Realidade Imaginária

O garoto mistério ataca novamente

O manticore estava afastado alguns metros, de costas para mim, com um corte profundo no rabo e a juba eriçada, com toda certeza tinha um olhar perverso na face, e de frente para a criatura havia alguém. A cabeça do monstro me impedia de ver o rosto da pessoa, porém os fios negros esvoaçantes e a jaqueta marrom de aviador me ajudou a adivinhar quem estaria ali. O manticore olhava para ele com ódio, porém com certa familiaridade, como se fossem velhos conhecidos. O garoto, que possuía uma espada negra nas mãos, foi o primeiro a investir um golpe. A criatura desviou, porém saiu sem uma boa parte de sua juba, e atacou o garoto com seus dentes afiados, pronto para devorá-lo. Porém o garoto saltou no ar e deu uma cambalhota digna de aplausos, pousando sobre as costas do manticore, enfiando sua espada no mesmo. A criatura grunhiu de dor e lançou-o longe, fazendo com que ele caísse próximo ao rabo dela, que agora estava virado para o início do corredor. Sem sofrer nenhum arranhão e parecedo mais irritado do que machucado ele rosnou, a voz grossa e banhada em sarcasmo:

- Alguma ajuda aqui! Tem um manticore precisando ser morto!

Sem pensar duas vezes me levantei, com dor no pescoço e com certa dificuldade, porém me sentindo mais forte, e fui com a minha mais nova adaga em direção à criatura, tentando criar coragem no caminho. Percebi que Jerry, que já estava bem melhor, estava fazendo o mesmo que eu com sua espada. Eu fiquei de frente para o manticore, ainda tremendo e com o coração acelerado, tentando distraí-lo, enquanto o garoto se preparava para cortar o rabo do monstro. Jerry se posicionou, pronto para atacar a barriga. Então o garoto falou, em um tom baixo:

-No três! Um...

- Dois... – disse Jerry apreensivo.

- TRÊS! – gritei.

Investimos ao mesmo tempo. Acertei bem no peito da criatura, Jerry no estômago e o garoto cortou o rabo venenoso com rapidez. A besta deu o seu último grito e explodiu em pó dourado, me fazendo cair sentada e meio tonta, o teto girando sobre mim.

Ergui a cabeça tentando focar no garoto misterioso. Ou nem tanto.

Cada vez que o pó se dissipava mais, o rosto do garoto se tornava mais claro. Usava um all star preto e uma calça jeans da mesma cor. Uma blusa preta com uma caveira estava escondida sob sua jaqueta de aviador. Sua pele era bronzeada, mas um tom pálido se sobressaia de forma quase sobrenatural. Na mão que segurava a espada possuía um anel de caveira prateado, que se destacava em sua pele. Era mais alto do que eu e parecia ser um ano mais velho. Guardando sua espada, virou-se para Jerry e começou a interroga-lo, com uma voz impaciente:

- Onde vocês estavam?

- Onde VOCÊ estava? Quando ouvi o barulho tive que tirá-la de lá o mais rápido possível!

- Fiquei preso no meio da multidão e segui aquela criatura idiota, sabia que ela estava atrás de vocês!

- Então porque você não veio mais rápido? Ela ia morrer!!! – disse Jerry apontando pra mim e gritando.

O garoto cerrou os punhos e trincou os dentes, praticamente se preparando para voar em Jerry, porém ele se acalmou e respirou fundo, falando com calma e sarcasmo:

- Olha aqui Jeremy, eu não estou aqui para receber lição de moral de um sátiro e nem ser babá de uma mortal. E, sinceramente, essa missão está muito estranha. Porque essa garota é tão importante assim?

- Você sabe que ela não é uma simples mortal. Ela é diferente, eu sei disso!

Enquanto a discussão acontecia, meus pensamentos estavam bem longes. Pra falar a verdade, eles estavam naquele garoto. Eu não conseguia, eu não queria acreditar que era realmente ele, quer dizer, ele não poderia ser real, era de um livro, não poderia estar ali.

Porém, quando ele dirigiu sua atenção para mim eu tive a certeza de que era ele realmente. Quando ele me observou com aqueles olhos negros penetrantes e misteriosos, rodeados por olheiras profundas, um calafrio percorreu meu corpo quando sua mão gelada segurou a minha, me ajudando a levantar e eu só consegui olhar no fundo dos seus olhos e pronunciar um nome...

- Nico di Angelo!