Cap. 3

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   Nessa nunca havia ido tão longe. A vila em questão ficava perto da capital de Craethen, Frostthorn. Cinco dias haviam se passado desde sua fuga da prisão. A ruiva vendeu o cavalo assim que chegou ao vilarejo, e as moedas de ouro seriam o suficiente até ela descobrir o que sabiam sobre seu paradeiro.

   A taverna cheirava a mijo e vômito, mesas redondas eram espalhadas pelo estabelecimento. Atrás do balcão de madeira velho, algumas taças ficavam a mostra na estante, reservadas apenas para pessoas com alguns tipos de privilégios.

   O lugar não era agradável, mulheres imploravam por atenção dos homens rabugentos com o espartilho tão apertado que seus seios quase pulavam para fora. Cortesãs, percebeu Nessa. Elas se amontoavam perto da mesa maior, onde cinco homens jogavam baralho com apostas altíssimas.

   Nessa sorriu vitoriosa, ela era a melhor jogadora de Ranurean. A espiã se aproximou lentamente da mesa, e observou os homens fazendo suas apostas. A ruiva ainda estava muito magra, demoraria algum tempo para recuperar sua massa corporal, e ela esperava usar isso ao seu favor, pois ninguém repararia nela. Graças às roupas que cobriam todo o seu corpo, ninguém notaria suas cicatrizes.

   — Setenta moedas de ouro e um rubi para quem vencer — disse o avaliador. A ruiva se espremeu entre as pessoas e sentou no lugar vago, retirando dez moedas de ouro, e empurrando para o meio da mesa.

   — Oitenta moedas de ouro e um rubi para quem vencer — corrigiu Nessa. Os cinco machos olharam para ela com o cenho franzido em confusão.

   — Mulheres não são permitidas de jogarem — disse um dos homens. Ele vestia um paletó da mais alta alfaiataria, percebeu Nessa.

   Os cabelos do homem eram cinzentos, ele carregava uma enorme cicatriz na jugular, e apesar disso, as mãos do homem não eram calejadas. O perfume amadeirado era forte, e vinha dele. Os olhos do homem se semicerraram ao notar a análise de Nessa sobre ele.

   — Considere isso como uma chance maior de ganhar, já que ofereci dez moedas de ouro — Nessa respondeu entediada. Os outros machos se entreolharam e depois olharam para o mesmo que havia se pronunciado.

Ele era o líder.

   — Onde está seu dono? — o líder dos quatro indagou. Nessa se manteve inexpressiva, apesar de estar fervilhando por baixo de suas veias.

   — Não tenho dono — ela respondeu e os machos sorriram perversamente. Nessa sabia o que aquilo significava.

   — Nesse caso, se perder, será minha. Esse é o preço para jogar — o macho disse estalando a língua. Os outros quatro junto com algumas das cortesãs riram com deboche.

   Nessa não precisava pensar. Ela jamais seria dele, e mesmo que ganhasse, sabia que teria cinco machos atrás dela. Não ter um dono declarado, implicava em que todas as ‘’mulheres livres’’ estivessem alheias a qualquer tipo de crueldade feita por machos como aqueles.

   A lei não funcionava para mulheres como Nessa. Ela iria ser declarada no dia de seu aniversário pelo seu namorado, antes de tudo acontecer. Nem todas as declarações eram ruins. A ruiva conhecia casais que se declararam e foram felizes. Aquilo significava muito para Nessa, antes de Dustford, antes de Jason.

   — Feito — Nessa disse e o líder dos quatro pareceu surpreso, mas logo disfarçou com um sorriso perverso em seus lábios.

   O avaliador distribuiu as cartas, e Nessa analisou as suas e olhou para seus oponentes. Eles trapaceavam, ela percebera minutos antes de se sentar no banco. As cartas de todas estavam viradas para cima, permitindo que todos vissem.

As Lágrimas Do Fogo | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora