As Lágrimas Do Fogo | Livro 1

Cap. 16

   A ruiva se lavou rapidamente, retirando o suor do próprio corpo. Nessa amassou os cabelos úmidos enquanto os cachos se definiam. Ainda nua, a assassina caminhou até o quarto, e vestiu as roupas que tinha comprado.

   Calça e bota, blusa e corset, luvas e túnica. Vestiu seu suspensório, e prendeu a adaga roubada de Warin em sua cintura. Nessa Signeyrsa retirou os suprimentos estragados, e os jogou no lixo. Sabia rotas de fuga, e usaria uma dessas para fugir e levar Tinker com ela, mas precisava ir a um lugar primeiro.

   O creme que Adelize havia passado nela ainda estava em cima da penteadeira. Nessa mergulhou os dedos e passou nos cachos. Ela podia ser uma assassina-espiã desgraçada, podia não gostar de vestidos, mas ela era vaidosa.

   Nessa não precisava de maquiagem para ser bela, e ela adorava isso. Assim que girou a túnica ao redor de si, alguém bateu na porta. A assassina revirou os olhos ao se aproximar e colocar a mão sobre a maçaneta.

   — Adelize, eu já disse que nã... — Nessa parou de falar ao ver o general Rustrygven em sua frente.

   Seu semblante mudou de entediado para ódio puro em questão de segundos. Draven olhou para a fêmea de cima a baixo e pareceu pensar exatamente o que diria. Nessa Signeyrsa odiou cada palavra que saiu da sua boca.

   — Preciso que me leve na prisão de Frostthorn — Draven arqueou uma sobrancelha, surpreso com a iniciativa da assassina.

   — Pensei que me odiasse — o general disse com um sorriso arrogante no canto dos lábios. Nessa trincou o maxilar, estalando a língua.

   — Odeio você com todas as minhas forças — disse ela entre os dentes, encarando aqueles olhos que se pareciam com o pôr do sol. As pupilas de Draven dilataram.

   — Não pensou nisso quando sua boca tocou o meu pescoço — ele sussurrou contra o rosto dele. Nessa grunhiu com raiva.

   — Seu sangue é podre, assim como você — respondeu ela, cuspindo as palavras. Draven umedeceu os lábios e colocou ambas as mãos no bolso.

   — Se fosse podre, teria cuspido, e não lambido os lábios, Nessa Signeyrsa — ele sibilou. A ruiva fechou os punhos com força, sentindo seu estômago retrair pela proximidade.

   — Prometo te odiar até o dia da minha morte, general Rustrygven — disse ela semicerrando os olhos para Draven. O general sorriu.

   — Duvido que se lembre de me odiar em seu leito de morte — retrucou Draven. A ruiva virou as costas para o general, focando na parede, enquanto tentava não puxar a adaga escondida embaixo da túnica para rasgar o pescoço dele.

   — Vai me levar na prisão ou terei que ir sozinha? — perguntou ela. O general riu com escárnio, e Nessa ouviu ele se aproximando por trás dela.

   — Está com medo de ir sozinha, Nessa Signeyrsa? Ou isso é apenas uma desculpa para que eu acompanhe você, para que não se sinta indefesa? — sussurrou Draven no ouvido da mesma.

   Nessa sentiu um leve espasmo percorrer seu corpo, e se virou rapidamente, encontrando os olhos do general. Ela trancou a respiração na mesma hora.

   — Esqueça, eu encontro o caminho — resmungou ela, passando por Draven e o empurrando com o ombro.

   — Espere — Nessa se virou com os braços cruzados, esperando — Eu vou com você.

   A ruiva revirou os olhos e abriu a porta, com o general Draven Rustrygven ao seu encalço. Os dois começaram a caminhar até a saída do palácio, mas antes que Nessa pusesse os pés fora do castelo, Draven a puxou para um corredor. Nessa Signeyrsa grunhiu de raiva.