O homem a olhou de cima a baixo e fez uma careta. A ruiva endireitou a postura e ergueu o queixo, semicerrando os olhos em desafio.
— Imaginava vestidos, e não isso — o macho apontou para a roupa que Nessa usava.
Ele havia insistido que Nessa comprasse roupas novas com as moedas que ele havia dado para a espiã, e sem ele perceber, ela as colocou no bolso dele novamente. A assassina usava uma calça preta justa, uma blusa branca simples com um corset preto em sua barriga, que era revestido interiormente, como um colete a prova de balas. Contornando seus antebraços, luvas longas que deixavam seu dedão e metade dos dedos para fora, escondendo suas mãos calejadas.
O coturno preto fora bem amarrado em seus pés, e teve sorte, pois eram os últimos pares de seu tamanho. Suspensórios foram presos em sua cintura e coxas, esperando por novas armas. O capuz ainda a servia como túnica, escondendo seu corpo. Nessa tinha feito uma trança rápida, e de segundos em segundos, ela colocava a mecha ruiva que insistia em cair em sua testa, atrás da orelha.
— Nunca gostei de vestidos ou saias, apenas usava quando necessário, pois atrapalhava meu trabalho — admitiu a fêmea, colocando a nova mochila preta por cima dos ombros.
— Com que trabalhava anteriormente, Morana? — indagou o macho. Ela arqueou as sobrancelhas para ele.
— Colheita — mentiu ela. O soldado pareceu não se importar com a resposta da jovem.
Ela o seguiu, adentrando os corredores formados por bairros do povoado. Cada vez mais, eles se afastavam da cidadezinha, e Nessa ficou atenta. Conforme andavam, mais a mão da assassina suava enquanto ela segurava o cabo do revólver. O sangue de Nessa gelou ao notar cinco soldados com armaduras idênticas a do macho ao seu lado, soldados de Craethen.
— Bom dia — o macho ao seu lado murmurou para ninguém em especial.
Nessa Signeyrsa sentiu os olhares dos machos sobre ela, e abaixou a cabeça rapidamente, interpretando o papel de submissão que o arrogante ao seu lado gostaria que ela fosse. Por cima dos cílios, viu seu acompanhante conversando baixinho com um dos homens. Ele tinha expressão séria, tão rígida que nem se parecia com o macho que ela vira de manhã cedo, vulnerável.
— Quem é você? — um dos guardas perguntou. Os olhos da espiã focaram nas botas do soldado, ela não ousou encará-lo.
— Morana, senhor — disse de forma respeitosa, como se ela de fato o respeitasse.
Se fosse em outra situação, teria cuspido nas botas do homem, pois odiava todos os machos de Craethen, os mesmos que foram os culpados pelo desaparecimento de Marcx, os mesmos que perseguiram uma criança, apenas para se satisfazerem.
Talvez conseguisse informações com o macho que ela sequer sabia o nome, sobre a falsa Nessa Signeyrsa, e o que infernos ela fazia usando seu nome e se aproveitando de sua reputação. O homem se aproximou dela, e Nessa levantou o rosto, olhando nos olhos alaranjados como o pôr do sol do soldado.
— Fique aqui, e não se mexa — ele disse entre os dentes, com um tom ameaçador.
Nessa o observou partir em cima de um cavalo. A espiã abriu a boca sem palavras. Olhou rapidamente para os cinco soldados, que já a observavam com atenção.
A sombra de um sorriso malicioso passou pelos lábios da espiã. Ele havia a deixado. Não era como se ele fosse se importar com ela, já que a mesma tinha tentado o matar na própria casa.
— Presumo que estou sendo supervisionada — provocou ela semicerrando os olhos para o macho.
— Sim, e caso não faça o que eu mandar, terei de machucar esse belo rostinho — um dos machos se aproximou dela, num piscar de olhos. Nessa deu um passo para trás, enquanto via um sorriso perverso brotar nos lábios do macho.
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As Lágrimas Do Fogo | Livro 1
FantasiaHá 400 anos, uma guerra devastou os três reinos, tendo Lithigary, o reino dos dragões, como o mais afetado. A guerra conduzida por Abaddon Dethyanlles, destruiu a magia e massacrou todas as criaturas mágicas que naquele mundo viviam. Quase todas. Ne...