Antes do resgate, tudo pode acontecer

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   Se ver em um momento como esse,estar frente com pessoas que desejam destruir a vida alheia e enxergar o ódio em seus olhares pode lhe fazer pensar em como o ser humano pode ser digno de desprezo,em como o mundo é repleto de elementos e seres tóxicos. Percebemos quando estamos entre a linha da morte e da vida, percebemos que tudo que fizemos ou deveríamos ter feito não seria muito o que se pensar,pois enquanto colocávamos meio mundo sobre uma balança,o arrependimento estaria a desequilibrando do lado oposto. O que realmente quero dizer é que, enquanto exitamos em fazer algo que pode ou não nos trazer consequências,o tempo passará e o arrependimento poderá surgir.
   Agora,amarrada com minhas mãos para trás enquanto me encontrava deitada sobre o colchão velho,me perguntava quanto tempo havia se passados desde que me jogaram nesse lugar,permiti minha mente buscar por respostas acolhedoras e esperançosas; precisava acreditar que Bryan estava procurando por mim,precisava me apegar na ideia de que havia alguém desejando o meu bem estar e minha volta.
    Ouvindo aquela porta velha ranger e um corpo alto adentrar aquele quarto,senti todos meus pelinhos se arrepiarem e meu coração disparar em batimentos incrivelmente rápidos,o que causava uma certa dor em minha caixa torácica. Meus olhos acompanharam seus passos,o viram se sentar na cadeira no canto daquele lugar imundo e o assistiu empunhar uma pequena lâmina cortante, tão afiada que seu corte brilhava com o reflexo da lâmpada acesa, pois era a única coisa capaz de dar um pouco de caridade para o ambiente em que nos encontrávamos.
    Então,com um silêncio torturante e seu olhar sobre cada centímetro de meu corpo,o tempo foi se passando se tornando em minutos e,talvez,em horas. Guilherme em momento algum se pronunciou;apenas adentrou aquele quarto,se sentou na cadeira o mais longe possível de mim e me encarou como se pensasse em uma forma de me machucar. Mas no momento em que a porta se abriu mais uma vez,soube que ele estava cumprindo ordens de meu querido e miserável pai,se é que deveria o chamar assim. Guilherme não tinha livre arbítrio de me tocar,ou sequer me ameaçar sem o conhecimento de seus comparsas.

     — Você está horrível! — com seu sarcasmo e um olhar superior a mim,o mais velho se abaixou próximo a mim.

     Me mantendo em silêncio,apenas desviei meu olhar do seu e encarei as paredes imundas e mofadas devido ao tempo de abandono daquele local. Não tinha uma localização exata de onde poderíamos estar,porém tinha um noção de que estávamos o mais longe possível da cidade, estávamos em uma possível mata desconhecida por todas as pessoas que poderiam fazer o esforço de me procurar. Tendo um pouco do conhecimento racional desses dois homens que viveram um certo tempo ao meu arredor,diria que não ficaríamos nesse lugar por muito tempo,seria questão de tempo para nos deslocarmos para algum outro lugar, certamente mais decadente que esse.
    Sentindo sua mão tocar em meu rosto fazendo uma leve pressão em minha bochecha enquanto tentava fazer-me lhe encarar, aquele homem sorriu de forma imunda, de forma que fizesse minha mente gritar e meus órgãos desejarem ter uma falência imediata. Ele era meu progenitor,mas seu olhar e sorriso mostrava o quanto estava desejando me tocar.

     — Guilherme... Saia! — exigiu em um timbre alto o bastante para assustar o outro,esse que apenas suspirou e se retirou sem olhar para trás.

    Permitindo as primeiras lágrimas molharem meu rosto,me soltei de seu toque e me encolhi contra a parede fria. Trazendo minhas pernas juntamente a meu corpo em forma de proteção,pude lhe ver abrir seu sorriso macabro e se afastar buscando pela cadeira onde Guilherme estava a minutos atrás. Era um joguinho psicológico que estava sendo feito, aquele desprezível estava me assombrando e me dando a certeza que poderia fazer o que quisesse comigo.

     — Sua mãe também se encolheu desta forma,também chorou em silêncio enquanto aguardava meus próximos atos — contou cruzando os braços sobre o peito — vocês são tão iguais! Duas ingênuas que acreditam na inocência humana,duas covardes com medo de revidar as ameaças, duas idiotas que se apegam facilmente. Katrina, você nunca poderá ser como eu — riu em negação.

     — Como você? Jamais gostaria de ser um porcento como você,nunca gostaria de me assemelhar a algo que você possua...— engoli o nó preso em minha garganta,porém as lágrimas continuaram.

     — Você é meu maior arrependimento... Você e a idiota da sua mãe — proferiu seguro do que dizia — não se perguntou onde ela estará? Não se perguntou o que pode ter acontecido?

     Então, novamente pude encontrar aquele primeiro olhar; encontrei um certo arrependimento se manifestando em seus olhos. Apesar de inflar o peito ao dizer se arrepender por ter tido um relacionamento com sua esposa,meu progenitor não conseguia disfarçar o sentimento confuso que vivia dentro de seu coração amargurado. Não era amor ou sequer uma paixão,mas era algo longe da minha compreensão e,talvez até mesmo a sua.

     — Não, não me vi na necessidade de me questionar por alguém que ne desprezou,alguém me humilhou e destruiu parte de meus sonhos. Alguém que não se importou com as minha feridas e minhas dores, não me vi na necessidade de saber sobre uma mulher sido desejou minha morte — com os olhos pesados em lágrimas que embarcavam minha visão, desabafei sentindo tudo aquilo me sufocar.

     Não precisaria perguntar por onde anda aquela mulher, não era necessário ser um gênio para descobrir - por trás de seu olhar - que havia feito algo que causou a morte de sua esposa. O tão admirável senhor Tedesco não passava de um assassino psicopata que controlava e monitorava todos o meus passos, não passava de um ser desprezível que sustentou uma máscara por anos e resolveu a revelar tentando contra a vida de sua família. Se me considero sua filha? Não,no momento em que descobri que valia tudo aquilo que poderia lhe oferecer,passei a lhe desprezar da mesma forma que fiz com a mulher que me deu a vida.

     — Acredita que ela se arrependeu? Praticamente me implorou para não ferir a filha. Patética,mas compressível! Sua mãe era uma idiota que tentou me parar e acabou se ferindo — revelou olhando para algo além daquele chão imundo. Sua mente estava lhe levanto ao momento em que tudo aconteceu — Não estava em meus planos,mas para que tudo ocorra como o planejado é necessário removermos os obstáculos.

     — Você é louco! Um maldito psicopata que jurava amor em um dia e no outro, apunhalava a própria esposa. Essa era a sua forma de amar? — questionei forçando-me a me sentar sobre aquele colchão — você é um doente sem causa,um lunático que destrói tudo o que toca para depois procurar uma forma de remediar seus atos. No fundo você sabe...sabe que não precisaria matar sua esposa, sabe que carregará as lembranças em sua mente e sabe que irá enlouquecer com todas as imagens. Você está morto, apenas não aceitou — um sorriso nasceu em meus lábios.

    E pela primeira vez em toda minha vida,pude encontrar aquele homem abalado por algo que saiu de minha boca,algo verdadeiro e que ele sabia. Era necessário apenas as palavras corretas para que sua pose de destemido viesse a se desmoronar e a culpa caísse sobre seus ombros. Ele poderia afirmar com seu ego inflando dentro de corpo,porém assim como eu,ele também sabia que ter ferido dia esposa o enfraqueceria,sabia que não era tão forte quanto pensava. Ter assassinado sua mulher se tornou o pior erro de sua vida.

     — Assim como tentaram fazer comigo... Você irá se sucumbir em um absmo, irá se jogar esquecendo das cordas para sair. Tudo o que você fez comigo,irá pagar com suas piores escolhas.

    Embora esperasse uma outra reação vinda dele,apenas lhe vi se colocar de pé e se encaminhar para fora daquele quarto batendo a porta atrás de si. Mesmo que tenha sentido um alívio ao lhe ver abalado daquela forma,sabia que nada terminaria assim, não seria tão fácil como poderia imaginar.


Sem revisão!

um bebê em minha vida[Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora