CAPÍTULO 37: NÃO HÁ LUGAR COMO O CEMITÉRIO

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O ar daquele fim de tarde estava gélido, principalmente estando no cemitério principal e mais antigo, Saint Rose. Apesar de ser um lugar peculiar e incomum para alguém passar o tempo, Thomas adorava o sentimento melancólico, a arquitetura e a estética antiga e vistosa de lá. Além de o confortar.

No outono, a paisagem ficava mais fúnebre e com um toque ligeiro de beleza, mesmo sendo um tipo de beleza atípica de se pensar. Com as árvores de galhos secos, as folhas alaranjadas e avermelhadas pelo chão, e as lápides que não seguiam uma ordem certa. As estátuas velhas de mármore, gesso e pedra de anjos, tinham uma expressão desolada e lastimosa, que carregavam nas costas o desconsolo das almas presas no local que gostariam de ser libertadas.

— Então ela fez mesmo? — a voz de Dennis saiu pelo celular de Thomas, os pixels da câmera travando um pouco.

— É o que tudo indica. Depois do que eu e Bella ouvimos, acho que não existe mais dúvida — Thomas rabiscava no caderno.

Depois de visitarem a clínica Planning Together, Thomas pediu para Bella deixá-lo em Saint Rose, onde ele poderia ponderar e esquecer a tensão do momento.

— Mas eu ainda quero entender o porquê Kath escondeu isso. Ela sabe que a gente não a julgaria — Bella estava deitada em sua cama, com um olhar forte e questionador com suas sobrancelhas grossas e claras próximas dos olhos.

— Deve ter a ver com esse tal cara de moletom azul que a garota grávida contou pra vocês — Susan continuava internada, na cama de hospital, um pouco cansada e abatida.

Houve um silêncio em seguida, com todos matutando.

— Mas que merda é essa? Uma cova? — Andy interrompeu a quietude, com a boca cheia de biscoito. — Você está no cemitério?

Thomas deixou subir uma das sobrancelhas. Todos encararam com os olhos semicerrados para a câmera de Thomas, na direita.

— Estou, Andy. E daí?

— Nada, cara. Só diga para Anthony Rodwell que não foi o mais garanhão da cidade como ele achava e não tinha essa bola toda — Ele deu uma piscadela.

Todos soltaram risinhos abafados, revirando os olhos. Anthony Rodwell é conhecido como o cara que casou com mais mulheres na cidade, tendo treze filhos no total com apenas trinta e oito anos, envenenado em 1872 por uma das ex-esposas. Ele foi enterrado em Saint Rose no mausoléu da família, Rodwell, considerada confusa por conta dos boatos da cidade, desde aquela época, de incesto para que a família mantesse o "sangue puro".

Eles se despediram, ainda com a puga atrás da orelha, e encerraram a chamada de vídeo. Thomas suspirou em meio ao ruído do vento, do movimentar das folhas e dos assobios dos pássaros. Eles poderiam estar bem perto. Esse cara de moletom azul poderia ser o assassino e pessoa da van. E para Katherine esconder, deveria ser algo tenso. Seria ele um homem mais velho? Um garoto da escola? Um conhecido que Thomas via todos os dias? Ou alguém totalmente desconhecido, vindo do nada?

Um corvo pousou em uma das lápides, o que fez Thomas dar um pulinho por conta do lugar estar tão silencioso. Mas em seguida, teve o estalar de um galho. E depois de passos se aproximando. Ele agarrou seu caderno e sua bolsa, pronto para se levantar e começar a correr. Porém, a pessoa que estava de pé em frente a ele, o impediu.

Layla pôs o cabelo amarelo encaracolado por cima do ombro. Seus olhos verdes se destacavam devido a sombra preta e o delineado de gatinho. Usava um vestido jeans escuro com um corset e meia-calça arrastão com botas que chegavam até seu joelho.

— Ei! Achou que era um fantasma? Estava batendo um papo com eles por aqui.

Na verdade, Thomas achara que era a pessoa da van, pronta para pegá-lo desprevenido.

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