P.O.V Nico
Doze monstros em três minutos, esse com certeza é meu novo recorde!
Olhei ao redor e soltei a respiração em frustração, sentindo o sangue escorrer de um arranhão superficial em minha testa.
E não fez nem cócegas nesse mar de monstros!
Essa parte da profecia precisava ser assim tão literal?
Enquanto minha mente reclamava, meu corpo agia no automático. Desviei de uma criatura com asas negras cheia de penas como um corvo gigante, mas as patas pareciam de um felino. Àquela altura eu nem ao menos tentava discernir um monstro de outro. Harpias, fúrias, manticoras ou qualquer outra desgraça saída dos cafundós do Tártaro, todas pereciam em minha espada já encharcada de ícor e outras substâncias suspeitas. Com o corvo diabólico também não foi diferente. Ele passou rente a meu rosto, mas me abaixei por instinto e girei rápido, minha espada cantando contra o vento e se alojando com destreza no tronco da criatura que guinchou uma última vez e sumiu no ar, seus restos me acertando em cheio. Cuspi com repugnância e tentei limpar a espada na grama alta.
Treze em três minutos e meio. Hoje é mesmo dia de bater recordes!
Apesar da satisfação que me dominava a cada monstro destruído, o cansaço começava a se sobressair e ficava cada vez pior ao perceber que meus esforços pareciam em vão. A cada criatura morta duas pareciam tomar seu lugar e o mar de monstros já se igualava mais a um oceano! Além disso, todos os semideuses estavam espalhados pela clareira, escondidos no meio da horda negra que urrava e rosnava como uma multidão de demônios. Nos poucos momentos que consegui desviar minha atenção dos monstros (o que durava segundos!), tive vislumbres de cabelos negros curtos e uma espada de bronze que brilhava enquanto partia três monstros de uma vez e, a alguns metros de distância, alguém empunhando um martelo enorme, esmagando ossos e asas pelo caminho.
Percy e Leo.
Com preocupação percebi Percy cair ajoelhado quando os monstros sumiram em pó e, quando se ergueu, chiou ao tentar colocar o pé direito no chão, sangue escorrendo em jorros pela sua panturrilha. Tentei ir em sua direção, mas um novo monstro apareceu em meu caminho e logo perdi Percy de vista. Trinquei os dentes, matando meu novo oponente com uma agilidade louvável. Olhei ao redor mais uma vez, mas nenhum sinal de Percy ou qualquer um dos outros.
Nenhum sinal da Swan...
Senti meu coração errar uma batida ao pensar nela, mas afastei os pensamentos mórbidos. Ela é uma guerreira nata, sabe se virar. Não posso me distrair agora! Ela vai ficar bem. Tem que ficar bem!
Ignorei meu peito apertado e ataquei novamente, minha lâmina dançando por carne e ossos, se alongando e retraindo como se fosse parte de mim. Então um grito agudo elevou-se apesar da balbúrdia de rosnados e guinchos. Não foi tão alto e parecia mais irado do que dolorido, mas foi suficiente para me distrair por segundos. Senti minha garganta secar de desespero, meu corpo gelando e paralisando. É ela, só pode ser ela! Como pude tirar os olhos dela? Ela nunca enfrentou algo nessas proporções! Eu deveria estar perto, eu...
- SE ABAIXA, DI ANGELO!
Meu corpo reagiu à voz apesar da minha cabeça desgraçada estar definhando de pavor. Senti minhas pernas flexionarem, levando-me ao chão no momento que uma espada longa e afiada voou por sobre minha cabeça se fincando com perfeição no monstro que estava prestes a me atacar pelas costas. Respirei rápido, os arfares saindo curtos enquanto meus olhos se voltavam para meu salvador.
Ou melhor, salvadora.
Swan estava em pé a minha frente, o cabelo cacheado ondulando ao redor do rosto, o queixo erguido e o maxilar travado em ira enquanto os olhos verdes pareciam chamas verdes como fogo grego. Ela estava coberta de grama, sujeira e sangue, mas para mim ela era a própria personificação da beleza. Eu quase podia sentir a ira de Afrodite sobre mim pelos pensamentos espontâneos, mas nada importava a não ser a garota a minha frente que exalava uma áurea tão selvagem e imponente quanto uma Amazona. Ela desviou os olhos do local onde o monstro estava, a respiração profunda e entredentes, e sua feição apaziguou-se quando olhou para mim ainda sentado no chão com os olhos arregalados de surpresa. O sorriso dela me trouxe de volta para a realidade.
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Realidade Imaginária
FantasyE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...