Abençoado

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Sanji não sabia o que deveria fazer ao certo. Entre pegar um uber as 4h da manhã, chegar em quase e levar xingo de Zeff, para dormir em uma mansão por uma noite. A segunda opção era bem melhor.

- Sanji? - Ele ouviu batidas na porta. - Pode abrir? Eu trouxe a toalha e uma troca de roupas.

- Vou ter que usar suas roupas? - O loiro colocou uma parte do corpo para fora da parede de tijolos pretos que dividia a área do chuveiro dos outros "utensílios".

- Bom... É a minha, a sua toda suja, as roupas do Law e do Luffy, ou você pode usar um dos vestidos exóticos da minha irmã.

- Nunca julguei seu estilo, Marimo!! - Diz sorrindo enquanto volta a tomar seu banho.

Zoro ri sozinho deixando o banheiro, - Não se preocupe, eu não usei essa cueca! - solta fechando a porta.

Ele senta na cama, apoiando os cotovelos nas coxas e o queixo nas mãos. Estava pensativo. Precisava entender, além de toda essa mistura de emoções que um sobrancelha de alvo lhe trouxe, mas também o por que de um cozinheiro que dançava ballet ter um corpo tão definido.

Paixão? Estaria um cara tão frio quanto ele apaixonado? Não faria sentido, mal conhecia o loiro, como poderia sentir alguma coisa tão diferente quanto paixão?

Talvez fosse de um jeito sexual? Aquela coisa de "ficada na balada", uma noite de sexo e então amigos ou conhecidos novamente. Poderia chegar em Sanji e lhe dar um beijo, perceberia pela ação seguinte se queria ou não continuar. Era uma opção mas "Isso seria bem estranho!".

- Oe, tem alguma coisa pra cozinhar?

Sanji saiu do banheiro, com a toalha nos ombros, secando o cabelo. Estava com gotas escorrendo pela franja, o deixava charmoso e seu olhar, seus olhos azuis ganhavam vida e profundidade, Zoro não sabia o que dizer ou como agir, os olhos azuis. Sempre eles.

Os olhos azuis que o prendiam.

Malditos olhos azuis.

O esverdeado se levantou, andando em passos lentos e pesados para perto do outro. Olhando tão profundamente que Sanji sentiu um estremecer. Estava perto. Mais do que deveria talvez. Ele sentia a presença do Marimo, era forte e colidia com a sua de forma harmoniosa. Eram ambos confiantes demais.

O cozinheiro percebeu como os olhos do espadachim eram escuros, pareciam inteiramente pretos e as marcas de iluminação, causadas pela luz amarelada do abajur, deixavam o breu bonito. Era quase um fosco, que foi lustrado. Eram diferentes, baixos e singelos. "Seus cílios são grandes e, olhando de perto, Zoro é um milímetro mais alto. Que ridículo".

Seus olhos percorrendo cada centímetro do corpo a frente, decorando cada detalhe do outro. Mesmo inconscientemente se pegaram pensando e analisando lugares que gostariam de ver.

De tocar.

- Estereótipo de filme adolescente, o loiro dos olhos azuis que é muito fã de gatinhas. Tirando suas sobrancelhas, elas são bizarras.

Proposital, ele disse isso para cortar o clima que inconscientemente tentou criar, acertou em cheio e isso o fez ficar irritado. Como queria aquele clima novamente, mas sabia que não podia.

- E os seus olhos são pretos. Isso é normal? Acho que sua escuridão interna dominou eles.

- Que engraçado Loirinho. - Colocou as mãos no bolso, caminhando lentamente para fora do quarto. - Você vai fazer um jantar da madrugada né? - Pergunto apoiado na bainha da porta, Sanji o encarou por um tempo, reflexivo.

"Loirinho".

- Vou, vou! Só me mostra a cozinha. O que eu posso fazer? Você não tá passando fome por estar sozinho né?

- Não, eu comia em restaurantes... - Não, ele come coisas aleatórias quando sente fome durante o dia. Algumas porcarias e umas carnes que assa de uma jeito estranho, seu pai ficaria bravo se o pegasse fugindo da dieta de um bom espadachim e qualquer bom cozinheiro o agrediria pelos pecados que faz nesses dias.

Eles continuavam andando até o local desejado, Sanji ficou impressionado com o tamanho de variedade dos alimentos e dos produtos. Eram todos de qualidade excepcional, mas pareciam pouco usados, talvez os pais de Zoro não soubessem utilizar tudo aquilo mas gostavam pela estética de mansão?

- Quem cozinha?

- Normalmente meu pai, ele não é tão bom mas tenta, e o amigo dele ajuda. Já tivemos uma cozinheira mas ela acabava ficando sem o que fazer por estarmos fora a maioria dos dias. Então ela foi transferida. Sei lá...

- Moram você, sua irmã e seu pai?

O esverdeado afirma com a cabeça, abrindo a geladeira para tomar uma água. - Não foi sempre assim, mas já faz bastante tempo. É uma família estranha, se chegar a conhecer eles vai entender.

Sanji tentou visualizar, "Olhe para você, como poderia ter uma família normal", era o que pensava. Mesmo que no fundo soubesse o qual ignorante era aquilo, todos tem suas peculiaridades e ele não era uma pessoa apta a julgar relações alheias.

Depois de um tempo de negociação e briga, o cozinheiro se acomodou perto da pia, selecionando os itens e começando os preparos. Faria algo básico, reconfortante e rápido, principalmente pela hora.

Em uma panela ele colocava a manteiga e a carne, aos poucos, usando de tudo um pouco para dar gosto, vinho, água, uma mistura de temperos e outros. Enquanto esperava a fervura, cortava as cebolas e os cogumelos que encontrou ali. Preparava também um acompanhamento, o mais comum e clássico arroz branco e uma salada de rúcula.

Após um longo tempo de espera, o prato estava servido. Era uma porção simples, como um almoço rotineiro, era apetitoso e regulado, tanto para a saúde como para o paladar.

- Oh, que chique.

- É um prato simples, mas é uma boa pedida. Principalmente para o estado que estamos.

- Tem razão.

Se acomodaram nas banquetas rotatórias do balcão e se serviram, agradecendo a comida e se deliciando. Sanji analisou cada detalhe das expressões de Zoro enquanto o mesmo devorava o prato, como cozinheiro e como homem, era interessante. Não podia negar.

- Carne...

Uma voz assustadora, baixa e seca soou nas costas dos dois, que se viraram surpresos. Luffy. Não era de seu fetil acordar cedo depois uma noite como a de ontem, mas ele nunca negava comida.

- Oeh, Luffy, já levantou?

- Que estranho você acordar essa hora...

- Eu vim comer. - Zoro parecia neutro, mas meio irritado, e Sanji permanecia confuso. - eu senti o cheiro, ele me chamou então eu vim. Cadê??

O loiro prepara um prato mais cheio, conhecendo o amigo, e o coloca sobre a mesa, o convidando para se unir a eles. O que não demorou, afinal ao olhar novamente, o chapéu de palha já estava sentado comendo com vontade.

Enquanto a conversa entre os dois se desenvolvia, Zoro pensava no cozinheiro, cozinhando. Era encantador. Sentiu algo novamente, aquela coisa profunda e diferente que sentiu em sua apresentação de ballet. Era tão reconfortante e bizarro. Ver o sorriso calmo do loiro, seu corpo indo para lá e para cá, o movimentar de suas mãos ao preparar os ingredientes, sua delicadeza com as quantias, sua expressão de satisfação ao provar seu feito e a de orgulho ao ver que seus "clientes" ficaram satisfeitos. Zoro adorou assistir aquilo, poderia passar o dia o vendo. Pensaria naquilo durante tempos, assim como na dança. Sanji. Sanji tinha essa habilidade.

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