Viajar nas sombras é estranho e fantástico ao mesmo tempo. Eu realmente não tinha medo do escuro, apenas receio do que podia encontrar lá. Okay, eu tinha, sim, um pouquinho de medo, mas nunca ia admitir isso na frente do di Angelo, claro. Porém eu achava a escuridão aconchegante e um pouco reconfortante, como se meu medo me desse coragem para explora-la, como se minha curiosidade fosse maior do que qualquer temor.
Quando entramos naquela sombra era como se o tempo tivesse parado. Tudo ao nosso redor passava mais lentamente, como se o próprio Cronos estivesse manipulando o espaço. Quando olhei para Nico percebi que ele não possuía mais um corpo e eu conseguia ver através dele. Continuava igual ao Nico chato e arrogante de sempre, mas era como um desenho sem cor; sua forma continuava, porém sua essência havia se esvaído. Ele era um fantasma com um brilho cinza que se estendia por toda a sua forma fantasmagórica, mas ele não era o único. Percebi que eu e Jerry estávamos da mesma forma, porém Jerry possuía um brilho verde que o envolvia e eu estava contornada por um brilho azul; era como se o mundo das sombras visse as nossas auras e não os semideuses por trás delas. O medo tomou conta de mim e um grito se formou em minha garganta, porém nenhum som saiu. Tentei chamar por Nico, mas foi completamente inútil e nesse momento eu percebi que nós não tocávamos o chão; até porque não havia chão para ser tocado. Estávamos flutuando rapidamente para frente em um completo vazio, sem limites, sem chão ou teto ou paredes, um poço sem começo nem fim. O medo se transformou em desespero e um nó se formou em meu estômago. Era como se nosso corpo tivesse ficado e apenas nossa alma pudesse viajar. E essa nem era a única coisa assustadora.
Enquanto as sombras me envolviam, pude ver vultos que nos rodeavam. Fantasmas que andavam lado a lado conosco, gritavam por socorro e se lamentavam pela vida que desperdiçaram e, quanto mais próximos eles estavam, mais frio se tornava o ambiente. Enquanto eu observava aquelas pobres almas, uma cena se formou nas sombras. No começo era embaçada, mas, depois de um tempo, percebi que era o dia do acidente que matara minha mãe. Eu não resistiria sentir tudo aquilo novamente, iria voltar a chorar e me mostraria fraca como todas as outras vezes. Meus olhos começaram a arder enquanto um soluço brotou de minha garganta; fechei os olhos, tentando de todas as formas esquecer aquele dia, e, sem perceber, apertei a mão de Nico. Pensei que ele soltaria minha mão na hora, mas o que ele fez me surpreendeu ainda mais. Enquanto eu afrouxava minha mão, pedindo aos céus para que fantasmas não pudessem ficar corados, ele apertou minha mão novamente de forma protetora e aconchegante, como se quisesse mostrar que nada ali poderia me fazer mal algum. Relaxei um pouco, porém continue com meus olhos bem fechados apenas sentindo o frio que os fantasmas e o próprio lugar emanavam, pedindo silenciosamente que aquela viagem chegasse logo ao fim, até que, de repente, uma luz invadiu as sombras e o canto dos pássaros dispersou os ruídos. Um aroma doce de morango invadiu o ar me fazendo sorrir, ainda de olhos fechados.
- Já pode abrir os olhos, Swan! – disse Nico, desentrelaçando nossas mãos com um tom de riso na voz. Quando abri meus olhos eles se focaram em Nico e, pelo olhar triste que ele tentava disfarçar, percebi que não havia sido a única a ver cenas de um passado que não queria ser esquecido.
Quando olhei em volta percebi que estávamos no alto de uma colina e cinco metros a nossa frente duas pilastras dignas de estruturas da Grécia Antiga sustentavam um arco que possuía uma escrita grega gravada, porém consegui lê-la facilmente. Minha razão ainda insistia em dizer que aquilo não era real, porém meu coração acreditou em cada palavra escrita ali, pois o meu sonho era estar ali, no Acampamento Meio Sangue.
- Eu...não...acredito! Eu estou realmente aqui? Isso é real? –perguntei, olhando alternadamente de Nico para Jerry, não conseguindo conter minha felicidade.
- Sim, é real sim, Duda.... Espera! Você sabe sobre o acampamento? Como?
- Sei sim! É que no....
Um rugido soou, impedindo a minha fala. Nico, que estava revirando os olhos por causa das minhas perguntas, ficou com um olhar preocupado.
- O que foi isso? – perguntei, já olhando para trás e vendo um monstro que apareceu alguns metros de onde nós estávamos. Parecia uma mulher, porém sua cara deformada e suas asas semelhantes as de morcegos deixavam claro que ela não estava ali para ser simpática.
- Acho melhor não ficarmos para descobrir, Swan! – disse Nico também olhando para trás e percebendo que a mulher morcego se aproximava rapidamente.
Nico pegou em meu pulso me levando em direção as pilastras. O monstro, que estava ainda mais perto, pulou em nossa direção, esticando as garras. Enquanto corria, olhei de relance para trás e vi o movimento da criatura ser interrompido bruscamente, como se tivesse esbarrado em uma parede de vidro. Quando olhei para o lado percebi que tínhamos acabado de ultrapassar um pinheiro com um dragão enroscado em seus galhos. "O Pinheiro de Thalia" pensei. Bem, o monstro tinha mesmo batido em uma parede invisível. Sorri aliviada enquanto o monstro continuava esmurrando a parede invisível que protegia o acampamento. Até que uma dor de cabeça insuportável me atingiu e eu senti meu sangue gelar.
- Oh não! - Jerry, que estava bem atrás de nós mastigando uma lata de Coca ferozmente, me olhou espantado, apontando diretamente para o meu braço. Quando olhei para ele percebi a marca de três garras com sangue misturado a um líquido verde saindo dela. Aquele morcego idiota geneticamente modificado tinha conseguido me arranhar antes que eu conseguisse ultrapassar a fronteira. Quando levantei a cabeça um cansaço me invadiu repentinamente, fazendo minhas pernas bambearem e minha visão falhar.
- Gente, eu não estou me sentindo muito bem!
- Que droga, já não bastava os sintomas da viagem nas sombras agora ela está com veneno de monstro no corpo. – disse Jerry aborrecido, mas eu tive que fazer um esforço sobre-humano para entender suas palavras, pois minha cabeça girava e parecia que ele falava grego, quer dizer...... ah, vocês me entenderam!
O ambiente ao meu redor ficou completamente embaçado e minhas forças sumiram, me fazendo cair, porém os braços fortes e frios de Nico me seguraram antes que eu chegasse ao chão e só me lembro de ouvir a voz suave e preocupada dele soando em meu ouvido.
- Você vai ficar bem. Eu prometo!
Então eu perdi totalmente os sentidos e desmaiei.
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Realidade Imaginária
FantasyE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...