CAPÍTULO 39: LEVE-ME À IGREJA

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Novamente no quarto de hospital, no outro dia, Dennis tamborilava seus dedos no porta-copos no braço do pequeno sofá situado abaixo da persiana aberta. Ao olhar para baixo, o grande jardim do Shine Wings Hospital se encontrava impecavelmente organizado, coincidindo com a vista bucólica de montanhas, montes e árvores coloridas que estavam prestes a congelarem com a chegada do inverno.

Dennis fechou o zíper enferrujado do agasalho cinza até o peito, deixando sua clavícula marcada à mostra, forçando para não rir com o que via na tela do celular.

— Ai, meu Deus, Andy. Seu vídeo viralizou como GIF no Instagram, Twitter e TikTok — Ele levantou o celular no ar, para que Andy pudesse ver do outro lado da sala, seu GIF no exato momento em que Allie despeja milkshake por sua cabeça.

Andy deu de ombros.

— Pelo menos continuo bonito.

Bella estava sentada na dura cadeira verde ao lado da cama de Susan, inclinada com as pernas abertas e os cotovelos apoiados nos joelhos. O seu longo cabelo ondulado de cor caramelo sempre estava partido ao meio, desleixado e desalinhado.

— Qual parte do cuidado com o que você faz você não entendeu? Se fosse comigo, eu matava a pessoa e depois me matava.

Susan continuava um pouco debilitada, mas melhor, era o seu último dia no hospital. Ela tinha sua cabeça encostada nos travesseiros, o que deixava seus pequenos cachos escuros mais volumosos.

— Não seja tão arisca, Bell. Eu ficaria um pouquinho envergonhada, mas acharia muito fofo e romântico.

— Não sei de onde você tirou coragem para fazer isso. Ah, lembrei! Você é um sem-vergonha. É a sua cara ser jactancioso — Thomas tomou um ar brincalhão, ajeitando a franja do cabelo liso pro lado direito na toca preta.

Andy ergueu o dedo indicador.

— Certo. Primeiro, eu não faço a mínima ideia do que essa palavra significa. E, segundo, se você tivesse esse rosto e esse charme — Ele apontou para si mesmo, dando uma virada de cabelo —, você também não desperdiçaria sendo acanhado. Vou ser o chef mais bonito e com mais fama do que um superstar.

— Isso é autoconfiança misturada com autoestima ou apenas soberba junto com arrogância? Porque preciso de um pouco emprestada — Thomas rebateu.

Dennis se levantou, indo até o centro e cruzando os braços com toda a sua postura atlética, vigorosa, ereta e rígida.

— O que importa mesmo é: — Ele se direcionou para Andy. — Você realmente viu esse misterioso de moletom azul?

— Sim, eu vi. Mas pode ser qualquer um. Um moletom azul é algo tão...

— Genérico — Thomas completou, encarando o nada com os olhos vazios e sem vida.

Susan tocou no braço de Bella, mordendo o lábio inferior.

— Ahn, Bell? Você desapareceu na mesma época que os sumiços começaram. Será que isso pode ter a ver? — Ela perguntou da forma mais empática e suave possível.

Bella suspirou pesadamente.

— Não. A polícia constatou que o meu caso foi isolado. Francis Price era só um cara solitário e doente que viu a filha dele em mim. Ele não teve nada a ver com isso tudo. E também já está... morto.

Ela os havia contado que Francis se matou semanas depois de ter sido internado em uma clínica psiquiátrica em outra cidade. Dennis lembrava muito bem quando tudo começou a desabar em River Valley.

O primeiro a desaparecer foi Billy Lee que estava no seu último ano escolar, filho da sra. Lee, professora de história da escola. Quase ninguém deu a mínima na época porque Billy era encrenqueiro e tinha fugido de casa algumas vezes. Mas dessa vez ele não tinha deixado uma carta e quando se passaram seis dias, o tempo máximo que ele já ficara fora, os pais se preocuparam pra valer e comunicaram a polícia. Uma semana depois, uma professora substituta inexperiente do Sacred Heart School, evaporou inexplicavelmente depois de sua primeira aula no colégio católico, que não tinha nenhum motivo para "fugir", pois sua vida estava dando certo e se sentia realizada.

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