Cap. 19

36 7 0
                                    

   A cabeça de Nessa Signeyrsa estava a mil. Ela traçava planos mirabolantes em sua mente, e um deles, era em como ela tiraria Tinker do palácio sem que ninguém notasse.

   Ela tentava não pensar muito no que tinha acontecido na prisão e na floresta, muito menos no quanto foi vulnerável perto do general. As respostas que ela tinha conseguido, e a confirmação de suas suspeitas... Ela o odiava com todo o seu ser. Ele tinha se preparado muito antes de ter feito o que fez com Nessa.

   Enquanto se encarava no espelho, pensava em como fora tola, em como fora estúpida por acreditar que ele a amava. Ela fez de tudo por ele, e em troca, recebeu o pior dos presentes de aniversário.

   Doeu saber que ela estava certa, como sempre. A ruiva bufava pra si mesma. Fechou as mãos ao redor do mármore da pia com tanta força, que os nós de seus dedos se tornaram brancos. Grunhindo de raiva, a jovem fechou os punhos e socou o espelho, o transformando em cacos que distorciam o modo como Nessa se via.

   — Sua tola inútil — disse ela olhando para o próprio reflexo no espelho, que escorria sangue, seu sangue.

   A ruiva cuspiu no vidro com desgosto em si mesma. Com a toalha do banho, ainda úmida, Nessa Signeyrsa limpou a mão ensanguentada, sem se importar com os cacos que estavam espalhados pelo chão e na pia de mármore.

   — Senhorita Morana? — ouviu uma voz atrás de si. Ao se virar, viu o príncipe Karayn Dethyanlles dentro do seu quarto.

   — Vossa Alteza — cumprimentou ela, fazendo uma reverência. O príncipe a olhou de cima a baixo, e depois por cima dos ombros da assassina.

   — O que aconteceu? — perguntou ele com o cenho franzido, ainda encarando o estrago que Nessa tinha feito.

   — Ataque de raiva — disse ela dando de ombros. A assassina olhou ao redor do quarto, e com os olhos no baú que ficava na frente de sua cama, ela continuou — Precisa de algo, Alteza?

   — Irei a um lugar hoje, e gostaria de companhia — Nessa arqueou as sobrancelhas.

   — Presumo que precise de meus serviços reais como seu guarda-costas — disse ela, cruzando os braços. Um sorriso presunçoso brotou nos lábios do príncipe.

   — Gostaria de sua companhia, senhorita Morana, apenas isso — a ruiva descruzou os braços, e colocou ambas as mãos nos bolsos.

   — Perdoe-me Vossa Alteza, mas eu sou comprometida — ela retirou a mão direita do bolso, mostrando o dedo com um anel de ouro, que ela havia roubado enquanto Draven os guiava até a prisão.

   — Pensei que não tinha um dono — disse Karayn, franzindo o cenho em confusão. Um nó se formou na garganta da assassina, mas ela se obrigou a engolir.

   — Mas logo terei — ela respondeu firme, com um sorriso bobo nos lábios. Ela se forçou a corar enquanto girava o falso anel de compromisso em seus dedos.

   — Independente de quem seja o sortudo, você trabalha para mim, e foi instruída pelo rei a me servir. Quero você no meu quarto daqui três horas, e de preferência, use roupas fáceis de serem retiradas — o príncipe falou sem olhar nos seus olhos.

   Seu sangue fervilhou por baixo de sua pele, e ela fechou os punhos com tanta força, que suas unhas machucaram as palmas de sua mão.

   — Eu não sou uma cortesã — respondeu ela entre os dentes. O príncipe olhou por cima dos ombros com um sorriso malicioso nos lábios. A assassina sentiu se estômago se embrulhar.

   — Será hoje à noite — disse estalando a língua. Os olhos do príncipe brilharam em divertimento, e então, ele saiu.

   Nessa cambaleou para trás, atordoada. Precisava sair daquele palácio, e logo. Apenas em pensar aquelas mãos nojentas a tocando, faziam com que a ânsia subisse pela sua garganta.

As Lágrimas Do Fogo | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora