Eles haviam esquecido que eram humanos. A escassez de fé que cada um da Beta Vermelha carregava lhes fez focar numa vida automática. Seus únicos propósitos eram resgatar sobreviventes e eliminar os Mantus. Não conversavam, não riam, mal conseguiam ver o colega com quem dividiam o quarto. Isso até o incidente com Zero.
E, de alguma forma, isso era cômodo. Não precisavam encarar certos pensamentos e culpas, por conta de se perceberem apenas como máquinas cujo objetivo era trazer esperança para o mundo, e possivelmente um futuro. Eram apenas peões num tabuleiro de xadrez, onde parecia ser quase impossível abater o rei do adversário, mas jogavam da forma que conseguiam, abatendo lentamente as demais peças, e sacrificando algumas das suas, na esperança de, ao final, conseguir um checkmate.
Não se preocupavam com magoar uma pessoa, pois não tinham contato com ninguém além do profissional; não se preocupavam com relacionamentos, pois não se inseriam no futuro que vislumbravam; não buscavam uma diversão, pois, enquanto eles sorriam, muitas pessoas estavam a mercê dos Mantus; também não se preocupavam em matar os Mantus, não lhes passava pela cabeça que eles um dia foram humanos – é muito mais fácil tratar com frieza algo quando se abstêm de uma informação que simplesmente não se quer aceitar, não é mesmo? E grande parte da fama da Beta Vermelha vinha desse comportamento. Eram extremamente frios e calculistas, pareciam até serem robôs projetados pela Divisão Verde para atuarem no lugar de humanos e executarem as missões.
Porém, por mais que essas carcaças fossem bem duras, durante as missões eles não permitiam que um ou outro ficasse para trás. Mesmo atrás de palavreados grossos, diferenças de idéias e outras coisas, existiam pequenas formas de demonstrarem quanto se importavam uns com os outros. Embora se sentissem máquinas, eles possuíam pequenos comportamentos que lembravam o mundo de que aquela equipe era unida por um vínculo muito forte de amizade. A missão com o desfalque de dois membros abriu os olhos de todos da equipe, a sua maneira. Eles estavam morrendo rapidamente enquanto salvavam os outros.
Talvez eles não tivessem o tempo de sorrir, de encontrar alguém, não formassem uma família. Era uma equipe de situações de alto risco, todos os dias estavam lidando não só com a vida de outras pessoas, mas com as suas próprias mortes. Oito e Zero perceberam isso quando ficaram presos na S.J.Y por causa do cansaço de Zero.
Não só Zero, mas todos estavam fisicamente cansados. Nunca saíram das missões, estavam estressados, treinavam demais, discutiam estratégias demais, mas não conversavam entre si.
A união de Oito e Zero foi um ponto positivo para a equipe, pois começaram a abrir os próprios olhos, e perceberem que, mesmo com todo o treinamento que receberam, ainda eram os mesmos que chegaram. Ignorar tudo o que aconteceu e tudo o que estava acontecendo não apagava a queda da nave dos pais de Zero e Sete, não traria a família de Cinco de volta, não cobriria os olhos de Oito enquanto era recolhida para a nave, não faria com que Um esquecesse os presidiários condenados à morte sendo expostos à mutação Mantus e mortos assim que estavam completamente mutados. Porém, esses acontecimentos reuniram uma equipe de alta qualidade.
Por exemplo, se Oito e Zero não tivessem ficado em ordem de repouso por causa da extrema preocupação de Zero com as mutações, Sete não teria deixado à vista de seus colegas seus sentimentos por Oito. E essa bola de neve os trouxe ao dia de "folga" dentro das proteções da S.J.Y.
Os estrategistas da equipe estavam discutindo planos, tentando ignorar esses acontecimentos citados acima, quando foram notificados com urgência pela Oito. Deixaram a sala de computadores de Dois e Quatro e direcionaram-se para fora do prédio da S.J.Y.
Oito persuadiu-os com tudo o que fora descrito anteriormente, fazendo com que eles compreendessem o quão ruim essas atitudes eram e como poderiam ferir gravemente a equipe. Influenciado por Oito com muito sucesso, Nove decide conversar com Silver e pedir um tempo de descanso para a equipe.
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APOCALYPSE
Ciencia FicciónPor onde passo, vejo pânico. O mundo que você conhece, para mim não existe mais. As cidades foram tomadas por seres que perderam sua humanidade, que infectam as pessoas quando são mordidas por eles. Nós ainda não sabemos como isso tudo começou, e ta...