As dores que se estendiam por meus braços e pescoço eram intensas, mas me forcei a virar a cabeça lentamente para frente, percebendo que a garota que antes segurava meu outro braço também estava estendida no chão olhando abismada para a pessoa em minha frente. E eu estaria tão assustada quanto ela caso a minha felicidade não fosse maior do que a surpresa. Felicidade por ainda ter todos os dentes na boca e todo o sangue no corpo, felicidade por ter sido salva, felicidade por ter sido salva por ele, felici... Opa, o que? Me estapeie mentalmente pelo último pensamento, coisa que venho fazendo com frequência. "O importante era eu estar salva, não quem era meu salvador!", tentei me convencer, mas a alegria por meu 'herói' ser um certo semideus especifico parecia incontrolável em meu peito.
"O que diabos estava acontecendo comigo? Eu não sou assim!". Minha cabeça revirava, mas meus lábios não contiveram o sorriso involuntário que se abriu neles. Sorte que ninguém me observava, pois toda a atenção estava centrada no garoto postado a minha frente. Mesmo de costas, para mim, era impossível não reconhece-lo. Digamos que o di Angelo sabe como não ser esquecido. A tensão se estendia por todos o seu corpo e as mãos cerradas, com os nós dos dedos cada vez mais brancos, captavam a fúria que ele sentia. Os cabelos negros esvoaçavam descontroladamente, ora pelo vento frio da noite, ora pela aura negra de poder que contornava seu corpo, vinda do seu interior e tão forte e espessa que se tornava concreta e palpável. Nesse momento eu não queria nem imaginar como deveria estar seu rosto!
Eu permaneci de joelhos, sem forças para levantar, olhando fixamente para as costas de Nico e sentindo o frio que emanava cada vez mais dele. Um medo me invadiu subitamente e agradeci aos deuses pela fúria dele não estar voltada para mim. Até que ouvi a voz grossa e estridente da garota, se é que aquilo poderia ser chamado de 'voz de garota'. Ela soava furiosa, mas tremida, como se pela primeira vez estivasse começando a sentir medo de verdade.
- Di Angelo, saia da frente! AGORA! Tenho contas a acertar e você não tem nada a ver com isso!
- Só repito mais uma vez: Deixe... ela.... em paz! – Nico tentava controlar a raiva na voz e seus músculos ficavam cada vez mais tensos. A preocupação me atingiu quando vi a aura negra ficar mais espessa, se é que isso ainda era possível.
- Nem pensar! – rosnou a garota – essa órfã indeterminada vai pagar por ter cruzado meu caminho! – Ela berrou com tanto desprezo que senti meu coração arder e lágrimas se formarem em meus olhos. "Ela estaria completamente errada?". Mas percebi que suas palavras não atingiram só a mim. E sabia o porquê. 'Orfão' não era a palavra preferida de Nico.
- Bim bim bim, aviso: suas chances de ainda sobreviver diminuíram pra, vejamos, trinta por cento. – Ele andou de uma lado a outro, pensativo, e sua voz soou tão sarcástica que não contive uma pequena risada. Mas a dor que aquele pequeno gesto me causou fez a risada terminar em um gemido e eu
apertei minhas costelas, a dor latejante percorrendo meu corpo. E por um flash de segundo vi Nico desviar o olhar pra mim. Ele me observou da cabeça aos pés e vi o ódio voltar ao seus olhos gradativamente. Voltando-se pra brutamontes ele continuou: - Então é melhor você sair daqui agora e levar suas capangas com você. Quem avisa amigo é! Pensando bem, não, não sou seu amigo, e isso é mais uma ameaça que um aviso. – ele deu de ombros, o que fez a filha de Ares bufar.
- Nem morta! – Ela vociferou, e acabei descobrindo que se chamava Chris, pois uma de suas colegas caídas ao meu lado gemeu seu nome, praticamente suplicando que ela calasse a boca e fosse logo embora. Mas o tremor de medo que antes possuía a voz de Chris foi substituído pela raiva. Acho que ela não reagia muito bem a ordens. Mas não foi umas ideia muito inteligente ter dito logo aquelas duas palavrinhas.
Pensando bem, inteligência não é o ponto mais forte dos filhos de Ares.
Até consigo imaginar perfeitamente o sorriso torto e irônico de Nico que surgiu antes de suas palavras saírem.
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Realidade Imaginária
Viễn tưởngE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...