- Eu sou uma ... semideusa!
Jerry e Nico se entreolharam completamente assustados, enquanto eu sorria bobamente. A reação deles só serviu para confirmar minhas suspeitas.
- Ok, ok isso foi muito esquisito, garota! – falou Nico, voltando para perto de nós e me olhando com uma sobrancelha arqueada.
- Olha, Duda, você conhece sobre Mitologia Grega, certo? – Jerry, que ainda me olhava um pouco assustado, me perguntou e eu assenti, voltando um pouco pra realidade e já imaginando o que ele ia falar. – Então voc...
- E você vai me dizer que os deuses existem e que, às vezes, eles descem para a terra e tem "relações" com os humanos e dessas relações nascem os chamados semideuses. – Jerry e Nico ficaram com as bocas completamente abertas e os olhos arregalados. Segurei a risada e continue. – Jerry, disso eu já sei, só ainda estou tentando acreditar, mas o que eu realmente quero saber é: Eu sou uma semideusa?
Jerry continuava com a boca aberta, perplexo. Nico, que já tinha se recuperado do choque, fechou a boca de Jerry e disse ironicamente:
- Bem, Jerry, acho que você falou seu discurso meio atrasado, ela já sabe ele de cor. Melhor deixar pra próxima.
Jerry, que estava quase para abrir sua boca em um perfeito "O" novamente, se recompôs. Nico perdera completamente o espanto e a sua curiosidade era bem visível, ele olhava para mim tentando desvendar quem eu era e como sabia de todas aquelas coisas, porém a raiva ainda estava estampada em seu olhar.
- Sim, Duda, você é uma semideusa! Apenas semideuses conseguem ver os monstros como eles realmente são. – disse Jerry já recuperado do choque.
- Bem e alguns humanos bem especiais, como a Rachel por exemplo... – falou Nico pensativo. – Mas tiraremos a prova real se ela é ou não uma semideusa quando chegarmos lá.
- De qualquer maneira nós devemos ir agora! Vamos apenas passar na sua casa para ....
- NÃO! – respondi rápido e mais alto do que esperava – Não é necessário. Tudo o que preciso está na minha mochila. Eu não vou voltar lá, nunca mais!
Lágrimas insistiam em descer, porém segurei-as bravamente. Já tinha sido forte toda a minha vida e não seria agora que iria fracassar. Depois que minha mãe morreu eu fiquei sem chão, não tinha mais ninguém em quem eu confiasse. Minha avó morrera pouco tempo antes do acidente e com ela nosso segredo. Fui mandada para morar com minha tia, porém ela nunca me tratara bem, seus filhos me odiavam e seu marido me batia quase todos os dias, deixando marcas por todas as minhas costas. Tornei-me solitária e tendo apenas a companhia dos livros. Passava as noites divididas entre ler e chorar e prometia a mim mesma que assim que tivesse chance nunca mais colocaria meus pés naquela casa. Na minha mochila não tinha roupas nem mantimentos, porém tudo o que me importava estava comigo: meus livros, o anel de ouro dado por minha avó; o cordão de prata com meu sobrenome estava sempre em meu pescoço, me fazendo lembrar de minha mãe e ainda uma pulseira azul em formato de ondas com um tridente de prata estampado no meio e, junto com ela, estava o bilhete que recebi quando essa pulseira misteriosa apareceu na minha cama e nele dizia "Cuide bem dessa pulseira pois ela lhe será muito útil no futuro!" . Nenhum remetente, nada. Achei que poderiam ter sido alguns de meus antigos amigos, porém, alguns dias depois, ocorreu o acidente e perdi total contato com todos eles. De qualquer forma, guardei ela por todo esse tempo, pois eu sentia que, de alguma forma, ela realmente me seria útil no futuro, mesmo não sabendo como, e ela me fazia lembrar do mar, o melhor lugar do mundo pra mim, onde eu era calma e feliz.
Nico olhava para mim como se entendesse meus motivos de não querer voltar para aquela casa, como se entendesse tudo o que eu tinha passado na vida e , se a história dele era realmente aquela, ele tinha, sim, passado por, praticamente, todas as péssimas coisas que eu passei.
- Certo, você não vai voltar para lá e não precisa gritar. – falou ele com uma voz calma e compreensiva. – Então vamos. Até porque lá será dado tudo o que você precisar!
- Espera, aonde é "lá"? – perguntei, segurando o seu braço, pois ele já estava se virando para o final do corredor novamente. – Para onde a gente está indo?
- Você verá quando chegarmos lá! – falou ele sorrindo e puxando o seu braço de uma forma nada agressiva. Estranho. Ele se dirigiu para o final do corredor, mais especificamente para uma sombra pousada em frente à parede, e, sorrindo sarcasticamente, estendeu a mão para mim. Estremeci, pois já imaginava qual seria nosso transporte.
- Por favor, diga que nós não vamos pelas sombras.
- Que foi, Swan? Tem medo do escuro? – disse o moreno com sua voz carregada de ironia.
- Não é isso, idiota, é que... Ah, deixa pra lá! – segui até Nico, com Jerry logo atrás, porém hesitei antes de segurar sua mão. – Só mais uma coisa: Porque você insiste em me chamar de Swan?
- Bem, porque é divertido ver sua cara de raiva e porque é isso que o seu cordão diz, não é mesmo.... Swan?
- Touché! Mas todos me chamam de Duda então, como você não é especial, pode me chamar assim também, ok di Angelo! – disse pegando a mão de Jerry e a de Nico em seguida, sentindo o frio que ela transmitia passar pelo meu corpo. Ele se aproximou mais da sombra e, se virando para mim, disse:
- Eu não sou todo mundo, Swan!
E assim nós sumimos na escuridão!
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Realidade Imaginária
FantasiaE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...