Infeliz madrugada

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     […]
     Não havia vozes, não sentia a presença de ninguém ou ao menos o calor de um toque humano,a única coisa que preenchia aquele quarto era o barulho irritante do aparelho que controlava meus batimentos cardíacos. Estava em um quarto de hospital, imobilizada naquela cama enquanto uma agulha estava conectada em meu braço fazendo uma reposição de sangue em meu corpo. Ao tentar me movimentar, senti a ausência coordenação motora em minha pernas,o que me fez entrar em desespero e sentir um aumento em meus batimentos cardíacos. Por baixo daquela roupa, toquei sobre um curativo em minhas costas,um curativo que me fez derramar lágrimas em medo,por sentir que aquilo não era somente um ferimento sem sequelas,era um ferimento que causou minha perda de movimentos da cintura para baixo.
    E no mesmo estante que arranquei o catéter de meu braço,a porta daquele quarto foi aberta por duas pessoas; Bryan e um homem vestindo um jaleco. Em meio aquele choque que estava me afetando de forma impulsiva, não me importei em arrancar aqueles lençóis cobrindo meu corpo e me impulsionar para que pudesse me levantar,mas foi um movimento falho,pois duas mãos me prenderam contra aquela cama,e uma outra aplicou algo em mim.
    Pensei que dormiria e acordaria mais uma vez,talvez me sentindo meus calma do que momentos atrás, porém,ao sentir um toque gelido em meus rosto,tive a certeza de que poderia não acordar,que poderia me despedir de tudo o que um dia planejei e idealizei. Vanessa. Ela adentrou o quarto,se aproximou e tocou em meu rosto enquanto um sorriso macabro crescia em seu rosto.
      […]

       Em um movimento brusco,me sentei em minha cama sentindo o suor escorrer por minha testa e deslizar por meu rosto. Era o mesmo sonho,a mesma sensação e mesmo tremor que percorria cada centímetro de meu corpo cansado pela exaustão de noites em claro devido o medo de sonhar com o fim daquele pesadelo.
     Jogando o cobertor para o lado,me levantei em um gesto cauteloso para não acordar meu menino que dormia sobre o peito de seu pai e muito menos o mais velho. Com somente uma meia cobrindo meus pés,segui para fora daquele quarto tendo em mente ir até a minha cozinha. Meu apartamento não era grande, não era luxuoso e muito menos poderia se comparar com a mansão de Bryan,porém era o único lugar que estava me sentindo bem,o único lugar que me fazia ter a sensação de alívio,talvez não fosse o momento de voltar para o lado dos dois homens que mais amo nesse vida,digo,talvez não fosse o momento de morar com ambos.
     Descendo aquelas escadas — é,talvez um dúplex possa ser comparado com a casa do CEO que dormia em minha cama — segui para minha cozinha em busca de um copo de água para matar minha cede e acalmar o tremor em meu corpo. E com o copo em mãos, retornei para a sala de estar que fazia divisão com o cômodo anterior,me sentei em meu sofá de costas para a escada.
     A primeira semana foi fácil,sem nenhum pesadelo,sem acordar chorando ou completamente molhada de suor. Mas a segunda se tornou o meu terror em filmes de tal gênero,me fez sentir o cansaço se formar e crescer em meu físico,algo que omiti para todos que me questionavam se estava bem ou se tive uma excelente noite de descanso. É difícil ser verdadeiro quando todos querem ouvir somente verdade, quando a pergunta deveria ser retórica.
     Com o corpo completamente apoiado no estofado,pude ouvir passos vindo por trás. Mas a única coisa que fiz,foi fechar meus olhos enquanto mantinha o copo em minhas mãos e minha respiração pesada,essa que demonstrava toda minha frustração por não poder dormir sem ter de ser descartada por medo de um maldito e infeliz pesadelo que tive completamente dessa minha realidade.

      — Perdeu o sono,meu anjo? — o questionamento inocente foi feito.

     — Sim...tive apenas um pesadelo — murmurei sentindo meu lado direito se afundar e braço contornarem meu corpo em um abraço acolhedor.

     — Suponho que seja o mesmo que não tenha lhe deixado dormir por essa semana que se passou,estou certo? — acariciando meus cabelos, Bryan beijou minha testa.

     Abrindo meus olhos para encarar o homem que amo e que me protege,o encontrei com os olhos fixos na TV desligada sobre minha estante. Ele encarava nosso reflexo negro, admirava cada detalhe de nos ver juntos e abraçados,um acalentando o outro,ambos demonstrando todo amor que somos capazes de sentir por uma única pessoa. Então,como se não tivesse se contentado somente com aquela visão, Bryan tocou em minha barriga de quase quatro meses, faltando apenas uma semana.

      — Sempre o mesmo...— murmurei sentindo a ardência se iniciar em meus olhos com marcas de exaustão — estou tão cansada!

     Tendo a deixa com aquelas palavras, Bryan se endireitou no sofá e me puxou para seu colo fazendo-me sentar de frente para si e me deitar contra seu peito tendo meu rosto escondido em seu pescoço. Em um gesto carinhoso,suas mãos deslizavam por minhas costas.

      — Pode dormir! Prometo estar aqui quando você acordar — me encorajou,pode temia que tudo se repetisse e fosse até o pesadelo de três dias atrás.

      — Não... Tudo vai acontecer novamente — me obriguei a ficar de olhos abertos,podem não me afastei de seu abraço.

     Me acomodando em seu corpo e em um aperto soube que ele pedia para que nenhum desabafasse,para que compartilhasse o temor,motivo de minhas noites em claro e consequências das profundas olheiras abaixo de meus olhos.

       — Sempre acordo no hospital. É tudo tão calmo,e somente o barulho de meus batimentos cardíacos sendo monitorados, mas o pesadelo começa no momento em que passo a tentar me movimentar e não consigo. Parece real, é como se realmente estivesse ali e sentindo a dor de uma descoberta — permiti que a primeira lágrima molhasse meu rosto — um movimento e toco em uma ferida em minhas costas, então desvendo o motivo para não conseguir mover meu corpo da cintura para baixo. Quando arranco o catéter de meu corpo e estou prestes a tentar me levantar, você e o médico adentram o quarto.

     Me apertando mais a si,demonstro que o temor maior será narrado naquele momento,e assim seus braços também revelam estar ali para me acolher,para retirar meus medos e me insentivar a viver além de minhas barreiras protetivas e inseguras. Bryan realmente valia a pena; cada lágrima, cada choro,cada sorriso e cada risco que corri.

     — No estante que estou prestes a dormir sob efeito de algum medicamento,uma mão toca em meu rosto e o sorriso macabro se apossa daqueles lábios. Vanessa estava ali mais uma vez para tentar me matar...— narro sentindo novos tremores me afetar rapidamente — e ela sempre consegui, mas antes,o alvo se torna você e nosso filho. Ela tira a sua vida e do nosso Matheo.

     Tocando em meu rosto, Bryan me afasta alguns centímetros e seca a unidade presente e seca cada parte de minha face avermelhada pelo choro silencioso, porém, intenso como cada emoção dentro de meu coração que está sendo sufocado.

     — Ela não voltará a fazer mal a ninguém,muito menos você e nosso filho — eram veridicas suas palavras, pois seu corpo havia sido sepultado ao lado do de seu irmão — mesmo que seja ainda estivesse viva,nunca deixaria que ela voltasse a tocar em você. Não me arrependo de ter puxado aquele gatilho!

    Sim, Bryan havia puxado o gatilho da arma que lançou a bala que a matou estantâneamente. Era para a polícia lhe pretender em uma clínica ou em uma penitenciária, porém Vanessa havia ameaçado minha segurança ao apontar a arma em minha direção pensando em disparar. Bryan está esperando o julgamento,pois mesmo sendo em legítima defesa, ele deveria acatar a justiça que encobertou uma psicopata, justiça que falhou em prol ao homem que amo,mas que deseja puni-lo. A vantagem é que os policias e delegado,assim como os agentes contratados por Bryan sabiam de tudo o que estava acontecendo e serviram como testemunha.

     — Eu sei... Mas parece tão real que me causa medo! — murmurei sentindo o sono me atingir,o que estava me fazendo deitar sobre seu peito.

      — Não é real,meu anjo!... Agora tente dormir, são duas horas da manhã e você precisa ter forças para enfrentar aquela penitenciária.

     Sob os alertas de Bryan, me permiti sorrir e desejar um único beijo,pois não nos beijamos desde a conversa no escritório onde acertamos nosso caos.  Mas tenho em mim e o mais velhos também,ele quer que tenhamos a certeza de nossas escolhas. E por mais que ele durma comigo e na mesma cama, ele sequer fez questão de me tocar,mas o intendo e compreendo a situação que ainda estamos. Nos amamos, mas temos planos para uma vida sólida.
    Com seus braços ao redor de meu corpo,meu rosto em seu pescoço e minhas pernas a cada lado de seu físico,me permitir entregar-me ao sono de dias abordado.

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora