Setenta e Oito

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Três meses se passaram desde que a Beta Vermelha tivera sua segunda ida ao território Brasileiro. Voltavam tão exaustos quanto na primeira vez, mas certamente quem estava mais desgastado de toda missão era Sete.

Sete manteve Oito sedada na maior parte do tempo, deixando-a acordada por algumas horas para comer e fazer suas necessidades. Precisava usar sua força bruta para impedí-la de causar algum ferimento a si mesma, muitas vezes ferindo ele. Era difícil fazê-la comer, principalmente quando estava extremamente agressiva. Ela jogava pratos e as vezes os talheres na direção de Sete.

Quando conversava com o médico, começava a chorar até que ficava mais calma. Isso era o alívio e a esperança de Sete de que tudo se resolvesse. Porém, não parecia haver uma evolução no quadro dela; toda vez que Oito estava tranquila, logo voltava a ser agressiva.

Por essa razão, Sete perdia suas horas de descanso. Ele temia que Oito acordasse num momento em que ele estivesse repousando e cometesse dois assassinatos, ou pior, cometesse suicídio e ele tivesse que acordar e ver a cena – o que, no quadro dela, era bem mais possível do que a primeira opção.

Ele já quase não possuía mais forças com ela, seus olhos estavam afundados, acompanhando as fortes olheiras. Seus músculos estavam cansados e ele já andava curvado para frente, não suportando mais nem mesmo ficar com a coluna ereta. Além disso, sua mente já estava afetada por todas as coisas rudes que Oito berrava quando estava acordada e totalmente fora de si. Sem falar nos cortes, arranhões e hematomas de lutar contra a força de Oito para deslocá-la pelo quarto, ou impedi-la de alcançar objetos pontiagudos.

Quem o salvava por algumas horas era 80. Ele se dispunha a deixar seu posto e cuidar o sedativo de Oito para que Sete pudesse dormir um pouco – muito pouco, pois 80 precisava fazer os exames nos agentes que estavam retornando de missão. Ele também levava café, almoço e janta para Sete – e muitas vezes Oito quebrava seu prato e não o deixava comer.

Sete só implorava para que tudo aquilo acabasse, e já estava até mesmo cogitando deixar que Oito tirasse a vida de ambos para poupar-lhes de tanto sofrimento. Ele mesmo não suportava mais ser tão odiado, e não tinha mais forças para lutar contra isso. Estava aceitando que sua amada tinha se tornado uma espécie estranha de Mantus, e que jamais a teria de volta.

Olhava para seu anel, que mais parecia uma espécie de aliança. Aquele anel era o símbolo de uma conexão. Anteriormente, quem possuía o par daquele anel era Zero; hoje estava nas mãos de Oito. O par de anéis pertencia aos avôs de Zero e Sete, seguido de seus pais, eles, e Oito. Simbolizavam uma parceria, uma família, uma relação de carinho.

Sete se lembrava de seu pai e Zero contando-lhe a história daqueles anéis. As duas famílias eram muito amigas, por várias gerações criaram-se unidos como uma só família. Aqueles anéis serviam para lembrar que não importava onde estivessem, sabiam que havia alguém por eles no mundo; jamais estariam completamente sozinhos.

Agora aquele anel lembrava-o também de que fizera uma promessa, e de que estava conectado à nova dona do par. Era esse objeto e todos os sentimentos e lembranças positivas que aqueles anéis carregavam que fazia Sete levantar-se e, mesmo em seu limite, lutar contra a loucura de Oito. Pelos momentos bons que ele teve com Zero, pelo amor e carinho que ele tem tanto por seu irmão como por sua família e por Oito, ele mantinha a esperança de que sua amada superasse o que estava acontecendo.

Assim que a Beta Vermelha retornou, foram diretamente para o dormitório de Sete e Oito, e se espantaram com a cena. Oito estava sedada enquanto Sete comia desesperadamente seu almoço, como se fizesse dias que não estivesse se alimentando – e fazia mesmo, Oito havia jogado pratos na parede e as marcas não mentiam.

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