CAPÍTULO 24: É APENAS UM RELÓGIO QUALQUER

21 2 95
                                    

          Na hora do almoço, na escola, Thomas Carson estava sentado em uma das mesas redondas sozinho, adiantando a tarefa de casa de química que foi passada naquele dia de quarta-feira. Ele tentava manter o barulho da cantina distante, focando apenas no livro e no caderno, tamborilando a caneta sobre as folhas.

          Por que era tão difícil se concentrar? Ele costumava ser bom naquilo. Pensava que eles fizeram o certo em obedecerem a pessoa da van e parar com tudo. Eles não podiam brincar de detetive achando que haveria um final feliz e que o quebra-cabeça se fechasse. Não podiam entrar nesse sistema que fez Katherine ser assassinada. Ela não gostaria que eles morressem, não é? Além do mais, estava começando a envolver até suas famílias. Desde que pararam de se encontrar para falar sobre todo esse caos, também parou cartões ameaçadores e visões de vans pretas os rondando.

          A cabeça dele estava tão cheia desde a morte de Kath e quando a mãe dele chegou na cidade só fez piorar. Tinha uma respiração cansada e pesada, noites em claro se perguntando o que tinha acontecido com sua melhor amiga e voltando na noite de sua morte. Ele fechou os olhos. A pessoa com o sobretudo preto com capuz arrancando o punhal escondido e enterrando no peito de Katherine. O grito abafado e desesperador. O corpo dela sendo arremessado da ponte, aterrissando no lago. A conversa constrangedora com Brenda na frente da sua casa. Quando ele foi em Nova York, naquele lugar horroroso e encontrou Os Trigêmeos Fogo. Quando teve que roubar a sra. Young...

          De repente, Thomas rabiscou com a caneta no caderno, fazendo riscos para lá e para cá com muita força, rasgando o papel.

          — Opa! Alguém não está muito bem.

          Ele abriu os olhos e moveu a cabeça rapidamente. Lyla Drake estava de pé diante dele, com sua bandeja vermelha do almoço sobre as mãos. Ela usava uma peruca de costume, com as cores preta e roxa separadas ao meio, os olhos de gatinho por causa do delineador, o batom vermelho cor de sangue nos seus lábios carnudos e vestindo um fantástico espartilho de couro.

          Thomas tentou falar algo, mas as palavras saíam sem som algum.

          — Tem alguém aí? — Ela apontou para o lugar na mesa em frente de Thomas e ele fez que não com a cabeça. Layla sentou, com uma cara de curiosidade sobre o papel rabiscado e rasgado, mordiscando seu sanduíche.

          Arrumando o cabelo preto azulado, Thomas se perguntou se deveria falar algo. Ele espiou por sobre o ombro de Layla. Andy estava flertando com a garota nova que estava na sua turma de química, Allie Moore, mesmo o sr. Geller se confundindo a chamando de Allan. Para Andy era tão fácil falar com garotas, o que Thomas fazia de errado? Ele queria muito convidar Layla para a festa de Halloween da escola que aconteceria daqui a algumas semanas.

          Thomas pigarreou.

          — Então... você... hã... tem um belo cérebro. — Ele pensou mais um pouco. — Quer dizer, você é muito inteligente, não quis dizer que o cérebro nojento e grudento é... — Thomas percebeu que Lyla parou de mastigar. Que idiota fala de coisa nojenta para alguém quando está comendo? — Me desculpe, eu...

          Lyla riu, o interrompendo.

          — Você é engraçado quando está nervoso. Por que fica assim quando eu estou perto?

          Ele corou. Ela tinha percebido?

          — Acho que a forma do átomo não é desse jeito. — Lyla lançou o olhar para os rabiscos de Thomas. — Mas achei o seu bem mais criativo. Abstrato, talvez.

          Thomas soltou um risinho desconfortável, fechando o caderno.

          — Acontece que... — Ele suspirou. — tudo ainda está me deixando exausto mentalmente.

Os Cinco CêsOnde histórias criam vida. Descubra agora