- Filha de Set? Mas que tipo de xingamento...?
- Alssumtu, alwahsh! - Murmurou gravemente meu raptor apertando a mão ainda mais contra minha boca.
Meu ombro deslocado doía como o inferno o que fazia minha paciência diminuir cada vez que o sentia latejar. A espada fria se misturava com o sangue em meu pescoço e minha cabeça trabalha a mil em busca de uma forma de escapar daquele idiota. Já estava cansada de ficar em apuros até alguém aparecer do nada e me salvar. Não, desta vez eu faria algo, eu seria meu "cavaleiro de armadura brilhante" e ouvir as palavras sussurradas contra meu ouvido só me deixou ainda mais irritada.
- Você desloca meu ombro, põe uma espada contra meu pescoço, me insulta com palavrões que não existem e eu sou o monstro? - Minha voz saía abafada contra os dedos grossos dele, mas minha fúria era tanta que forcei minha voz alta o suficiente para que ele ouvisse claramente. - Melhor rever seu dicionário! E se acha que vou acatar sua ordem de ficar em silêncio, pode tirar o cavalinho da chuva!
Para mim minhas palavras não chegavam nem a ser ameçadoras, mais parecia uma garotinha fazendo birra, mas de alguma forma senti o peito que escostava em minhas costas se enrrijecer e a mão sobre os meus lábios se afastar lentamente. Não é que eu fui ameçadora afinal? Senti a respiração do ser vacilar contra meus cabelos.
- Espera, você entendeu o que eu..... AHHHHHHH!
As palavras surpresas dele foram substituídas por seu grito de dor que acabou espantando alguns pássaros das árvores próximas. Assustada, senti a espada se afastar do meu pescoço bruscamente e o calor em minhas costas sumir. Sem perder tempo chutei o joelho de meu opressor fazendo-o gemer de dor novamente e me afastei a máximo que pude dele. Meus pés quase tropeçaram nas folhas e pedras, mas me ergui rapidamente e tirei o tridente da pulseira. Em segundos Tríaina, minha espada, estava entre meus dedos, brilhante e mortal. A adrenalina repentina fez efeito anestésico em meu ombro, diminuindo um pouco a dor latejante, e agradeci aos céus pelo idiota ter deslocado meu ombro esquerdo e não o direito assim ainda conseguiria lutar. Ofegante ergui os olhos para a cena em minha frente pela primeira vez. Meu raptor, na verdade não mais do que um garoto que aparentava ser apenas alguns anos mais velho que eu, estava ajoelhado e curvado com a mão sobre o tornozelo direito, sangue escorria por seus dedos. E ao lado dele estava meu imprevisto herói: Totó, que rosnava e latia ferozmente com os pelos arrepiados. Apertei o punho da espada com um sorriso satisfeito e avancei sobre meu inimigo, aproveitando seu descuido, porém quando estava prestes a subjuga-lo vi suas mãos se erguerem no último minuto e sua espada se chocar contra a minha, uma arma afiada, curva.... e familiar? Encarei as armas, prateado contra prateado, enquanto o garoto continuava no chão, os braços musculosos eram firmes na espada estranha. Ele era muito mais forte do que eu principalmente por poder usar as duas mãos enquanto eu só me dispunha da direita. Suor escorria em meu pescoço fazendo o ferimento arder ainda mais, ergui os olhos das lâminas para encarar o garoto de frente. Seus dentes rangiam e um sorriso zombeteiro despontava dos lábios grossos, suas feições firmes e determinadas fizeram uma única frase despontar em minha mente: Eu o conheço de algum lugar! Mas isso não era possível. Rebusquei rapidamente em meus pensamentos de onde poderia conhece-lo, mas nada veio. Então porque esse sentimento de familiaridade? Minha confusão pareceu se refletir nas expressões do garoto que arregalou os olhos escuros quando me encarou como se visse um fantasma. Suas mãos tremeram levemente ao redor do punho de sua espada, diminuindo a força de seu contra ataque enquanto seus olhos não desgrudavam de mim. Mesmo estando tão confusa quanto ele deixei que meu treinamento viesse a tona. Bater primeiro, perguntar depois! Aproveitando seu pequeno deslize manejei minha espada contra a dele com toda a minha força, o som de metal invadindo o silêncio da floresta. No minuto seguinte minha espada ainda retinia com o choque enquanto a arma curva do garoto voava para longe caindo entre as folhas enlameadas. O garoto não tirou os olhos surpresos de mim e eu avancei determinada. Com um golpe rápido em suas pernas ele foi ao chão, deitado e provavelmente bastante dolorido. Me posicionei sobre ele com a espada a milímetros do seu pescoço e quase ri da ironia do momento.
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Realidade Imaginária
FantasiaE se deuses, semideuses e monstros forem reais? E se toda a história do livro realmente aconteceu? E se algumas palavras pudessem mudar o curso do destino? Quando a leitura é sua arma mais poderosa, é preciso empunhá-la com sabedoria, pois o destino...