Cap. 10

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   Comeu dois pratos cheios de comida no almoço, e ainda não se sentia satisfeita. Pouco falou desde quando voltou do treino de manhã. Adelize até mesmo tinha se preparado para receber insultos de Nessa, o que não aconteceu.

   A ruiva estava encarando o líquido roxo em seu copo, se lembrando do vinho que bebeu antes de apagar. Ela não conseguiu beber. Um banho já esperava por ela, mas ela queria tomar um banho gelado. Seu corpo ainda pegava fogo, mesmo que o ar do castelo fosse fresco por conta de mecanismos para aguentar o calor.

   Nessa se levantou da cadeira e foi até o banheiro, retirando as roupas do treino no meio do caminho. A cada passo que dava, o corpo da assassina tremia. A assassina ainda se lembrava de como acordou antes de Dustford. Ela entrou na banheira mergulhando todo o seu corpo na água fria.

   Ela ainda podia sentir a água salgada do mar entrando em seu pulmão enquanto ela gritava por socorro. Não conseguia nadar até a superfície, pois a corrente de aço com a bola de ferro que estava presa em seu tornozelo, a puxava sem parar para o fundo.

   Nunca sentiu tanto terror na vida como naquele dia. Nem mesmo quando foi para a sua primeira missão. As criaturas do mar poderiam tê-la devorado em questão de segundos. Ela viu uma criatura na escuridão, onde a luz do sol já não alcançava a água, apenas os olhos dourados brilhavam na escuridão.

Eu deveria ter morrido.

   Ela desmaiou no fundo do mar. A inconsciência apagou qualquer esperança de sair viva dali. Ela poderia ter morrido afogada ou devorada, mas nada disso aconteceu. Nessa Signeyrsa acordou na beira da praia de Dustford. Os guardas chicotearam as costas da ruiva sem ao menos saberem quem ela era.

   Nenhum deles sabia que ela era Nessa Signeyrsa, e se soubessem, ela sabia que seria tratada pior ainda. Ela não deveria ter sobrevivido. Mas ela sobreviveu, e acabou parando no pior lugar de todos os três reinos, a prisão de Dustford. Criada para pessoas que deveriam ser isoladas da sociedade, pela ameaça que representavam. Nessa acordou no seu pior pesadelo. Viva, mas presa. Sem liberdade, sem descanso.

   A ruiva emergiu da banheira ofegante, e suas mãos foram diretamente para seu tornozelo esquerdo, naquela cicatriz horrível. O peito de Nessa subia e descia desesperadamente. Seu corpo tremia, e não aguentou ficar um minuto sequer a mais na água.

   Ela se apoiou na parede, conforme foi em direção a pia. A água que escorria de seu corpo molhava o chão, ela não se importou muito com isso. Nessa agarrou com força o mármore da pia, se olhando no espelho.

   A porta do banheiro foi aberta, revelando a criada. Nessa viu pelo reflexo do espelho o horror passar pelos olhos de Adelize ao ver as enormes cicatrizes espalhadas por toda a extensão das costas da ruiva.

   Nessa correu até a toalha, se enrolando e escondendo seu corpo como uma criança assustada. Ela não tinha percebido, mas lágrimas caíam dos olhos azuis da ruiva. A assassina virou o rosto, escondendo sua vulnerabilidade da criada.

   — M-me d-desculpe senhorita Morana, ap-apenas vim checar se estava b-bem ou se precisava de algo — a criada gaguejou ao se explicar.

   — Bata antes de entrar, agora saia por favor, deixe minhas roupas na cama — disse Nessa com rispidez. A criada fez uma reverência e rapidamente saiu.

   A assassina levou as duas mãos na boca, tampando o soluço ou qualquer barulho que quisesse sair de seus lábios. Ela não choraria, era forte e temida por todos os três reinos. Respirou fundo algumas vezes, focando em desacelerar o ritmo frenético que seu coração batia.

   Ela seguiu para seu quarto, enquanto secava seu corpo. A roupa que esperava por ela na cama. Um vestido cinza com babados em renda branca de mangas longas, juntamente com um espartilho cinza com rosas-vermelhas.

As Lágrimas Do Fogo | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora