Monstro ou não, eis a questão

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O garoto me olhou assustado, os olhos fixos nos meus enquanto abria e fechava os lábios, e soltou bruscamente minha mão, fazendo com que eu tivesse que me equilibrar rapidamente para não voltar ao chão. Meus joelhos quase cederam e o corredor girou ainda mais em minha visão, mas firmei os pés e o encarei irritada.

Não imaginei que fosse tão mal-educado! Tinha que ser filho de Hades!

Cruzei os braços vendo o corpo dele retesar e ele se afastar um passo de mim. Seus olhos tomaram um brilho de raiva e, virando-se para Jerry, falou entre dentes:

- Com que finalidade você disse meu nome para essa garota?

Porém Jerry, com um olhar assustado e focado em mim, disse, com uma voz calma e contida como se quisesse domar uma fera:

- Mas, Nico, eu não disse! Na verdade, ela nem deveria saber da sua existência!

Nico, que alternava o olhar entre mim e Jerry, focou seus olhos negros em mim e, aquele brilho de raiva, se transformou em ódio. Desembainhando sua espada negra, ele veio como um raio em minha direção e, quando percebi, já estava encurralada contra a parede, com uma espada gelada e afiada em minha garganta.

De novo.

- Diga o que você é! É uma hidra? Uma dracaenae? Você só pode ser um monstro para saber meu nome! FALE AGORA!

A cada palavra ele apertava mais sua espada contra mim e tive que ficar nas pontas dos pés para que minha cabeça continuasse grudada em meu pescoço. Já estava ficando sem fôlego, mas cerrei os dentes, meus olhos queimando em fúria diante das palavras cuspidas do garoto.

- Você está louco! Eu não sou um monstro! Me solta agora!

- ENTÃO PROVE! – ele gritou, fazendo minha cabeça girar.

Jerry estava aflito, porém não parecia ter coragem o suficiente para enfrentar Nico, então apenas gritava para que ele me soltasse, mastigando algo nervosamente. Minha cabeça estava a mil pensando em alguma forma de provar que eu era apenas uma garota comum. Ou o mais comum que eu ainda poderia ser. Senti a espada gelada que entrava cada vez mais no meu pescoço então me lembrei da adaga em minha calça.

Eu tinha que arriscar.

- Certo, você me pegou, eu não tenho uma prova concreta de que não sou um monstro. A única coisa que posso fazer é isso!

Minha mão seguiu em direção adaga, lentamente. Os olhos de Nico, que observavam cada movimento meu, percebeu o que eu estava tentando fazer e ele apertou ainda mais a espada, fazendo com que um filete de sangue escorresse pelo meu pescoço. Não parei. Peguei a adaga, sem desviar o olhar dos olhos negros e profundos de Nico, e estiquei-a, entregando-a a ele. Ele me encarou com curiosidade e, tirando a espada do meu pescoço lentamente, ele pegou a adaga e, com um olhar desconfiado, se afastou com passos contidos, provavelmente pesando em sua cabeça se aquilo era suficiente.

Um minuto. Dois. O silêncio era total. Eu respirava fundo, gozando do ar que voltava a entrar facilmente em meu corpo enquanto Nico me olhava com superioridade.

Nunca quis tanto bater em alguém!

- Bem, isso serve de prova....por enquanto! - Ele disse finalmente, guardando a espada negra e cruzando os braços com o queixo erguido.

Ri com escárnio, revirando os olhos. Que babaca!

Ouvi o rugido dele antes de perceber sua aproximação. Logo senti sua respiração batendo no meu rosto, seu corpo invadindo meu espaço pessoal e seus braços presos como ao lado de minha cabeça como grades de uma cela.

Meu corpo arrepiou por razões diversas.

Até sua voz soar baixa e gutural.

- Mas saiba de uma coisa: Eu estou de olho em você, Swan!

Ergui os olhos, a cabeça inclina em curiosidade por ele de alguma forma saber meu nome. Ele pareceu ler meus pensamentos pois, apenas sorriu ferino. Crispei os lábio e, tomada de uma coragem que vem somente com o ódio puro, prendi os dedos em sua jaqueta com força.

- Com toda certeza, di Angelo!

Um sorriso irônico surgiu no canto de sua boca e eu torci por meu coração acelerado significar um infarto, até que um "cof, cof" forçado interrompeu meus pensamentos. Jerry tossia fingidamente, fazendo com que voltássemos à realidade e, ao percebermos o quão perto estávamos um do outro, nos separássemos rapidamente. Nico estava sério, porém um leve rubor se destacava em suas bochechas. Logo imaginei que eu estivesse do mesmo jeito, corada. Jerry continuou:

- Ok, ela não é um monstro, ela já provou isso, que maravilha, perfeito. Agora, por favor, será que poderíamos sair logo daqui antes que outra criatura mitológica resolva nos fazer uma "visitinha"! – disse nervoso, pegando uma lata de refri vazia de dentro de sua mochila e mastigando-a sem parar. Com toda certeza ele deveria ter os dentes muito fortes!

- Tem razão! Vamos logo porque a viajem será longa. – Nico falou se dirigindo à parede no final do corredor sem esperar por resposta.

- Certo! Duda, vamos? Duda?

Não saí do lugar e nem percebi Jerry me chamando, estava totalmente envolta em meus pensamentos. Podia ser culpa da concussão, mas uma parte de mim não conseguia acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo: Um sátiro em minha escola, um manticore que tentou me matar e um personagem fictício que enchia minha paciência estava ali, na minha frente. Porém outra parte estava completamente feliz e eufórica, afinal era um sonho se realizando, pois, se tudo aquilo estava acontecendo realmente, só podia significar uma coisa:

- Eu sou uma....semideusa! 

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