Jerry me puxou por entre a multidão. Pessoas corriam por todos os lados tentando sair do colégio ou se esconder. A cada passo que dávamos o barulho as nossas costas se tornava maior. O que quer que fosse aquilo, com certeza estava atrás de nós!
Subimos milhões de escadas percorrendo áreas da escola que eu nunca tinha explorado e passamos por diversos corredores até chegarmos a um sem saída. O som de passos estava cada vez mais alto e foi seguido por um grunhido tenebroso, o chão tremendo tanto que lutei para me equilibrar. Se saíssemos do corredor naquele momento, com certeza não viveríamos muito tempo pra contar a história. Apesar do terror que fazia meu sangue gelar, a parte da minha mente que normalmente ficava sã em situações de tanto stress conseguia imaginar o que era aquilo que nos perseguia, mas não dava pra falar em voz alta, seria uma completa loucura! Jerry, que até agora tinha corrido bem demais para alguém que usa muletas, jogou-as de lado e começou a tirar sua calça jeans. Arregalei os olhos.
-Jerry, o que diabos você está fazendo? Agora não é hora para...
Então ele arrancou a calça pelos pés e o que eu vi me deixou totalmente abismada.
Pernas de bode.
Jerry tinha pernas de bode!
Isso só pode ser um sonho....
Porque uma única palavra piscava na minha mente atordoada.
-Sátiro! Você é um sátiro!
A palavra dita em voz alta tornando toda a loucura ainda mais real. E algo me dizia que aquela não seria a única surpresa nesse dia estranho.
-Não grite, por... Espera! Você não está assustada? Sério mesmo? – Jerry inclinou a cabeça, a calça sendo jogada em um canto do corredor, enquanto me encarava com confusão.
Bem, não que eu não estivesse assustada, mas a sombra enorme que estava se formando na entrada do corredor me apavorava muito mais do que as pernas de bode do meu mais novo amigo sátiro.
- Okay, então se eu não estou ficando louca e você é realmente é um sátiro, aquilo só pode ser...
Eu nem precisei de resposta. Tive a confirmação de minhas suspeitas quando uma criatura medonha apareceu na entrada do corredor. Ela possuía um rosto humano totalmente desfigurado com uma fileira de dentes afiados saindo de sua boca que espumava de ódio, tinha uma juba de leão dourada enorme que contornava a sua face, seu corpo era de leão com garras afiadas nas patas e o pior era o seu rabo que se igualava ao de um escorpião com veneno verde saindo da ponta. Aquela criatura ganharia o prêmio de aberração do ano com toda certeza!
Jerry tentava, com todas as forças, abrir uma porta que ficava na lateral do corredor, porém a porta venceu e saiu intacta da luta. Mesmo com todo o barulho que Jerry fez o monstro nem ao menos virou o olhar, ele continuava se aproximando de mim cada vez mais e, depois de ter um pequeno flashback da aula de história, descobri como aquela aberração se chamava.
Manticore.
Essas palavras vieram a minha mente tão rápido quanto os passos que eu dei até chegar ao final do corredor. Jerry, que agora estava ao meu lado, procurava freneticamente algo nos bolsos de sua calça, sem tirar o olhar do monstro. Estávamos encurralados. Eu sentia meu coração bater na garganta, minha respiração saindo em espasmos curtos, enquanto o manticore se aproximava calmamente, percebendo que não tínhamos para onde fugir.
Eu podia jurar que ele sorria de satisfação.
- Acho que você está calma demais para uma pessoa que está prestes a ser morta por um monstro! – disse Jerry com uma risada curta.
Desviei os olhos para ele, indignada. Porque diabos eles está rindo? Até que percebi seus dedos envolta de algo que estava na calça.
- Acho que gritar e chamar por socorro não vai fazer grande diferença! – respondi, voltando meu olhar pra criatura – O que devemos fazer?
- Acho que só nos resta lutar! – disse Jerry, com um sorriso ainda maior e tirando algo de sua calça.
Prendi a respiração.
Então o manticore atacou!
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Realidade Imaginária
FantasíaE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...