Capítulo 16

1.4K 221 106
                                    

"Traga seu amor querida, eu posso trazer minha vergonha

(...)

Eu tenho meu coração bem aqui, eu tenho minhas cicatrizes bem aqui

(...)

Me escute, eu te darei tudo de mim

(...)

Então me diga que você me ama"

E algo no meu tom de voz deve ter abrandado a ira dentro dele também

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

E algo no meu tom de voz deve ter abrandado a ira dentro dele também. Ele se virou para a janela novamente e apoiou as mãos no batente dela, deixando a cabeça pender. Parecia arrasado. Ficou tanto tempo em silêncio que eu achei que ele não fosse falar mais nada. Mas, então, começou a falar, ainda virado para a cidade lá fora.

- Nós fugimos para a fazenda da família, como você sabe. Nós não podíamos contar isso para mais ninguém. Foi um acordo entre nós. A única forma de nos proteger. Mas eu te contei, Eda. Fomos para lá. Três noites depois, os bandidos chegaram. Eram quatro, todos fortemente armados. Quando Alp viu a luz lá fora na mata, nos falou que tinha algo errado e tentamos nos esconder no galpão que um dia foi usado para guardar equipamentos. Ele era escuro e provavelmente ninguém ia lá há muitos anos. Corremos para lá na tentativa de tentar nos esconder. Mesmo assim, depois de revirarem a casa, os bandidos nos acharam. Tentei lutar contra eles, assim como Alp, mas não tinha como. Eles logo nos renderam. Lembro do rosto de cada um deles sobre a luz fraca de suas lanternas. Lembro do desespero de nos ver naquela situação, rendidos e sob a mira de armas. Minha mãe chorava, assustada. O rosto do meu pai já escorria sangue pela violência deles. Eles disseram coisas, gritaram e repetiam sem parar que aquela era nossa última chance de pagá-los ou nos matariam. E, então, tudo pareceu acontecer em questão de segundos. Um deles chegou perto para me bater com a arma e de alguma forma eu consegui reagir. Apenas o suficiente para segurar sua mão e afastá-la de mim. Acho que ele era o mais inexperiente dos três, porque o susto o fez disparar a arma em direção ao outro bandido, e o acertou na barriga. Foi a distração suficiente para nós reagirmos. Mas não foi o suficiente. Assim que começamos a correr, os tiros começaram também. Meu pai gritou para que não parassemos. Mas, como eu disse, não foi o suficiente. Quando eu e minha mãe conseguimos sair do galpão, estávamos sozinhos. Só consegui virar por apenas um segundo e vi meu pai estirado no chão com um tiro na cabeça e Alp com um tiro no peito. Quis voltar, mas sabia que eles estavam mortos, e que voltar para dentro significaria a morte da minha mãe também. Ela estava tão desnorteada pela fuga que nem percebeu que agora éramos só dois, e já tinha continuado. Estava há alguns poucos passos na minha frente. Agora eu teria que protegê-la. Por isso continuei correndo com ela, me sentindo a pior pessoa do mundo. Acho que os bandidos nem tentaram vir atrás de nós. Minha mãe só percebeu a falta de Alptekin e Alp quando já tínhamos corrido por alguns minutos mata adentro. Nada nunca tinha sido pior do que ver seu desespero quando eu tive que contar para ela que eles estavam mortos. Ela quis voltar, mas eu disse que não poderia perdê-la também. Voltei para casa apenas para pegar nossos passaportes. Consegui apenas duas passagens com o dinheiro que tinha restado, e fugimos do país, com medo de que eles ainda tentassem voltar para terminar o serviço de assassinar nós quatro.  Não foi um começo fácil aqui nos Estados Unidos, mas com o tempo consegui ir colocando a vida nos eixos. Pelo menos do jeito que deu. Demorou para conseguir sermos cidadãos legais aqui. Mamãe nunca conseguiu se recuperar. Ela parou de sair de casa e vive com medo de esses bandidos a acharem, mesmo quase do outro lado do mundo. Eu tento fazer com que a vida dela seja a melhor possível, mas nada nunca vai substituir meu pai e meu irmão. Muito menos eu.

Hate and Desire Onde histórias criam vida. Descubra agora