Tec, tec...
Tec, tec...
Lápis no papel. Uma batida impaciente. Constante. E distante. Ao meu redor, plantas e colunas gregas se misturavam. O antigo e o novo.
Mas nem tão novo assim.
Luzes azuis, verdes e vermelhas refletiam os arbustos e suas donas, as ninfas, que passeavam despreocupadas pelo local. Eu as observava enquanto andava por um caminho estreito e longo com pedras douradas que lembravam o país de Oz. Será que eu estava lá? Constatei que não quando logo atrás de mim as portas de um elevador se fecharam suavemente, tão calmamente que apenas e ouvi. Continuei caminhando em frente até perceber que caminhar não era exatamente o que eu estava fazendo.
Meus pés não tocavam o chão.
Eu estava flutuando. Outra vez. Mas, diferente da viagem nas sombras, meu corpo cintilava em dourado. Milhares de símbolos, que não reconheci, flutuavam ao meu lado, formando uma espécie de barreira mágica. Ou será que eram eles que me faziam flutuar? O 'tec, tec' repetitivo do lápis tomou minha mente e meu corpo, que apenas obedeceu e seguiu o som.
Depois de minutos voando sempre em frente, o inacabável corredor se uniu com uma enorme sala redonda. Melhor, um enorme templo redondo, com colunas gregas que sustentavam um teto triangular que, como o teto dos chalés, possuía cenas em constante movimento de histórias e guerras gregas. Desviei o olhar das cenas no momento em que Zeus despedaçava seu pai, Cronos. Meio enjoada passei os olhos pelo templo branco e dourado que brilhava tanto quanto os astros no céu. Treze tronos preenchiam o local formando um semicírculo, cada um com sua grandiosidade e glória, mas com algo em comum: Todos eram esplendorosamente gigantes, com mais de cinco metros de altura. Se dividiam igualmente ao lado do trono central que se destacava dos outros pelo brilho majestosos que emanava, como se uma corrente elétrica passasse por ele constantemente. Era extraordinário e, ao mesmo tempo, perigoso. Um toque e "adeus mundo cruel". Meus olhos lacrimejavam e me forcei a desviar o olhar, aquele brilho me puxava como a um ímã, mas sentia que ficaria cega se continuasse olhando. Um silêncio mórbido pairava sobre o ambiente vazio, o farfalhar das árvores pareciam mais distantes do que realmente estavam.
Mas o que eu estaria fazendo ali?
Então, em uma fração de segundos, todo o templo foi tomado por um brilho amarelado, tão intenso quanto o sol. Mesmo não tendo fechado os olhos, não ceguei, pois o vento arrebatador que seguiu o brilho me fez tombar para trás. O brilho sumiu da mesma forma que apareceu, rápido e misterioso, deixando em seu lugar um homem tão alto quanto os montes e tão bonito quanto...bem, a beleza dele não poderia ser comparada a de nenhum mortal ou semideus, era extraordinária e exótica. Ele seguiu, com ar alegre e vitorioso, para um dos tronos e fez surgir a sua frente uma mesa tão grande quando o trono.
Tec, tec.
Tec, tec.
O lápis que surgiu em sua mão batia ritmicamente contra a mesa. O som familiar cada vez mais rápido. Até que cessou. Levantei abruptamente, sentindo os olhos do homem sobre mim. Gelei ao perceber que ele me encarava, pensativo, com um sorriso desenhado em seus lábios rosados. Sua atenção voltou-se para o pergaminho gigantesco pousado em sua mesa, despreocupado, e eu me permiti respirar novamente.
Ele não me encarava. Ele olhava através de mim, como se eu não estivesse ali. Suspirei, nada surpresa. Provavelmente eu não estava realmente ali. Eu mesma deveria estar dormindo tranquila na minha beliche no chalé de Hermes, mas minha mente, junto com meu espírito ou sei lá o que, deve ter decidido dar uma voltinha. E cá estava ele, no Olimpo, sem motivo aparente algum.
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Realidade Imaginária
FantasíaE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...