Não posso lhes perder!

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   Ser alguém que foge de uma explicação não faz parte de minha personalidade e não se aplica a minha índole,pensar que deixei Katrina sem nenhuma resposta e muito menos sem lhe tranquilizar pelas coisas que venho feito no decorrer daqueles dias é algo que me afeta ao extremo e fragiliza nosso relacionamento. Aproveitar essa viagem para lhe dar um tempo para se acalmar por nossa discussão que sou totalmente culpado foi uma forma de colocar na balança a que ponto cheguei e se realmente mereço ter seu perdão. Por mais que esses problemas estejam me afetando,por mais que sinta o controle se esvaindo por entre meus dedos, não tinha e não tenho o direito de lhe dizer tais palavras,em momento algum deveria ter mencionado palavras tão duras e cruéis como as que saíram por entre meus lábios e que meu coração repreendeu. Por mais que estivesse perdendo o dominó de tudo em minha volta,nada justifica minha grosseria e indeferença para consigo e nosso filho.
    Com minha pequena mala em mãos, suspiro profundamente saindo daquele aeroporto e encontro o motorista de minha empresa aguardando a minha chegada. Por mais que tenha sido insensível e infantil em sequer ter telefonado para Katrina durante esse mês,tenho uma justificativa que graças a meus esforços,posso suspirar aliviado e tentar conseguir o perdão da mulher que amo e que me fez me odiar por ter lhe feito chorar.
    Assim como Vitor,Ruth também sabia meus motivos para estar escondendo as informações de Katrina, sabia que não conseguiria fazer diferente. Mas acima de tudo, ambos me repreenderam por ter sido um desgraçado com ela,me repreenderam por ter causado os pensamentos de término na mente daquela que desejo levar para minha vida inteira. Por mais que ela possa achar insuficiente meus motivos, jamais a colocaria em perigo e não me perdoaria se por um erro meu ou por ser egoísta o bastante para deixá-la algo viesse a lhe machucar fisicamente,pois de uma forma ou de outra havia ferido seu emocional.
    Nunca fui o tipo de pessoa que omiti os fatos ou que esconde a verdadeira realidade de tudo que nos cerca,mas desde que conheci Katrina e decidi lhe colocar em minha vida minha percepção mudou,meu corpo extinto protetor gritou mais alto que a verdade. Assim como um vilão das histórias em que muito li em minha infância,também possuo pontos fracos que podem ser usados para me afetar de uma forma irrevogável,esses pontos fracos podem causar minha destruição se algo lhes acontecer. Não tenho domínio de meus atos quando me sinto ameaçado, não tenho controle de nada quando prevejo o caos se aproximando. Sou ser humano,cometo erros todos os dias e aprendo com eles,sou humano a ponto de não enxergar até onde meu impulso poderá me levar,sou humano até o ponto de perder quem amo. Prefiro lhes ver distante, prefiro tudo isso ao envés de acordar todos os dias e ter a consciência de que não poderei lhes ver e muito menos lhes tocar.
   Ao ter o carro atravessando os enormes portões de meu endereço, suspirei pesadamente ao finalmente ter a consciência de que terei de assumir uma pose seria o suficiente para enfrentar os questionamentos de minha namorada, encorajada para lhe explicar nos mínimos detalhes o que me levou a perder toda a noção do que estava fazendo. E no momento em que abri a porta daquele carro e subindo os curtos degrais da frente daquela casa que muitos invejam e gostariam de possuir,ergui minhas mãos até a maçaneta e a girando podendo ouvir o mais completo silêncio.
    Katrina certamente estaria em casa,porém o mais provável é de se encontrar no quarto portanto um livro em suas mãos e os olhos presos nas entrelinhas com palavras que formavam uma de suas histórias preferidas. Mas ao adentrar a sala de estar,me surpreendi ao encontrá-la sentada no sofá enquanto tinha sua cabeça no encosto enquanto a tinha jogada para trás tendo lágrimas molhando seu rosto avermelhado. Deixando meus pertences no canto daquele ambiente e me aproximei sentando-me ao seu lado,uma de suas mãos estava sobre sua barriga e um gemido escapou por entre seus lábios maltratados por seus dentes que faziam pressão para descontar algum sentimento que percorria seu corpo. Katrina estava com dor.

     — Amor...me diz o que está sentindo! — tocando em seus cabelos úmidos, certamente pelo suor em sua testa,suspirei preocupado e com o sentimento de culpa dominando minha mente,pois se estivesse ao seu lado,teria a certeza do que está acontecendo e como proceder.

     Então, parecendo ter percebido minha presença somente no momento em que me pronunciei e toquei em seus fios úmidos,Katrina girou sua cabeça em minha direção e abriu os olhos que antes se encontravam fechados. Com a mão que se encontrava apertando o estofado a cada suspiro, ela a direcionou até encontrar a minha e lhe apertou cravando as unhas enquanto deixava mais um gemido escapar,porém esse teve um grau maior.

     — Por favor... Bryan! — gemeu mais alto e naquele momento não pensei em mais nada,apenas me levantei e peguei em meus braços.

    Katrina se encolheu contra meu peito,sua mão permaneceu em sua barriga e seus olhos se fecharam ao morder,mais uma vez, seu lábios inferior. Sua pele estava perdendo a cor,sua testa ficando cada vez mais úmida e sua respiração desregulada podia ser ouvida de forma clara, tão clara que tive a certeza de que era intenso o seu sofrimento.
    Ao sair de casa e me aproximar do carro no qual o motorista da minha empresa se encontrava, sustentei o corpo trêmulo de Katrina com um único braço e abri a porta traseira e entrei com ela ainda em meu colo. E sem um questionamento,somente com um olhar no espelho retrovisor,o homem já em uma idade avançada intuiu que deveria seguir para o hospital e que não deveria demorar ou se preocupar com os radares que faziam a segurança dos motoristas pelas ruas.

     — Não deixa... Por favor, não deixa, Bryan! — em murmuros sôfregos, Katrina implorava em meio ao gemidos e apertos em meu braço que contornava seu corpo e mantendo em meu colo.

     — Não vou deixar,eu prometo meu anjo! — mesmo não tendo conhecimento do que ela me pedia, não tenho conhecimento do porque de seus pedidos,lhe prometi!

      Não sei dizer quanto tempo, não sei se foram muitos ou poucos,apenas senti o alívio me atingir ao ter a porta sendo aberta ao meu lado pelo motorista. E com ela cada vez mais pálida, seus olhos sem o brilho radiante que tanto amo e a respiração entrecortada, adentrei aquele prédio chamando a atenção de algumas pessoas,entre elas estavam dois enfermeiros que não tardaram em se aproximar com uma cadeira de rodas.

     — O que houve com ela? — uma das profissionais questionou examinando brevemente minha namorada enquanto o homem guiava e cadeira pelo corredor extenso.

     — Não sei! Apenas cheguei em casa e a encontrei nesse estado — com afobação e um cárdio cada vez mais acelerado, expliquei.

     Ao nos aproximarmos de uma porta com as letras em vermelho dizendo ser a emergência, tive meus passos interrompidos pelas mãos da mulher posicionada a minha frente sem me tocar. Sabia que não poderia seguir com eles,sabia que deveria esperar naquele lugar que sempre caracterizei como o sofrimento do ser humano em situações como essa. Ter de ficar em uma sala de espera é uma tortura para cada um de nós,ainda mais não sabendo o que estará acontecendo com quem amamos.

     — Aguarde na sala de espera! Trarei notícias o mais rápido possível — me tranquilizou com um olhar amistoso e compreendendor de minha afobação.

      Não teria muito o que fazer, não poderia ficar com minha namorada e muito menos teria notícias por esses estantes, então apenas me submeti a afetar suas orientações. E me sentando em  uma daquelas poltronas também em tonalidade brancas,assim como as paredes desse hospital, apoiei meu braço sobre meus joelhos tomando uma postura curva ao cobrir meu rosto com minhas mãos. Deveria aguardar notícias.
    Diferente do que imaginei encontrar quando chegasse em casa,tive a decepção de vê-la sobre o sofá gemendo por uma dor desconhecida por mim. Preferia ter de encontrar um olhar decepcionado e uma série de questionamentos,do que lhe ver de tal forma. Meu peito se apertou com a cena.

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora