uma pequena discussão que tivemos, algo por ele estar se tornando alguém grosseiro. Batendo na porta, aguardei sua confirmação que não veio, então apenas girei a maçaneta a abrindo podendo lhe encontrar sentado em sua poltrona enquanto segurava um copo de whisky e mantendo seu olhar na tela de seu computador.
    Fechando a porta atrás de mim,me apoiei na madeiras que me causou um arrepio por ser fria. Apesar de estar ali,um sentimento de insegurança dominava meu corpo e o medo do que mais temo nessa vida vir a acontecer. Pela forma que Bryan passou a agir,a ausência em seu olhar sob mim ou até mesmo no filho me dá a entender que está cansado de tudo isso,como se não tivesse aquela felicidade em nos ter por perto. Mas acredito que se for algo assim, é somente a mim que está voltado essa falta de sentimento,essa frieza deveria e tem de estar voltada somente a mim.

     — O que está acontecendo, Bryan? — sem me mover um músculo sequer,o vi erguer seu olhar até mim e pousar o copo com sua bebida sobre a mesa.

     — Katrina,agora não! — seu suspiro foi o bastante para saber que meus uma vez ele fugiria de uma conversa. Mas estava disposta a fazer de tudo para ter esse esclarecimento, até mesmo se me custar esse namoro.

    — Por favor, Bryan! — sorrir sarcástica e forçado — não acha que está afetando tudo ao ser arredor com esse seu jeito,um que não gosto e muito menos queria ter conhecido. Está agindo como se fôssemos alguém se importância!

    O vendo me ignorar retornando seu olhar para a tela de seu computador,permiti que um sentimento que jamais desejei ter por ele,se manifestasse e impulsionasse meu corpo para passos até sua mesa,onde desliguei seu eletrônico e lhe tomei o copo de whisky o arremessando em qualquer canto daquele escritório.

     — Chega! — esbravejei o vendo surpreso — a mim você pode ignorar,me mandar embora ou o que quiser fazer. Mas não ouse se afastar do Matheo, não pense em ignorar o fato de você ter um filho que sente falta do pai!

     — Katrina,por favor! Saia do meu escritório — sustentando meu olhar, Bryan praticamente me expulsou.

     Mesmo que me sentisse abalada por toda aquela situação,me mantive a sua frente enquanto tentava encontar um motivo, somente um para me manter ao seu lado,para compreender essa sua mudança completamente bruta e grosseira. Bryan deveria ter um motivo,tinha de ter,ele não poderia jogar nosso namoro em uma lata de lixo mais próxima, seria covardia de sua parte.
    Apoiando minhas mãos sobre aquela mesa, sustentando seu olhar que não se assemelhava nada com o que tive o prazer de me apaixonar,o que tive a capacidade de amar como nunca pensei poder. Encarei aqueles olhos que muitas vezes me transmitiram segurança,mas agora,única coisa que estava sentindo era ódio.

    — Escuta bem o que vou dizer,pois falarei uma única vez — murmurei entre dentes podendo me acalmar aos poucos — se meu filho me perguntar mais uma vez o porque do inconsequente do pai dele está o desprezando... eu juro que entro na justiça contra você e te proíbo de se aproximar dele.

     E com uma reação na qual não esperava ver, Bryan sorriu desafiador e se levantou também apoiando suas mãos sobre a mesa ficando cara a cara comigo. Ele estava me desafiando.

     — Tenho de lhe lembrar que sou o pai dele e que você é somente alguém que o adotou? Você não é a mãe biológica dele, Katrina! — por um momento,pude ver que aquelas palavras o machucava, mas não mais do que fizeram comigo.

     Sentindo uma ardência em meus olhos e as lágrimas se formando,tive a conclusão de que ele estava me afastando. Sentindo ambas molharem meu rosto e um aperto em meu peito,me afastei de si ainda olhando para o homem que desconhecia, alguém que estava longe de ser a pessoa por quem me apaixonei.

     — Obrigada por me lembrar! — sorri entre as lágrimas que tentei secar — mas tenha a certeza: ou você seja o pai que ele merece,ou se prepare para me enfrentar diante um juiz.

     Sem aguardar uma próxima resposta que me machucaria ainda mais do que aquelas palavras,sai de seu escritório batendo a porta com certa força. Se ele quer me ver longe, é isso que farei.

*.* Não me matem - vocês iram entender,talvez não compreendam o Bryan -  mas ele continua sendo meu bebezão 😁*.*

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora