57. Terça-feira, 28 de julho

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Há corredores por todos os lados, ela olha para trás, na esperança que ele tenha sumido, escolhe um corredor qualquer, mas em minutos ele está tão perto, está a um passo de capturá-la. As portas daquele lugar estão todas trancadas, não existem janelas e as paredes são duras demais para tentar abrir uma passagem, que pensamento absurdo, isso não é um filme.

Quanto mais corre, mais perdida fica, está escuro. Seu corpo já está cansado de tanto correr, o que fazer quando está perdida em um labirinto?

Ele vai te alcançar! Não adianta, por que não desiste de correr?

- Me ajuda!

Ninguém pode te ajudar, foi você que escolheu isso.

Paredes começaram a se formar a sua volta, à deixando presa, ela observa com medo e surpresa, minutos antes, ela estava perdida em um dos corredores daquele imenso prédio, mas ao olhar a sua volta, estava trancada novamente naquele lugar. Como isso é possível? Só queria chorar e voltar atrás, e não ter conhecido aquele homem. Seu olhar cansado e desesperado, denunciava a sua tristeza, e o arrependimento a machucava como uma queimadura, seu maior desejo era a sua liberdade de volta.

- Eu quero sair daqui.

- Então saia, mas feche a porta.

- Que porta? De onde saiu essa sala?

- Esqueci de colocar uma, perdão!

Ela sente as suas lágrimas congelarem com o frio daquela sala, aquela maldita sala, todos os seus pesadelos estão se tornando real, o ar parece inexistente, e quase sem ar, desmaia.
Ele se aproxima com passos lentos, à pega em seus braços e a tira daquela sala.
Horas depois, seus olhos começam a abrir pesadamente, tentando se acostumar com a pouca luz do ambiente em que está, ela sente que alguém a observa, está tonta, mas, consegue ver a pessoa que está sentado ao lado da sua cama. O sorriso dele, faz o seu coração disparar.

- Onde eu estou?

- Gostou? A partir de hoje, esse é o seu quarto.

- Que lugar é esse?

- Era o porão, mas agora é o seu quarto, está decorado com tudo que você gosta.

- Onde você vai? Não me deixa aqui.

- Você precisa de um tempo. Assim, você pode conhecer melhor o seu novo lar.

- Não me deixa aqui sozinha. Eu quero ir embora.

- Você não está sozinha, o narrador está aqui, conversem à vontade.

- Narrador!

Eu! Opa. Desculpe querida só estou contando os fatos, não tenho interesse em conversar.

Ele sai, a porta é fechada com cadeados. Pobre Cecília, o que fazer agora? Decidiu ser filha de um estranho e agora está morando em seu porão.

- Cala a sua boca! Desde quando tenho narrador nos meus pesadelos?

- Quem disse que sou um narrador? Não reconhece a minha voz, já esqueceu do seu pai?

- Pai! O senhor está aqui, me tira daqui por favor.

- Foi você que escolheu isso, você fez com que eu e a sua mãe lhe desse em adoção. Porque quer minha ajuda, você quis se livrar de nós, fique aí com o seu novo papai.

- Onde você vai? Por favor, me perdoe.

- Ele se foi, como sempre faz, todas as vezes que você precisa dele.

- Como você veio parar aqui? Não importa, só me tira daqui, antes que o Wilbert volte.

- Não posso, eu nem estou aqui.

- Guilherme! Volta aqui.

Os meus pesadelos estão mais difíceis de entender. Eu não sei o que fazer, existem dois Wilbert, um é um bom pai, mas o outro é ruim, cruel, me quer presa. Essa sensação de que devo sempre fugir dele está me fazendo mal. Esse prédio é o cenário de tudo isso, tantas salas, corredores, realmente um labirinto.

- O seu problema, ao que me parece é de confiança! Você sabe que pode confiar no senhor Wilbert, mas o fato, de não o conhecer bem pode estar moldando uma figura diferente do que vê, seus pesadelos podem querer indicar que você quer o seu pai Fernando por perto, para te proteger, mas não é isso que acontece, e esse distanciamento entre vocês está refletindo nos seus sonhos. Quando foi a última vez que dormiu bem?

- Eu não lembro, desde que conheci o meu pai e descobri que o meu outro pai me detesta, não sei realmente quando dormi direito.

- Além de regular o seu sono, você precisa conhecer melhor o senhor Wilbert, para afastar essa sensação de perigo que aparece como pesadelos, precisa também se entender com o seu pai Fernando.

Tudo que a psicóloga disse, eu já sabia, mas não adianta de nada. Eu sei que posso confiar no Wilbert, já olhei todos os cômodos desse prédio e não tem quartos ou porões, não fui proibida de entrar em nenhuma sala, apenas tenho que esperar que todos saiam e posso circular livremente. O meu pai Fernando, ainda está distante, mas existe uma conversa entre a gente, isso não acontecia muito, eu não entendo esses pesadelos. Será que é o cansaço?

Antes do Wilbert ir embora, conversei um pouco com ele, fiz algumas perguntas e ele respondeu todas. Se preciso conhecer ele mais, então preciso perguntar mais.

Ele gosta de golfe, é bem a cara dele, um homem chique e bem visto na elite dos ricos, eu pedi a ele pra me ensinar a jogar golfe, vamos passar mais tempo juntos, talvez, isso resolva o meu problema.

Como me sinto: confusa.

885. P.

Diário de Cecília MartinOnde histórias criam vida. Descubra agora