— Não acredito que essa parada é séria — Andy pisoteava em círculos pelo palco do auditório na penumbra enquanto acariciava o queixo, querendo parecer o Sherlock Holmes da atualidade. — Mas Julian não é gay?
Susan olhou feio para Andy quando notou o nariz de Dennis fungar, escorado nas escadinhas de madeira do palco.
— Andy! — Ela sussurrou delicadamente. — Agora não.
Thomas deu um leve empurrão no braço dele, com as sobrancelhas franzidas.
Vinte minutos atrás, Bella mandara uma mensagem no grupo de conversa deles dizendo para encontrá-la no auditório. Thomas teve que dar essa desculpa esfarrapada para o sr. Trabelsi da caneta estourada e sair no meio da aula de química justo na parte mais interessante para a prova do mês que vem. Ainda bem que o professor era um dos seus fãs e ele seu aluno preferido, sendo assim, responderia com prazer suas perguntas posteriormente.
Então, era bom que Bella tivesse uma razão consideravelmente plausível para tal inoportunidade. Mas como havia imaginado, Dennis já estava lá porque não apareceu na aula e todos o rodeavam com um semblante estático.
O negócio era aparentemente gravíssimo mesmo. E realmente era.
Essa ideia de Julian ser o namorado misterioso e possivelmente o pai do provável bebê de Katherine e talvez o assassino psicótico era inesperado e surpreendente, considerando que ele era um belo exemplo de garoto "politicamente correto". Parecia uma realidade paralela de algum tipo de filme de ficção científica impossivelmente possível em um mundo distópico. Ou um romance distorcido de Agatha Christie. Eram muitas possibilidades.
— Ele foi minha primeira vez, vocês sabem — disse Dennis, com a voz muito baixa e falha. — Foi a melhor coisa que aconteceu nesses meses, não é possível que tenha sido mentira.
Os olhos de Susan estavam marejados, mas secou uma lágrima de Dennis que havia caído, cruzando suas mãos com as dele.
Houve um breve silêncio, mas Thomas o quebrou para tentar dar o mínimo de esperança para Dennis.
— Tá, então estamos nos baseando por um mero moletom azul? Só pode ser brincadeira. Quem garante que esse é o que estamos procurando?
Andy deslizou do palco e apanhou a peça de roupa cuidadosamente colocada sobre uma das poltronas como se fosse uma relíquia valiosíssima que acabara de ser roubada do Museu do Louvre.
— Cai na real. O cara que estava usando fugiu de mim no Skating Juice e por isso derramaram milk-shake de chocolate nele — Ele praticamente esfregou na cara de Thomas. — Quantos caras fujões que têm um moletom azul manchado de chocolate você conhece, hein? — Thomas se calou, sem saber rebater. — Foi o que eu pensei.
Thomas odiava ser contrariado. Principalmente se fosse por Andy. Mas ainda não fazia sentido. Como se uma peça de quebra-cabeça estivesse danificada e não pudesse encaixá-la com as outras. Qual seria a motivação?
Eles descansaram o olhar em Bella. Sentada ali na beira do palco encerado e aromático, balançando as pernas de maneira alternada, e encarando o carpete vermelho-escarlate que acobertava todo o piso da plateia. Ela tinha prendido e desprendido o cabelo ondulado bagunçado pelo menos umas quatro vezes, e amarrado e desamarrado o cadarço do seu All Star sujo de cano alto vermelho duas vezes e meia.
— Ei! — Susan arrastou-se para mais perto dela. — Está muito quieta. O que acha disso?
Bella piscou inúmeras vezes e os mirou com um semblante diferente, ilusório e distante até. Mas aí, sorriu de um jeito inocente e envergonhado, com a mão cobrindo os dentes, como se tivesse feito algo errado. Thomas repentinamente teve um rápido vislumbre das crianças do orfanato que faziam exatamente a mesma coisa. Seus risinhos reverberando ao longe quando caçoavam da governanta.
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Os Cinco Cês
Mystery / ThrillerSe você passasse o olhar superficialmente pela cidadezinha bucólica e pitoresca, River Valley, apreciaria a beleza natural e o clima acolhedor. Mas se você se aprofundasse, veria que nada é o que parece ser. Pessoas que desapareceram sem deixar nenh...