Sete e Oito atualizaram-se sobre as missões da S.J.Y assim que foram liberados pela equipe médica da Divisão Azul. Estavam curiosos sobre as missões no Brasil, já que havia se passado um bom tempo desde as perturbações mentais de Oito.A situação no Brasil havia sido bem complicada. Como o esperado, havia muitas concentrações de Mantus em áreas muito grandes. O trabalho de extermínio desses mutados era muito difícil, mesmo utilizando as granadas.
Para a missão obter total êxito, seria necessária a presença de pelo menos metade das equipes da S.J.Y. Porém, uma infestação a nível mundial dessas mutações não podia ser deixada de lado para atender apenas um local – principalmente depois da baixa em massa na original central da S.J.Y.
Porém, onde há Mantus, há sobreviventes – é uma frase que Silver gosta muito de usar. As equipes conseguiram resgatar um número consideravelmente grande de pessoas, e os azuis que participaram do resgate trataram de encontrar mantus recém infectados. Muitos foram realocados nas ilhas protegidas pela organização, mas um número grandioso começou os treinamentos para tornarem-se agentes.
Quem ganhou com esse resgate foram os Azuis. Grande parte dos novos agentes estavam direcionando seu treinamento e seus estudos para essa divisão. Poucos brasileiros tornaram-se vermelhos ou verdes.
Para trabalharem em conjunto com agentes que pertenciam a outros países, todos os agentes da S.J.Y são obrigados a aprender o básico do inglês. Não são obrigados a abandonar seus idiomas originais, mas precisam conseguir conversar com seus colegas (já que dentro da S.J.Y todos trabalham misturados, como a Beta Vermelha).
Levaria um tempo até que os sobreviventes brasileiros estivessem aptos a atuarem dentro da organização, e também havia muitos agentes precisando de cuidados médicos. Por essa razão, as equipes estavam em período de repouso.
A Beta Vermelha entrou em estado de proteção da organização – pelo menos, uma parte da equipe. Quatro, Três, Dois e Um usaram esse tempo para fazer as projeções de apresentação dos sistemas de segurança. Enquanto os outros patrulhavam a Divisão Azul durante a madrugada, as reuniões e melhorias do novo sistema de segurança tinham andamento.
Cinco, Seis, Sete, Oito e Nove separavam-se nos corredores da Divisão Azul para vigiar e deter algum Mantus ou algum humano em desespero. Não estavam vestindo proteções para não assustarem os sobreviventes que ainda estavam em estado crítico, mas sabiam dos riscos de terem mutados entre os agentes internados.
Durante a patrulha, Oito observava Sete. Ele parecia ser o Sete de sempre, frio, calculista e bem centrado em sua missão, mas algo nele lhe chamava a atenção. Ela o observava com mais atenção, tentando descobrir o que era. Seus traços pareciam normais, não havia diferença alguma, mas por alguma razão o olhar dela era atraído na direção dele.
De tanto observar-lhe, passou a reparar o corpo de Sete. Ela sempre o admirou por cuidar-se demais e definir os músculos – o que a cada dia fazer acreditar menos que os dois tinham a mesma idade –, mas hoje seus olhos o viam de outra forma. O corpo dele ainda mostrava algumas marcas das lutas contra ela. Oito sabia que tinha criado cicatrizes físicas e mentais nele que não desapareciam de forma alguma, e isso a destruía por dentro.
Lembrava-se do que Um havia lhe dito.
- O Sete é um cara que viu a garota que ele amava sorrir e amar o melhor amigo dele. Ele viveu com essa culpa, e com esse sentimento de não ser importante para ninguém
(...)
Ele quebrou o coração diversas e diversas vezes só para te ver sorrir de novo, e por último quase arrancou a própria vida para tentar salvar a sua.
Ela não conseguia acreditar que não havia percebido tudo o que Um havia falado para ela. Oito finalmente entendeu a gravidade de tudo que fez. Cada momento em que ela esteve sozinha com Sete parecia voar na sua cabeça, mesmo quando Zero ainda estava vivo. Enfim ela encontrara a explicação para o incidente na sala de treinamento com ele e Um.
Assim como Zero, Sete não suportaria perdê-la, e lutou com todas as forças que encontrou para mantê-la viva, mesmo quando ela gritava todo o ódio do universo por ele. Ela tinha machucado tanto ele buscando livrar do sentimento de solidão... Enquanto ele sabia que a garota que ele amava não estava em seus braços por amor. Ou... estava?
De alguma forma, ela gostava de estar com ele. Oito não imaginava que conseguiria sentir qualquer coisa por qualquer pessoa depois que perdeu Zero, mas se via admirando Sete, sem entender muito bem o porquê. Ela gostava de ser abraçada por ele, gostava de vê-lo adormecido, principalmente quando ele corava ao vê-la o observando.
Talvez, para Oito, após a perda de Zero, havia um tempo que ela não havia dado também: o tempo do seu coração. A sua mente se prendeu tanto a uma coisa que não podia voltar que ela mesma não percebeu que seu coração ainda estava agindo, e que estava encontrando alguém que também queria protegê-la, e que também entendia a dor que ela sentia por não ter mais a presença de Zero. Em seguida ela olhou para a própria mão, vendo o anel que Zero lhe dera antes de morrer, e reparou que Sete usava o mesmo anel.
Porém, Sete percebeu os olhares de Oito, e devolveu-lhe o olhar. O coração da garota se acelerou, ela não esperava ser notada – mas o tempo que ela deixou Sete tomar sua atenção foi longo o suficiente para ele perceber. Ela escolheu fingir não saber dos sentimentos dele por ela, e deixá-lo tomar seu coração para si (Na verdade, Oito temia que ele se afastasse se soubesse que ela descobrira sobre seus sentimentos). Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela iniciou a conversa.
- Mudou o cabelo?
- Não, Oito. Por quê?
- Você está diferente.
- Eu ainda não estou na minha melhor forma. Mas logo a rotina volta e o velho Sete volta com ela.
- Eu não disse que estava ruim, só que estava diferente.
Sete queria sorrir, mas não conseguia. Ele entendeu o elogio que Oito tentava fazer nas entrelinhas e isso o deixava sem jeito.
- Você também está diferente, Oito. E eu estou bem feliz que você esteja assim.
- Mesmo? Eu estava pensando em cortar o cabelo...
Sete balançava a cabeça negativamente, mas enfim abrindo um sorriso no rosto.
- Você não tem jeito mesmo, Oito.
O dia estava prestes a amanhecer, era hora de voltarem para seus dormitórios e outra equipe assumir a patrulha. Sete e Oito retornavam para seu dormitório – que estava arrumado e não lembrava mais o caos que havia se instaurado lá dentro – enquanto os outros procuravam suas camas e seus parceiros com muito cuidado(já que estavam dormindo).
Sete deitou-se na cama, já esperando que Oito o procurasse; mas Oito estava deitada na cama olhando para ele, com o rosto corado.
- O que foi, Oito?
- Eu não quero te atrapalhar, pode dormir.
- Aprendeu a dormir sozinha, então?
- Sim...
Sete se cobriu e Oito se encolheu nos cobertores. Ela realmente desejava abraçar Sete e não soltar mais, mas ao mesmo tempo tinha medo e não conseguia dormir. Apenas mantinha os olhos fechados na esperança de que Sete adormecesse logo.
Oito foi surpreendida ao sentir o calor do corpo dele próximo a ela. Sete havia se aproximado, e a abraçava gentilmente. Ela abriu os olhos, e ele estava sorrindo. Oito até podia estar fingindo estar dormindo e não querer se aproximar, mas era uma péssima atriz – e escondia seus sentimentos tão bem quanto Sete.
- Desculpe, Oito. Eu vou me sentir muito sozinho se dormirmos separados.
- Mas... eu...
- Não precisa ter medo, Oito.
Sete beijou a testa dela, e a garota aninhou-se nos braços dele; os dois adormeceram com alguns raios de sol entrando pela janela. Mesmo dormindo, Sete mantinha um sorriso no rosto, estava aliviado de ter seus preciosos momentos de volta e de receber um olhar de Oito que ele jamais imaginou que pudesse receber.

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APOCALYPSE
Science FictionPor onde passo, vejo pânico. O mundo que você conhece, para mim não existe mais. As cidades foram tomadas por seres que perderam sua humanidade, que infectam as pessoas quando são mordidas por eles. Nós ainda não sabemos como isso tudo começou, e ta...