Não era agradável. A animação de seus homens para derramamento de sangue, ainda mais vindo de uma criança, por mais que fosse feérica ou não. O general se pegou pensando em todas as decisões que havia tomado ao longe de sua vida, e o tanto que se arrependera.
Fora obrigado a viver em um lugar onde ele odiava, cresceu odiando, e se tornou um bom ator, pois fingia muito bem em estar satisfeito com sua posição, esperando a hora para golpear a coroa com toda a sua força.
Era loucura, ele sabia disso. A carroça fora tampada por tecidos finos, mas que impediam que vissem o que havia ali dentro. A plataforma de madeira havia sido montada no meio da praça horas antes.
Um banco de madeira velho seria onde a fada ficaria em pé, e teria suas mãos amarradas com ferro, enquanto a fada receberia açoites, além de ter suas asas arrancadas, e por fim, decapitada pela guilhotina.
A multidão já comemorava com o possível espetáculo, e tudo que Draven podia fazer, era esperar. O cheiro de suor e tomate podre infestava o ar. Ao olhar para o lado, Draven percebeu os mercenários vendendo tomates para as pessoas ali presentes.
Pretendiam jogar tomate na pobre fada.
Dois guardas foram até a carroça, arrancando os tecidos finos que protegiam o que havia lá dentro. Warin estava ao seu lado, inquieto. Draven sabia que seu amigo fora ensinado a odiar feéricos, todo tipo de criatura mágica, assim como ele.
Mas isso não mudava o fato de que Warin não gostava desse massacre que eram obrigados a fazerem. O general prendeu a respiração quando a carroça por fim foi liberta, dando visão a todos da prisioneira.
— Onde ela está? — gritou alguém na multidão. Murmúrios decepcionados irromperam pela praça. Warin virou o rosto para Draven com os olhos arregalados.
— O que você fez Draven? — questionou seu comandante.
O general vestiu uma expressão confusa, e começou a gritar ordens para seus homens, para que procurassem a criatura. Karayn Dethyanlles estava com o maxilar trincado enquanto fuzilava Draven, como se soubesse de todos os segredos do general.
Aos poucos, as pessoas foram embora, mas isso não impediu que jogassem tomate podre uma nas outras. O general ainda brigava com seus homens pela péssima conduta, e em como foram desleixados. Não gostava de fazer isso, brigar com seus homens, mas a frustação e o rosto de ódio do príncipe havia valido a pena.
Draven Rustrygven acompanhou Karayn Dethyanlles, até os aposentos reais. O general lutava para conter o sorriso vitorioso nos lábios. O príncipe parecia mais irritado que o normal, e Draven gostava disso. De tirar a calma impenetrável e o sorriso sínico dos lábios de Karayn.
— Sinto muito pelo acontecimento de hoje. Já reforcei minhas buscas pela criatura e meus homens não cometerão o mesmo erro novamente — disse o general com a voz firme. Karayn fez menção de se virar para olhá-lo — Vossa Alteza — completou.
— Tenho certeza que não cometerão o mesmo erro. Você mudou Draven, ficou fraco. Por isso entre outros motivos, estou retirando seu titulo de general e mão do rei — disse o príncipe com um sorriso cruel nos lábios. Draven arregalou os olhos em surpresa.
— Não pode fazer isso! Nosso pai é o único que pode fazer tal coisa! — exclamou ele como ódio, fechando os punhos com força ao lado do corpo.
— Veja bem, Draven, eu serei rei de Craethen, não você. Cansei-me de olhar em sua cara. Quero você fora do meu palácio, fora de meu território, e se eu voltar a vê-lo, então mandarei matá-lo — o príncipe disse colocando as mãos atrás do corpo. Draven piscou algumas vezes, absorvendo as palavras do irmão.
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As Lágrimas Do Fogo | Livro 1
FantasyHá 400 anos, uma guerra devastou os três reinos, tendo Lithigary, o reino dos dragões, como o mais afetado. A guerra conduzida por Abaddon Dethyanlles, destruiu a magia e massacrou todas as criaturas mágicas que naquele mundo viviam. Quase todas. Ne...