CAPÍTULO 4: OS SENTIMENTOS DE DENNIS

46 3 11
                                    

Dennis estava do lado de fora da formosa igreja de River Valley. Aquele lugar lhe dava arrepios e sensações estranhas, mesmo sendo um ambiente que era para ser de paz e tranquilidade.

Não acreditava no que estava acontecendo. Justo Katherine? Claro, não desejava a morte para ninguém, nem mesmo para o seu terrível pai que morrera. Acontece que ela era uma pessoa completamente viva e alegre, queria realizar seus sonhos e ajudar pessoas necessitadas. Um ser humano tão bom que merecia muito mais.

Não existia forma de agradecer o que Katherine fez por ele e sua mãe.

Todos sabem que a vida de homossexuais não é fácil e isso não era diferente para Dennis. Até porque são praticamente obrigados a falarem sobre sua orientação sexual. Ele duvidava que algum hétero iria chegar para a família e dizer "Tenho algo sério para falar. Eu sou heterossexual".

Dennis assumiu para todos que era gay quando tinha doze anos de idade. Seu pai suspeitava, - porque a família sempre sabe, porém não querem admitir para si mesmos - mas não tinha a certeza.

A vida de Dennis virou um inferno depois que se assumiu. Seu pai o espancava por nenhum motivo aparente, apenas por maldade e sua mãe passava maquiagem nos lugares onde havia hematomas. Sua mãe o aceitava do jeito que era, mas não tinha coragem de intervir nos espancamentos, já que o seu marido também a batia frequentemente.

Nenhum lugar era seguro para Dennis, nem mesmo na escola, onde era provocado diariamente. Recebia vários apelidos pejorativos em relação à sua sexualidade. E o que os professores faziam? NADA. Eles viam e pensavam que era só uma "brincadeira" e que não devia ser levada a sério. Claro, porque eles não eram abusados psicologicamente.

Mas um dia, Katherine percebendo o que acontecia, ficou indignada com a postura dos professores. Ela conversou com Dennis e disse que tudo iria ficar bem. Era tudo o que queria ouvir.

Ela falou com os seus pais que conversaram com o diretor da escola. Eles eram ricos e poderosos, claro que ele iria ouvi-los.

Os pais de Katherine o pressionaram para punir os agressores e também de criar um evento na escola de antibullying. Mas eles não poderiam ajudar no inferno que ele passava em casa que só sua amiga sabia. Ele não queria que mais ninguém soubesse.

Em um dos espancamentos mais violentos do pai de Dennis, senão o pior deles, sua mãe gritava e suplicava para o pai parar. Mas ele não a ouvia e falava que ele iria matar ela e seu filho se não parasse de agir feito louca.

O avô de Dennis estava lá na hora e também falava para o maldito homem parar, mas o velhinho não poderia fazer mais nada além disso por causa da idade.

"EU VOU LIGAR PARA A POLÍCIA", a mãe de Dennis gritava. Ele falou que se ela fizesse isso, iria mesmo matar todos ali presentes.

Numa reação desesperadora, a mãe pegou na bancada da cozinha uma faca e a enterrou nas costas de seu marido que caiu no piso segundos depois.

Dennis estava em choque. Não conseguia ver quase nada, mas obviamente sabia o que estava acontecendo. Seu pai, que nem era para ser chamado assim, morreu. Seu inferno acabou.

Não comemorava a morte daquele homem, que para ele parecia um desconhecido. Mas também não parava de pensar que sua vida iria mudar para melhor.

Katherine o ajudou em tudo. Absolutamente tudo. Seus pais ajudaram a pagar a conta do hospital junto com a mãe de Dennis e também a pagar ao advogado. Não acreditava que sua mãe poderia ir presa, mas consideraram homicídio por legítima defesa.

Agora o lar de Dennis poderia realmente ser chamado de lar. Graças à Katherine sua vida mudou para melhor e ele faria de tudo para descobrir quem matou sua amiga.

Um choro invadiu seus pensamentos diante da igreja. Um choro muito familiar.

Sra. Castello estava saindo do seu carro estilo cupê junto com seu marido. Seu rosto estava todo enrugado e seus olhos inchados pelas lágrimas. Seu cabelo castanho avermelhado estava um pouco desgrenhado.

Sr. Castello estava do lado da esposa, parecia que estava a segurando para não cair. A feição do rosto dele estava tristonha e recaída. Tentando confortar a Sra. Castello, aparentava que ele também precisava de conforto.

- Oh, Dennis. - a sra. Castello abriu os braços para abraçar Dennis quando o viu.

- Sr. Castello e sra. Castello, eu sinto muito. Não sei o que dizer para melhorar os seus sentimentos diante de um acontecimento horrível. - Dennis baixou a cabeça - Talvez não há.

- Está tudo bem, rapaz. Também não temos palavras para lhe dizer. Você era um dos melhores amigos de minha filha, deve estar sentindo a mesma dor que nós. - um dos melhores amigos... então eles conheciam mesmo as pessoas que presenciaram a terrível coisa que Dennis também presenciou.

- Vocês são pais, não imagino a dor que estão sentindo.

- Mesmo perdendo Lucas, a dor de perder Katherine é a mesma. Meus dois filh... - a sra. Castello não conseguiu terminar a frase, pois o choro veio em seguida. O sr. Castello a abraçou.

Lucas era o irmão mais velho de Katherine. Ele morreu aos dezessete anos, quando ela tinha apenas onze.

- Eu e George gostaríamos de falar com você e os outros amigos de Katherine antes de terminar o funeral. - a sra. Castello falou após conter as lágrimas.

- Claro, eu os aviso para a senhora. E o que eu puder fazer para ajudar os senhores, podem me dizer.

- Obrigada, querido. - disse a sra. Castello antes de dar um aperto carinhoso na mão de Dennis e entrar na igreja com seu marido.

O que será que ela queria falar com ele e com os outros amigos de Katherine? Será que vai ser estranho falar com eles? Porque desde aquela noite horrível não se viram mais. Óbvio, eles não eram amigos, só tinham Katherine em comum. Bom, na verdade nem mais isso tinham em comum.

Os Cinco CêsOnde histórias criam vida. Descubra agora