Let it go...ou não

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"Don't let them in, don't let them see
Be the good girl you always had to be
Conceal, don't feel, don't let them know"

Lembranças...

Porque não podemos simplesmente jogá-las fora quando não queremos mais usá-las? Porque elas sempre voltam para mostrar que fizemos coisas terríveis no passado? "Recordar é viver". Com certeza a pessoa que criou essa frase não sabia a droga que é recordar! E minhas lembranças estouravam feito pipoca em minha cabeça desde que acordei naquela manhã, desde aquele sonho completamente maluco. E o pior era saber que ele era mais real do que parecia!

Fechei os olhos pela milionésima vez tentando, inutilmente, deletar todas as minhas memórias. E a água fria que percorria meu corpo não funcionava em nada como antídoto, pelo contrário, cada gota trazia consigo uma lembrança que eu lutei para esquecer. Abri os olhos lentamente e fechei o chuveiro, sentindo uma última vez a água escorrer por meu corpo até o chão.

Porque? Porque os pingos não levaram consigo essas memórias estúpidas? Porque elas continuavam me martirizando depois de tanto tempo? Um vento suave entrou pela pequena janela do banheiro, fazendo-me arrepiar. Peguei a toalha fora do box, enrolando-me rapidamente. As gotas que permaneceram em meu corpo secaram lentamente enquanto eu vestia a roupa. Parei segundos antes de pôr a blusa, olhando-a detalhadamente. O Pégaso negro estampado no centro junto com as iniciais do acampamento destacavam-se facilmente no laranja da blusa. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. O que para muitos representava o uniforme padrão de um acampamento, para mim representava o símbolo de uma família. Uma grande família na qual eu era parte agora!

Vesti a blusa e me dirigi para o pequeno espelho quadrado que ficava sobre a pia branca, a alguns centímetros do box.

- Oh, droga!

Meu reflexo surgiu no espelho. Ainda era eu, porém uma tonelada de maquiagem tomava meu rosto por completo. Meus detalhes ainda estavam lá, mas com uma camada gigantesca de beleza cobrindo-os. Minha pele estava completamente limpa, sem cravos ou espinhas como era de costume uma adolescente como eu ter. Meus cílios mais curvados do que nunca e um leve batom bronze cobria meus lábios. Bufando, molhei meus rosto e esfreguei nele o pequeno sabonete que havia na pia. Nada mudou. Esfreguei com mais força. Nem o batom saiu do lugar. Repeti umas três vezes, mas eu continuava com a cara da Barbie. Bufei de novo.

- Muito obrigado Afrodite! Vejo que sua maquiagem é realmente de ótima qualidade! Não sai nem se uma bomba atômica cair na minha cara!

Ok, muitas garotas me chamariam de louca ou até mal-agradecida naquele momento. Quem não gostaria de ter uma pele perfeita pelo menos por um dia? Acho que as patricinhas do meu antigo colégio morreriam por isso! Mas eu não. Ficar com a cara totalmente artificial não fazia meu estilo. Os pequenos defeitos é o que nos torna nós mesmos, o que nos difere dos outros. Olhei para meu reflexo e suspirei. Ao menos meu cabelo continuava normal. Quer dizer, ele não secara e ficara perfeito magicamente, mas estava bem maior do que de costume. E, pelo que Lucinda disse, ele continuaria assim. Me conformando internamente, peguei a escova que tinha achado em uma das gavetas do criado mudo e desembaracei-o rapidamente, mesmo que ele estivesse completamente desembaraçado e perfeito. Velhos hábitos não mudam. Sorri abertamente enquanto a escova azul passeava facilmente pelos cachos. "Escovas azuis.", pensei, "Acho que virou obrigatório no acampamento!" .

- Ora, quem não iria querer essa 'arma poderosa'!

Prendi os cachos em um rabo de cavalo alto e ajeitei o cordão em meu pescoço. Fechei os olhos sentindo o metal frio com meu sobrenome gelar minha mão enquanto a brisa suave que saía pela janela fazia o mesmo em meu corpo e os pensamentos voltaram a borbulhar em minha mente. Especificamente, trechos da reunião com Quíron. Suas palavras soavam em minha mente enquanto eu sentia o medo tomar conta de mim. Medo do que eu podia fazer. Medo do que poderiam fazer comigo.

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