Um sonho bem real!

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Eu estava em um quarto amplo e completamente vermelho. Não havia portas ou janelas, apenas diversos espelhos espalhados pelas paredes. O calor aumentava cada vez mais e a escuridão dividia o espaço com uma pequena luz que vinha do teto. Meus olhos se acostumaram com a pouca luz enquanto eu tentava me levantar. Estava no canto da sala, me apoiando nas paredes para ficar de pé, tentando controlar a vertigem que me atingira em cheio. Quando olhei para o lado, um espelho refletia a minha imagem. Eu ainda usava a mesma roupa do dia, com apenas uma diferença: A pulseira misteriosa estava em meu braço com as pedras azuis cintilando. Como ela viera parar no meu braço? E, principalmente, onde eu estou? Andei, quase tropeçando, até o centro do cômodo. Espelhos refletiam a mim em todos os lugares. A luz fraca começou a piscar, dando um ar de filme de terror ao local. Um frio repentino envolveu o quarto, junto com uma nuvem negra que entrou pelo meu nariz fazendo minha respiração vacilar. Um som soou do outro lado do cômodo. Minha coragem, que já estava fraca, diminuiu mais ainda.

- Olá? Tem alguém aí?

Sem resposta. Porém a fumaça negra começou a se dissipar, tornando visível a figura de uma pessoa no outro canto do quarto. Tentei ver através do nevoeiro e acabei reconhecendo a pessoa que vinha em minha direção.

- Mãe?

Um nó se formou em meu estômago. Alta, morena, cabelos ondulados da cor de chocolate, olhos mais brilhantes que estrelas. Ela continuava a mesma, porém diversos arranhões percorriam seus braços e pernas. Permaneci imóvel. Como ela poderia estar ali? Pisquei diversas vezes, esperando que a imagem de minha mãe sumisse, me deixando no vazio novamente. Porém ela continuava caminhando vagarosamente em minha direção. Perecia tão real. Eu necessitava que fosse real. Então ela sorriu, aquele sorriso que deixava o meu dia bem mais feliz, aquele sorriso que poderia acabar com as guerras e curar o câncer. Meu coração acelerou e lágrimas escorreram de meus olhos quando ela esticou os braços, me chamando. Não me importava se era real ou não. Apenas precisava sentir os braços dela ao meu redor, sentir o perfume adocicado que ela usava todas as manhãs, sentir o abraço que tanto me fazia falta. Eu necessitava daquele abraço.

- Mamãe! – Minha voz embargada saiu como um sussurro enquanto eu corria para os seus braços. Meu sorriso se abria mais a cada passo. Mas o sorriso de minha mãe se desmanchou repentinamente, dando lugar a uma expressão de raiva e acusação. Parei abruptamente, confusa e surpresa, e recuei, ainda fitando minha mãe, que em nada parecia mais com a mulher doce e carinhosa que eu conhecia. E ela continuava vindo em minha direção, agora com os punhos cerrados. Seus olhos encararam os meus e eu senti a ira que eles carregavam, mas seu tom de voz era neutro e calmo quando suas palavras soaram em meus ouvidos:

- Você! Você foi a culpada! Você me matou!

- Não, não é verdade! Mãe, não foi....

- Não venha se lamentar! A culpa é sua e você sabe disso! A culpa sempre será sua!

A cada passo que eu recuava, mais lágrimas encharcavam o meu rosto. A calmaria em sua voz sumiu quando ela proferiu as últimas palavras. Não queria creditar em suas palavras. Minha mãe nunca diria aquilo. Porém era a mais pura verdade. A culpa me invadiu enquanto soluços brotavam de minha garganta. A tontura voltou enquanto eu cambaleava para trás, até que mais pessoas surgiram de todos os cantos do quarto. Minha tia, seu marido e filhos jogavam torrentes de acusações sobre mim:

- Você é imprestável, garota! Nunca fez nada de útil e sempre será odiada!

- A surras que eu te dei não adiantaram nada! Você continua ridícula e rebelde! Precisa apanhar mais!

- Ninguém nunca vai te amar!

Minha cabeça estava explodindo. Não aguentava mais. De volta ao canto da parede e de costas para o quarto inteiro, eu chutava e esmurrava as paredes enquanto as lágrimas aumentavam. A cada murro, o espelho na parede se quebrava mais, fazendo sangue pingar de meus pulsos. Mas eu nem ligava. Apenas precisava sair daquele lugar. Precisava deixar de ouvir aquelas acusações que faziam meu peito querer explodir. Cada palavra era como uma facada em meu corpo. Até que um arrepio percorre meu corpo quando uma mão fria e familiar toca em meu ombro, me fazendo virar rapidamente.

- Nico!

Meus olhos brilharam de alegria. Mesmo tendo todos os motivos para ficar com mais medo ainda, meu coração dizia o contrário. Eu confiava em Nico. Esperava que ele fosse meu herói naquela hora, assim como ele sempre fora em meus livros. Porém, suas orbes negras que me encaravam carregadas de ódio, demostravam o contrário.

- Você não é nada e nunca será! Ninguém precisa de você!

Suas palavras causaram mais dor do que qualquer outra. Eu continuava atônita. Eu deveria esperar por aquilo! Mas porque não esperava? Porque as palavras de Nico foram as piores para mim? Minhas perguntas mentais foram interrompidas quando ele chegou mais próximo de mim e falou, com a voz seca e ríspida:

- Você deveria ter morrido, Eduarda!

Escorreguei pela parede de espelho, com os cacos de vidro caindo como chuva ao meu redor, sem ter mais forças para aguentar e, com as mãos nos ouvidos, disse entre soluços e lágrimas:

- Parem, por favor! Parem!

Porém, no mesmo minuto, percebi que aquele não poderia ser o Nico, não o real.

Por quê?

Ora, o Di Ângelo nunca me chamaria de Eduarda!

Quando abri os olhos novamente, a cena havia mudado. O quarto vermelho ficou para trás, dando lugar a uma caverna enorme e iluminada. A minha frente Nico lutava contra uma pessoa na qual não conseguia ver o rosto. Ele já estava completamente suado e, em um momento de descuido, ele baixou a guarda. O inimigo não esperou duas vezes e já preparava a espada para dar o último golpe em Nico quando um vulto passou correndo por mim e pulou na frente de Nico, recebendo o golpe. Era uma garota. "Que idiota!" pensei, até ouvir meu nome vindo da entrada da caverna. Quando a idiota tombou para trás, sendo segurada por Nico, eu percebi que a tal idiota era EU! Nico colocou-a cuidadosamente no chão, olhando de relance para um Percy que corria desesperadamente, vindo da entrada da caverna, gritando o meu nome, no caso, o nome dela. Até que ele passou por mim.

Na verdade, ele me atravessou.

Eu era apenas um fantasma. Porém, minha curiosidade para saber o que estava acontecendo com o meu eu humana era maior que o medo do meu eu fantasma. Me aproximei de Nico que falava angustiado, tentando estancar o sangue que jorrava do meu corpo.

- Swan! Swan porque fez aquilo? Você é louca? Não! Não feche os olhos! Não feche! – Nico gritava tentando conter as lágrimas.

- Di Angelo eu tive que fazer isso! Não poderia ver mais alguém morrer por minha causa! – Minha voz soava fraca e sem vida.

- Você não é culpada por morte nenhuma! A morte de sua mãe e de sua avó não é culpa sua! Eu não deixarei nada acontecer com você! Você vai ficar bem! – Percy, ajoelhado ao lado do meu corpo, tentava soar confiante, porém as lágrimas que desciam ininterruptamente pelo seu rosto mostravam que nada iria ficar bem.

- Percy... obrigada.. por tudo!- forcei um sorriso e olhei para Nico- Não aguentaria perder mais ninguém em minha vida....

-E você acha que EU aguento, Swan? – Nico agora gritava descontroladamente- Eu ordeno que você fique viva, entendeu? Isso é uma ordem! Nem ouse nos deixar! – Seu tom de voz diminuía cada vez mais enquanto sua voz ficava embargada pelas lágrimas contidas.

- Nico... eu... te....

Até que tudo ficou branco.

Uma dor excruciante encheu minha cabeça enquanto uma luz forte atravessava minhas pálpebras fechadas e um cheiro forte de sangue invadia minha respiração.

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