Era uma das sessões com o Psicólogo de Valentina, das quais ela comparecia rigorosamente. Já não era duas vezes por semana, agora era apenas uma sessão semanal.
Valentina não podia dizer que seus pesadelos tinham acabado por completo, não podia dizer que dormia as horas necessárias todas as noites, e não podia dizer que estar muito longe de sua esposa não lhe causava ansiedade.
—O que você quer compartilhar comigo hoje?
Era assim que começaram todas as sessões... isso dava conforto a ela.
—Eu tive outro pesadelo ontem.
—Você quer me contar como foi?
—Eu vi Juliana de novo, quando a tiramos da piscina... Eu fazia reanimação, mas ela não reagia.
—Este é o menos repetitivo, o que mais causa reação em você. _ele disse observando-a.
—Mas posso dizer que não é exatamente isso que a preocupa de verdade.—Não, foi o que aconteceu quando acordei. _Disse Valentina colocando uma das almofadas sobre ela.
—E o que aconteceu?
—Acordei gritando, o que você sabe que não acontecia há muito tempo. Eu assustei tanto minha esposa que ela não consegue dormir bem há semanas. _Valentina explicou enquanto mexia as mãos.
—Ela acordou de repente e o bebê deu um chute tão forte que a deixou sem ar, foi em direção das costelas, causando uma dor imensa e não a deixou respirar bem.—Entendo. _respondeu ele.
Seu diagnóstico era algo conhecido como Desordem de Pesadelo ou Parassonia. O que eles conseguiram identificar em Valentina foi a ansiedade e a culpa que desencadearam seu trauma.
Esse trauma era a perda de Juliana, em todos os sentidos, os momentos em que ela pensava que a tinha a perdido para sempre. Quando ela perdeu a vida e voltou.
Mas não foi só isso, a primeira coisa com que começaram a lidar era a necessidade de tirar seus entes queridos de suas vidas com o mínimo, o que desencadeou o maior evento de seus medos que foi a piscina. Então eles tentaram de tudo, tentando encontrar raiz após raiz.
É evidente que houve dicas que começaram a ser implementadas desde o primeiro dia, para facilitar o seu caso.
Ela tinha uma rotina que a ajudará a relaxar sua mente antes de dormir.
Ter alguém ou algo para lhe oferecer tranquilidade caso isso aconteça.
Falar sobre o que você sonhou.
Praticar atividades para aliviar o estresse, como respirações profundas e terapias com um profissional se necessário
Imaginar outro final ou modificar conscientemente o que você sonhou que lhe causou angústia ou medo e troque por algo agradável ou que o faça se sentir bem.
E outros que foram implementados em sessão.
Foi um longo caminho, emocionalmente não fácil, mas ela viu progressos e muito bons que a ajudaram muito, então sim, ela gostava do tempo que passava lá.
***
—Val...
—Hmmm?
—Não consigo dormir. _disse Juliana a ela enquanto se espreguiçava.
—Acho que ela não gosta que eu durma.Valentina se virou na cama.
—Pequena, deixe sua mamãe descansar por favor. _falou abaixando a cabeça perto da barriga de Juliana.
—Isso é bom para vocês duas.—Ugh Val. _nossa sementinha chutou.
—Ela adora sua voz, tão perto, mas às vezes me machuca. _ela fez uma careta e Valentina deu um beijo nela.
—Ela não quer descansar, acho que ela está com fome.Valentina sentou-se e acendeu a luz.
—Você quer que eu prepare algo para você ou prefere que peçamos algo?
—Um caldo de legumes? _Juliana fez uma careta de menina excitada.
—Desejando um caldo de legumes? _Valentina soltou uma risada.
—Sim... _ela fez beicinho.
—Ah Chiquita, você realmente é única. Você tem desejos muito estranhos.
E pareciam estranhos para ela porque muito ocasionalmente era algo doce ou nada saudáveis, geralmente sentia fome de frutas ou vegetais ou um suco.
—Se você quiser, eu farei, mas você me acompanharia lá embaixo? _A morena disse.
—Sim, sim, amor. Vamos, mas eu vou prepará-lo.
Não sabem o quanto Juliana ficava feliz por Valentina cozinhando mais, a verdade é que ela cozinhava muito bem.
Valentina calçou os chinelos e deu a volta na cama para vestir o robe na esposa.
—Você me mima muito, mas eu amo isso.
—É o mínimo que eu posso fazer. O bebê não está deixando você descansar.
Desde o primeiro momento em que puderam sentir, a menina obviamente ficava mais forte semana após semana e agora não parava de se mexer, aparentemente incomodada com certas posições que Juliana se colocava, mesmo quando estava descansando.
—Venha, vamos para a cozinha. Eu preciso alimentá-las.
Uma vez lá embaixo, Valentina deixou Juliana na mesa da cozinha e começou a preparar o caldo de legumes, Juliana tinha um nojo terrível de frango em qualquer uma de suas apresentações, então os caldos que ela pedia nunca poderiam ter aquela proteína.
—Val, eu quero falar com você sobre uma coisa...
—Sou todo ouvidos.
—Eu acho que é hora de contar aos outros ou você quer esperar um pouco mais?
—Bem, a verdade é que eu só me importaria se eles te assediassem. Embora eu ache que seja uma boa ideia, você não será capaz de esconder por muito mais tempo quando sair. Na verdade, estou surpresa que eles não o tenham descoberto.
—Não quero que ninguém dê a notícia a eles, a não ser nós, e não quero que lucrem com algo tão pessoal quanto nossa crescente família.
—Você tem razão. _disse ela, terminando de colocar os vegetais na água antes de adicionar um pouco de sal e cobrir a panela de pressão, certificando-se de que estava bem fechada. Ela não gostava muito do som que a panela fazia ao soltar o vapor, mas era o que tornava o preparo mais rápido.
—Quando você quer fazer isso? _Valentina sentou-se ao lado da esposa.
—Talvez amanhã, depois que voltarmos da caminhada.
—Perfeito. Você sabe como quer fazer isso?
—Eu estava pensando sobre...
—Vou dizer a Renata para cuidar disso. _ela ficará feliz em ajudar. _Valentina deu-lhe um beijo na testa.
—Meu amor, você se senti bem né? Além do fato de que a pequenina não te deixa descansar.—Sim, naquele dia foi pelo susto, mas estou bem, não se culpe por isso, ok? O que o médico disse a você? Me conte.
—Eu sei, depois te conto. _falou juntando suas testas.
—Você sabe que eu te amo, certo?—Sim, por isso aprendeu a cozinhar coisas deliciosas.
—E farei muito mais.
—Bem, isso começa a cheirar muito bem e eu também te amo, obrigado por fazer meu caldo.
Por um tempo elas ficaram assim, ouvindo os sons da noite e da panela de pressão.
—Juls, o que você acha se nós preparamos uma viagem para o litoral? Talvez um hotel perto da praia para deixarmos que eles nos mimem por um tempo, com nosso bebê.
—Seria ótimo, morrita. Que idéias maravilhosas essa cabecinha linda produz.
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