Abro mão para serem felizes

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  Olhava para aquelas paredes sem vida a minha frente sentindo a dosagem do medicamento desnecessário fazendo efeito,meu corpo estava completamente dolorido,minhas mãos e braços haviam diversas marcas das seringas que usaram para aplicar o calmamente em meu corpo,as diversas marcas roxas em meus pulsos por terem me amarrado alegando que estava surtando, estavam completamente visíveis.
  Não sei exatamente a quanto tempo estou nesse quarto,pois depois que consegui conversar com Bryan e Dante,os seguranças me impediram de sair desse quarto a mando do meu psiquiatra e psicológa. As visitas também foram proibidas com a desculpa de que meu caso havia piorado e que estava agressiva,o que era causados pelo alto nível de medicação que me fizeram ingerir.

  ____ Vocês não podem levá-la daqui senhores...____ as vozes do lado de fora desse quarto por mais alta que estivessem,o fato de estar sobre efeito de sedativos,se tornavam baixas e distantes,porem sabia que estavam se referindo a mim.

  ____ Não só posso como vou,tenho a autorização do juíz e provas de que estam usando medicação desnecessária com a paciência...____ mesmo com a porta sendo aberta,me mantive deitada naquela cama por estar fraca. As pessoas que certamente vieram se certificarem se estava viva ainda,se aproximaram abaixando a meu lado.

  ____ Trina?... Vamos te tirar desse lugar, você pode ir embora, gatinha____ Vitor,era meu melhor amigo e meu ex chefe que estava ao meu lado,porem sabia que ele não estava sozinho,tinha a certeza de que Bryan e Dante estava naquele quarto também,porem era impossível de me mover em suas direções____ vou fazer o possível e o impossível para destruir esse lugar. Se preparem para o processo que chegará em breve aqui,pois o que fizeram com essa garota é crime e se depender de mim, pagaram por tudo isso...____ era possível sentir a raiva em sua voz, Vitor estava disposto a acabar com a existência desse lugar como também está disposto a destruir a carreira de cada uma das pessoas involvidas com meu caso.
  Meu corpo dolorido e fraco foi erguido daquela cama por meu melhor amigo, somente assim pude confirmar que Dante e Bryan estavam ali acompanhados por seu advogado, alguns seguranças,minha psicóloga e o psiquiatra. Não queria ter passado por tudo isso, não queria ter tido a experiência de estar em um lugar como esse,mas se fosse para passar por tudo isso novamente pelo o bebê que me trouxe de volta a vida,eu passaria sem ao menos pensar duas vezes. Matheo é digno de cada dor que sofri nesse lugar, digno de cada lágrima que deixei cair ao sentir a solidão e o medo me sufocarem.
 
  ____ Agora tudo vai ficar bem,gatinha____ era somente isso que desejava no momento. Precisava do conforto da minha casa, precisa descansar para consegui me reerguer sem a companhia do meu garotinho. Era uma nova vida na qual sempre terá flashes da passada.

(...)

Depois de horas tentando recuperar as minhas forças, consigo me sentar na minha cama. Estava difícil de acreditar que estava mais um vez na minha casa, estava mais uma vez conseguindo respirar o ar mais puro e calmo, sentia a tranquilidade que meu lar transmitia para mim, espero nunca mais passar por algo daquilo novamente.
  Me pondo de pé ainda sentindo a fraqueza em meu corpo, caminho em direção a porta de meu quarto saindo e a fechando atrás de mim. Ao começar descer as escadas,pude ouvir vozes vindo da sala de estar, mas não precisava ser um gênio para saber de quem exatamente se tratavam as pessoas em minha casa.

  ____ Você deveria estar na cama, Trina...____ Vitor como sempre muito protetor, me repreende chamando a atenção de Bryan e Dante que estavam sentados no sofá enquanto Vitor voltava da cozinha com uma xícara em mãos,o que deduzir ser chá por saber que não suporta café.

  ____ Cansei de ficar deitada e estou morrendo de fome...____ como bom amigo que é, Vitor deixou sua xícara de chá sobre minha mesinha de centro enquanto me ajuda a me sentar na poltrona vazia.

  ____ A quantos dias você não se alimenta? Está muito magra...____ seria difícil responder a pergunta de Dante,pois nem mesmo sei em que dia estamos.

  ____ Não sei...que dia é hoje?____ Bryan que até momentos atrás estava apenas me encarando calmamente, transformou seu olhar em raiva e culpa. Ele certamente deveria estar pensando que se não tivesse me colocado naquele lugar, nada disso teria acontecido.

  ____ Sexta-feira, quatro dias que você nos pediu ajuda...____ não neguei estar surpresa,pois pela forma deplorável que me encontrava,era possível saber que a exatamente quatro dias que fiquei trancada naquele quarto ficando praticamente todos os dias inconciente devido ao uso de medicamento.
  Aquele lugar e os funcionários estaram vivendo um inferno com o processo que Vitor abrirá contra ambos.

  ____ Vou preparar algo para você comer... E não se preocupa, se depender de mim,colocarei todas aquelas pessoas involvidas na prisão____ apenas assenti o vendo sair da sala entrando na cozinha.
  Por um estante pensei que estaria condenada a morrer naquele lugar,pois seria exatamente isso que me aconteceria se ninguém tivesse me ajudado,porem há uma coisa que não se encaixa em tudo isso e que também não está me deixa tranquila; geralmente esses lugares funcionam de acordo com seu nível de desequilibrio, você não seria medicado caso não necessitasse do uso dos medicamentos. Porque exatamente comigo, resolveram quebrar as regras? E porque gostariam de me ver cada vez pior ou até mesmo morta? A única certeza que tenho em meio a tudo isso, é saber que há alguém por trás disso.
  Ao ouvir um chorinho de bebê,desperto de meus pensamentos deixando evidente minha feição confusa e curiosa,porem ao olhar para Dante e o encontrá-lo sorrindo em direção as escadas, descubro exatamente de quem era aquele choro e de onde vinha. Com meus pensamentos, não havia percebido que Bryan havia saído da sala de estar e muito menos que descia as escadas com Matheo em seu colo.
  Ao vê-lo de mais perto, sinto meus olhos arderem junto as lágrimas que se formavam de saudade do meu pequeno. Por mais que Matheo estivesse com o pai,ele nunca deixaria de ser meu bebê,nunca deixaria de ser meu filho. Olhando em minha direção, Dante sorri ao perceber que estava morrendo de saudades daquele bebê, ninguém poderia negar que eu amava aquele garotinho, isso era algo que não merecia dúvidas.

  ____ Quando te tiramos daquele lugar, passei na minha casa para pegar o meu filho pois sabia que estaria com saudades desse garotinho...____ ao se aproximar de mim em passos lentos, Bryan o coloca em meus braços cuidadosamente e se senta ao lado do melhor amigo.
  Deixando um soluço escapar por entre meus lábios, seguro em suas mãozinhas tendo a visão do meu bebê com o rostinho vermelho devido o choro de minutos atrás. Deixando a sopa de legumes que havia feito sobre a mesinha de centro, Vitor se senta na outra poltrona de frente a mim enquanto mantinha o mesmo olhar que Bryan e Dante.

   ____ Me Desculpa pequeno? Não sabia que estava te tirando do seu pai, não sabia que estava causando tanta confusão ao te adotar...____ mesmo com a voz embargada por estar chorando, sussurro para o bebê que estava quase dormindo em meus braços.
  Sabia que para por um fim no vínculo que tenho com esse bebê, teria que ir embora dessa cidade,porem não poderia voltar para minha antiga. Desde que me tornei dona de minha forma de pensar,passei a encarar meus problemas de frente, passei a ver que toda ação tem uma reação,mas entre encarar esse problema e ir embora da cidade por não suportar a ideia de que seria a última vez que veria esse bebê, prefiro a segunda opção. Não sou covarde,pois se alguém estivesse em meu lugar, tivesse passado por tudo que passei, saberiam que a dor de perder um segundo filho é agonizante.
  Me levantando da poltrona entregando Matheo para Bryan,saio daquela sala de estar secando as lágrimas que ainda molhavam meu rosto com intensidade. A brisa fria da noite ao bater em meu corpo,me fez arrepiar da cabeça aos pés. Me sentando no jardim de trás da minha casa, deixo os soluços saírem mais alto do que antes.
  Por anos vive de acordo com as regras de meus pais,vive como uma prisioneira dentro daquela casa que nunca pude chamar de lar,tive a pior infância da minha vida, suportei milhares de dores diferentes,perdi muito mais que o sentido de ser feliz,eu havia perdido um vida. Meus pais destruíram uma parte de mim,meu ex destruiu a outra,mas ao encontrar aquele bebê em minha porta, senti que poderia ser feliz novamente, e estava sendo até o tirarem de mim, porém não sinto raiva e nada do tipo, sei exatamente qual é a dor de se perder um filho e não deixaria que isso acontecesse com Bryan. Mesmo se não tivesse vindo atrás de mim, teria levado Matheo para o pai assim que descobrisse a verdade,por mais que esteja doendo em mim,fico feliz em saber que um pai estava novamente com seu filho. Eu abro mão para serem felizes....

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora