Passado/contexto

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Era uma manhã fria de setembro, o pequeno garoto estava sentado debaixo da janela do escritório de Koshiro, o dono do dojô que ele frequentava.

O homem discutia com sua filha, mais uma vez. Zoro se sentia culpado por tudo, seus pais eram moradores da pequena cidade mas viviam fora do país, a trabalho, aqueles dois eram sua família. Eles o criaram e ainda ajudaram-no a encontrar seu dom. Devia muito a eles, mas após o acidente que levou a vida de seus pais era mais uma criança órfã, sem ninguém.

Kuina se recusava a abandonar o menino, mas seu pai sabia que não podiam bancar o garoto, um dojô nos dias atuais em uma cidade pequena, não era de grande lucro. Ainda tinha que cuidar da filha sozinho, que estava acidentada e tendo que frequentar médicos. Zoro sabia que ele não podia ficar, mas o que uma criança faria? Tinha apenas 7 anos.

- Mas pai... É o Zoro, daremos um jeito.

- Kuina! Eu, eu queria sim. Mas não podemos. Eu não consigo, sinto muito.

O pequeno ouviu a voz chorosa da amiga soltando palavras feias para o pai, então a porta bate e passos são ouvidos. Kuina logo aparece do lado de fora, saiu tão rápido pela porta lateral que quase não viu o esverdeado.

- Zoro...

Chamou, ele ergueu a cabeça, sorria fraco com os olhos vermelhos de choro. - Não se preocupe Nana, eu vou ficar bem. - O sorriso aumenta, fazendo a garota se sentir mal. Não gostaria de abandona-lo, era como um irmão mais novo para si.

Ela corre se sentar ao seu lado, o abraçando forte, deixando algumas lágrimas escaparem. - Você não costuma chorar.

- Eu sou uma mulher forte, eu não choro! - A jovem o aperta mais ainda, o trazendo para si. - Mas nesses momentos é meio inevitável. Eu sinto muito ter que te deixar sozinho, Zoro.

- Ah, não se cobra não. Vai dar tudo certo no final, a gente vai ficar forte e competir pelo primeiro lugar!!

O menor ergue o braço, para mostrar seus "músculos" e ao ouvir a risada da garota não se aguenta e retribue o abraço, se encolhendo em seu peito.

- Me desculpe, Zoro...

Foram dois dias no máximo até o menor receber a notícia de que recebeu um lar. Um amigo próximo de seus pais, um conhecido "ex espadachim", que hoje vivia em uma grande casa com sua filha, cuidando de sua popular empresa de vinhos finos. Dracule Mihawk. Foi acordar e correr até o dojô depois da notícia que trombou com um homem estranhamente alto, com olhos ameaçadores em tom amarelado e uma barba que Zoro julgou ser bem estranha.

- Olha por onde anda!!

- Zoro. - Era Koshiro, andando calmamente com a mesma expressão neutra, ao seu lado a pequena Kuina, estava com olhar baixo, parecia triste mas convencida. - Que bom que veio, este aqui é Mihawk, acredito que tenha recebido algum recado. - Depois de coçar o nariz de forma desajeitada, o menino tira detrás de si uma carta, estendendo pro homem.

- Zoro, ele é legal! Eu tenho certeza que você vai ficar bem. - A menina se aproxima do 'irmão, segurando seus ombros e o olhando firme, transmitindo confiança. - Ele conversou comigo e com o papai, parece que ele é um ex espadachim, ele também tem uma filha... Então deve dar tudo certo! Além disso, - A azulada coloca as mãos no ouvido de Zoro, sussurrando: - Ele tem dinheiro.

O menor apenas solta um 'Oh' extenso e encara o homem alto a sua frente, parecia admirado. Já Mihawk se curva para a criança, estendendo a mão. - Muito prazer, Zoro. - O esverdeado segura a mão de Kuina, e com a outra mão, depois de limpar na camisa, aceita o aperto.

- Prazer!

Mihawk não era extremamente sociável ou habilidoso com crianças, mas sua preocupação e cuidado era notável. Perona, sua filha de 9 anos, havia sido adotada quando ainda recém-nascida, quando o moreno se aposentou do cargo de "espadachim" e abriu sua famosa adega de vinho, sentiu que precisava de algo e então decidiu adotar uma criança. Teve bastante ajuda de seu amigo, Shanks, e até dos pais de Zoro, mas se deu bem como pai e ter mais um filho não era um problema.

A viagem de avião foi calma e demorada, Zoro estava tenso e inquieto, viveria longe da fiel escudeira, estava indo para longe de sua casa, e andava no mesmo veículo que levou a morte de seus pais. - Para onde vamos? - Perguntava ansioso. - Para nossa casa. - Ele respondia com um pequeno sorriso no rosto.

Os anos passaram rápido, Zoro e Perona se enturmaram, mesmo com as brigas bobas diárias, se deram mais do que bem. Ele também vivia telefonando para Kuina, contando sobre a enorme casa que estava, sobre sua nova irmã, sobre a nova escola, sobre os treinos e como ficaram pesados e divertidos. Kuina os visitava as vezes, e nas férias Zoro passava alguns dias na cidade natal.

Construíram uma boa família, demorou para Zoro chamar Mihawk de pai pela primeira vez.

- Boa noite, pai.

Foi espontâneo, estava cansado e com sono, acabou soltando simples assim. Já estava a caminho do quarto quando percebeu, voltando correndo para a sala, se escondendo na porta com as bochechas bem vermelhas. - Desculpa... - Soltou por fim, recebendo em troca um sorriso amigável. O homem se levantou, deixando o livro de lado, caminhando até ele e bagunçando seu cabelo.

- Boa noite, Zoro.

E saiu, indo para seu quarto. O menino quase explodiu de alegria e vergonha por dentro, Perona, que espiava tudo, ficou muito feliz, sorrindo grande e quase pulando no menino de felicidade.

Era uma boa vida. É uma boa vida. Zoro gosta do que ganhou e construiu. Era uma família estranha e difícil, mas a melhor que podia receber.

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