Apaixonado

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- Então era isso...

O cheiro de cigarro paerava no ar, no começo era incômodo e ruim mas com o tempo era apenas mais um cheiro. Mal percebia que o outro fumava, mas naquele momento pelo silêncio e desespero que sentia, o cheiro de cigarro era a coisa a se agarrar para não fugir.

Afinal ele não fugia. Mesmo que quisesse.

- Vai rir?

- Deveria?

- Não acho que passe por isso todo dia. Um cara que te viu anos atrás e nunca esqueceu seus olhos, além disso você foi o "culpado" por uma revelação que mudou tudo para ele.

- Na verdade é a primeira vez. Mas acho que é normal, não posso ter uma reação ruim.

- Pela Nami e pelo Luffy?

- Também, mas não tire conclusões precipitadas. Eu amo mulheres, com todo meu coração, eu as admiro e me nego a desrespeita-las mas sentir atração é outra história. Estou aberto a homens também, naturalmente eu tive minha fase de descoberta.

Estava feliz. E como estava feliz.

Talvez por saber que Sanji apoiaria ele, assim como Nami e Luffy, talvez pelo fato dele não ter te machucado, pisado em seu coração e jogado fora.

Mas ele também gostava de homens, não era sua praia mas nem que fosse pequena, tinha uma chance. A luz se acendia novamente, luz que tentou ignorar e quebrar.

Feliz por isso, Zoro? Você já foi mais forte.

- Acho que faz sentido, é meio estranho isso de se descobrir e assumir.

- É ridículo, por isso nunca fiz.

- Tem lógica afinal eu não fazia ideia, achei que seria igual aqueles machões babacas.

- Que horror. Namizinha quebraria minha cara.

- Verdade. - Ele se espreguiça, bocejando ao deitar na mesma posição confortável de antes. - Boa noite, cozinheiro.

- E o beijo?

Gelou. Perdeu toda a tonalidade bronzeada que sua pele levava ao ouvir a simples frase, seus lábios ficaram brancos e suas mãos soavam. Sua garganta gritava por água de tão seca. Ele tremia.

- Beijo?

- Não se faça de idiota, Zoro!

- Eu queria averiguar uma coisa.

- Que coisa?

- Paixão.

- Explica de forma entendivel, Cabelo de Mato idiota.

- Kuina disse que tentar não vai me matar, visto que ela sabia de toda a história acredito que já tenha entendido quem era você mesmo sem eu contar. Então eu fiz o que não me mataria.

- Me beijar?

- Exatamente.

- Por quê?

- Paixão!

- Queria ver se estava apaixonado por mim, através de um beijo?

- Sim.

- E qual a resposta?

- Não. Ainda não.

- Ainda não?

- Ainda não. Eu estou me apaixonando, mas ainda não me apaixonei.

Dormiram em silêncio.

Gostavam da simples presença um do outro, mesmo depois de uma conversa tão esclarecedora e vergonhosa. Sentir que ELE estava ali, do seu lado era reconfortante. O som baixo do pulmão subindo e descendo, dá respiração falha e até dos movimentos bruscos de dava vez ou outra. Zoro conseguia ser encantador. O que era surpreendente. Para o esverdeado, ouvir o balbuciar confuso que Sanji soltava em meio aos sonhos, as tosses silenciosas que dava durante da noite e a mania que tinha em estralhar os dedos do pé, tudo era mágico.

Era novo. Era tentador. Era brilhante.

- Oeh, Marimo, acorda. - Zoro com as mãos estouradas de veia agarra o lençol que tampada seu rosto e puxa um pouco, com uma expressão irritada. - Anda, para de manhã. Já são 9h, está tarde e temos que voltar para casa.

- Vai você, eu pago mais uns minutos do quarto e durmo mais. - O lençol se ergue, ocultando o rosto manhoso do espadachim.

- Não posso te deixar sozinho, vai se perder dentro desse quadrado.

- Então deita e dorme, princesa preocupada!

- Ao contrário de você, - Sanji segura o lençol e a coberta com ambas as mãos as puxando para o alto. - eu não nasci filhinho de papai! Preciso trabalhar pra ganhar meu pão, anda logo.

- Eu não nasci filhinho de papai, eu me tornei! Eu fui adotado okay? Aliás, conta outra caracol mentiroso! - Já sentado na cama espreguiçando lentamente cada parte do corpo, o lutador buscava qualquer coisa para criar uma briga. - Você já disse que seus pais são ricos.

- Minha mãe foi casada com um homem rico!! Zeff era um velho fudido quando nos unimos, - Ele empurrava o outro para fora do quarto. Que andava sem muita estabilidade, tanto pelo sono quanto pela ressaca. - mas o restaurante fez muito sucesso então ficamos num nível de classe média alta.

- Faz sentido, mas sabe eu acho que um dia vocês ficam ricos com o restaurante. Vale muito a pena, a comida é tão boa que me deixa sem palavras, vocês sabem fazer bebidas tão diferentes e a decoração é muito daora! - As mãos vão descendo enquanto Zoro percebe o que falou. - E eu não sei porque me empolguei tanto.

O loiro ri baixo, meio vermelho. - É sempre bom ouvir os clientes, principalmente os chatos e difíceis como você! - Sim, eles correram como crianças até o terrio, então tomaram pose e caminharam até o "caixa", devolvendo o cartão, pagando a conta e chamando um taxi que passava.

- Você realmente veio da França?

- Absolument, Marimo.

- Curieux, peut-on parler en français alors ?

- Por quê caralhos voce fala francês?

- Eu não falo, eu sei algumas coisas.

- Por?

- Ser filho de um cara importante que é conhecido no mundo todo te faz viajar... O mundo todo! Então eu fui tendo que aprender, Kuina disse que é um talento. O talendo que me foi tirado no quesito geografia.

Tento segurar o riso mas foi em vão. - Pode rir Cozinheiro, pelo menos eu não babo ovo de qualquer mulher. - O isqueiro é guardado no bolso, seu rosto lentamente se vira para o outro.

- Não não não. Eu as admiro, babar ovo é um termo estranho.

- Por quê?

- BABAR. OVO.

- Você ligou babar ovo com boquete? - O loiro tenta pensar em algo, não obtendo sucesso começa a encarar os lados, tossindo com o trago que deu sem perceber. - Caralho, você é bem pervertido!

- Não sou pervertido, eu só sou uma pessoa com uma mente criativa.

- Sexo oral é criatividade?

Os dois riram em silêncio, acomodando-se no banco de trás do carro. Zoro encarava a janela, o barulho fino e baixo dos brincos batendo em conflito era tão percebido por Sanji do que qualquer coisa. Talvez por estar o encarando por tanto tempo.

O cigarro acaba.

- Você já, sabe, fez isso?

- Fumar? Não, fede.

- Não fumar!! Aquilo, com a boca... - O olhar surpreendentemente inocente e tímido que o cozinheiro lançava, junto das bochechas vermelhas deixou claro sobre o que falava.

- Boquete? - Acenou positivo. - Já. Por quê? Tem curiosidade?

- Tenho.

Explosão, colisão, caos.

Mas que porra cozinheiro!!

- Em receber ou fazer?

- Eu já recebi né.

- Quer fazer então?

- Não... É só curioso. CURIOSIDADE.

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