Quando fecho os olhos.

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—AHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Juliana sentou-se rapidamente, virando-se e abrindo os braços para tocar na esposa.

—Val, Val, meu amor. Val. Valentina!

Valentina abriu os olhos e começou a respirar pesadamente, concentrando-se em Juliana no escuro.

—Val, estou eu aqui. Está tudo bem, você estava tendo um pesadelo. Juliana acariciava seu rosto para que ela pudesse senti-la.

A loira pegou a mão que acariciava sua bochecha e a fechou com a sua, começando a deixar as lágrimas caírem de seus olhos, chorando primeiro um pouco e depois com muita força.

Juliana deitou-se de novo, mas muito perto de Valentina de lado, com uma perna sobre a esposa e um dos braços abraçando-a.

Sentir o peso de Juliana sobre ela a ajudou a se sentir consolada aos poucos. Tomando por seu aroma e suas carícias.

—Não aguento mais. _foi o que ela soltou depois de vinte minutos e nessa noite ela contou seu pesadelo a sua esposa.

—Eu estava trabalhando mas não queria estar lá, quando terminamos Renata me pegou e chegamos em casa, subi para o nosso quarto enquanto ela tirava algumas caixas e sacolas do meu carro. O seu carro estava coberto na garagem . Me olhei no espelho do banheiro e parecia cansada e sem vida, então lavei o rosto e fui até o vestiário procurar algo para vestir. E coloquei sua blusa de coelho com a qual minha mãe a conheceu, lembra?

Juliana acenou com a cabeça.

—Ela ainda tinha o seu cheiro. _isso fez Juliana franzir a testa.
—Então Renata foi me buscar e nós fomos para o quarto no final do corredor. Ele estava trancado, então eu abri. _a partir daí começou a custar-lhe dizer.
—Era o seu quarto...

Juliana não queria interrompê-la mas já estava tensa.

—Eu, eu não queria fazer, mas tinha que fazer, então me forcei a entrar, só cheguei no meio do quarto, mas Renata me apoiou e segui em direção... em direção a sua cama.

—Comecei a dobrar seu cobertor e sua roupa de cama. _aí ela respirou fundo, soltando o ar com força.
—Coloquei suas coisas de lado em uma caixa, enquanto Renata cuidava de suas roupas e outras coisas. Eu não entendia muito bem por que estava fazendo isso, ou por que sentia que estava sendo esfaqueada toda vez que colocava alguma coisa na caixa. Só sabia que estava me desfazendo de tudo.

Juliana fechou os olhos sentindo o que estava por vir.

—Eu olhei para a parede e pude ver... Juls era o quadro que eu te dei em Paris, nós o emolduramos no seu quarto e estava lindo lá. Então eu fui admirá-lo e depois o peguei em meus braços quando...

Valentina começou a chorar de novo, mas continuo dizendo.

—Juls eu finalmente entendi porque doía tanto, porque eu estava desfazendo de tudo. Nem você nem nosso bebê saíram vivos e tínhamos tudo pronto meu amor... Eu perdi vocês dois... eu fiquei sem você, mas desta vez também sem o bebê.

—Ah Juls... _Valentina lamentou, apertando o corpo da esposa.

—Val, vem cá, deixe-me te abraçar. _Juliana também tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
—Venha amor, sente-se. _Valentina deixou-se mexer e a esposa a colocou no colo, de lado, deixando seu coração ficar embaixo da orelha de Valentina.

—Minha morrita, acho que é hora de buscar ajuda, isso não pode continuar assim, meu amor.

—Eu farei o que for, Juls, já não posso continuar perdendo você cada vez que fecho os olhos.

—Vamos buscar ajuda, coração, não é só eu que preciso estar bem, você também, somos uma equipe. Lamento muito que você tenha chegado a este ponto, Val.

—Mesmo que doa, acho que se não tivesse acontecido esta noite, eu não teria concordado ainda.

***

No dia seguinte, a primeira coisa que fizeram foi entrar em contato com um profissional para ajudar Valentina.

Juliana cuidou de tudo, avisando à esposa que se ela não se sentisse bem com aquele psicólogo podiam trocar assim que ela pedisse. A consulta era urgente, então Valentina tinha uma consulta marcada para o dia seguinte.

Juliana a acompanhou naquele dia, a pedido de Valentina. Ela esperou por ela na sala correspondente enquanto lia um livro. Quando sua esposa saiu, ela a viu sorrir para ela, o que significava que elas não teriam que mudar de profissional.

Os dias se passaram e Valentina ia à terapia duas vezes por semana. Ela já tinha feito oito sessões. Não era nada fácil, mas Valentina ficou surpresa com o quão agradável acabou sendo.

Ela percebeu que, sim, conversar com a esposa a ajudava muito, mas conversar com alguém totalmente alheio à situação, por algum motivo, a deixava relaxada e sem se preocupar em causar angústia à esposa.

Juliana sabia que era uma boa ideia, por isso ela havia sugerido a ela há muito tempo, mas aquela que ela tinha que acessar sozinha. Sim, foi um choque muito forte, mas às vezes é o que é preciso para você agir.

Nessas mesmas semanas, Juliana percebeu que também tinha que ser consistente no enfrentamento de seus medos, tão aos poucos foi retomando sua rotina normal, nadando, cozinhando, saindo de casa para fazer as coisas dela, para ver Tess e as meninas.

—Val, o que você acha sobre nós irmos dormir em nossa cama amanhã?

Valentina sorriu, da cadeira em frente à da mulher. Haviam acabado de jantar no Jardim.

—Se é isso que você quer, é claro.

—Ok, então vamos. _ela disse pegando um pouco de água depois de deixar cair os talheres.

Valentina limpou a mesa e lavaram os pratos. Elas colocaram o restante da comida em recipientes. Santiago chegaria no dia seguinte e eles certamente desapareceriam.

Então elas voltaram para lado de fora novamente, com os cobertores macios e amontoados em uma espreguiçadeira.

—Quando você acha que começa a aparecer? _Perguntou Valentina.

—Não sei, acredito que por agora, mas cada corpo é diferente. Foi isso que o doutor nos falou na última consulta, lembra?

—Sim, verdade. _Valentina passou a mão na barriga de Juliana.
—A que horas a mamãe chega amanhã?

—Ela disse que cedo, ela vai cuidar de tudo com a Renata, enquanto a Ana faz a limpeza. Quando chegarmos já vai estar tudo pronto.

—Deus, que nervoso. Eu já quero saber amanhã. O tempo está passando rápido agora.

O exame de algumas semanas atrás mostrou que o embrião estava em perfeitas condições e os batimentos cardíacos eram fortes. Tudo isso era música para as duas, tudo estava indo muito bem. O enjôo matinal praticamente havia desaparecido, mas ela ainda não suportava o perfume que Valentina usava e qualquer cheiro que não lhe agradasse a mandava direto para o banheiro, mas pelo menos não era todas as manhãs.

Agora Juliana e Valentina estavam animadas porque amanhã seria o ultrassom onde conheceriam o sexo de seu bebê e teriam um dia agitado mas muito divertido.

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