Passado

17 1 0
                                    

O humor de Benu andava pior que o normal, ele raramente saia da cabana para ir ao vilarejo buscar mantimentos e comprar madeiras para os reparos na velha cabana.


Quando os reparos acabaram, ele trancou todas as janelas para não saber se era noite ou dia, não queria ver a luz do sol.

Estava sentado na poltrona em sua sala e olhava para a vela que mal iluminava, apertou o barquinho de madeira em sua mão e o jogou para longe. Queria afastar aquele sentimento, aquele cheiro, ela...

Kagaho rapidamente se levantou e olhou para os lados, sentiu uma estranha energia – Quem é? Apareça! – ordenou enquanto fechava os punhos.

- Vejo que ainda tem algumas habilidades – falou calmamente.

O ex espectro gritou – apareça!

-Vejo também que o tempo não amenizou o seu sofrimento e seu temperamento.

Flashbacks invadiam a mente de Benu e ele se via anos atrás caminhando no reino de Hades quando sentiu um cosmo enorme. Ficou surpreso de um cavaleiro de ouro está ali. Os dois travaram uma intensa batalha e quando o cavaleiro criou uma ilusão de Sui fez a fúria dele explodir.

No meio da intensa batalha o cavaleiro falou após ver os segredos do espectro – Você não é igual aos outros espectros de Hades. Não parece esta aqui pela vida eterna ou.... - (ficou calado enquanto o analisava) - Você se entregou ao exército de Hades para viver ou para sofrer para sempre? Bem... são muitos conflitos – os dois lutaram com a vitoria do cavaleiro de ouro.

-Maldito Asmita! – Kagaho gritou.

-Vejo que se lembrou de mim! – e logo a forma do cavaleiro em posição de lótus com uma intensa luz aparecia para Benu.

K: O que você quer?

- Acho que a pergunta melhor seria o que você quer? – falava calmamente – Todos esses anos e você continua perdido em sua dor, em seu raiva.

K: Você não sabe nada sobre mim. Cala a boca!

A: Você diz que escolhe quem proteger, por quem lutar. Mas a verdade é que você queima tudo ao seu redor incluindo você mesmo. Você machucou Ana, mesmo querendo protegê-la.

K: Não fale sobre ela.

A: Seu cosmo nunca foi estável porque você varia entre a tristeza e a raiva. Suas chamas explodem em raiva, mas o combustível delas é a sua tristeza. Dohko falou que você não se misturava com humanos ou com os espectros. E estava certo você é apenas um pássaro sem bando que se perdeu do sol.

K: Eu não preciso de nada ou de ninguém. Tudo que eu amo, eu destruo. Meus sentimentos são apenas fantasmas, eu os matei há muito tempo. Eu nunca tive para onde voltar. Isso não é para mim... – falou com raiva e tentou dá um soco em Asmita, mas apenas atravessou a imagem dele.

A: Sei que às vezes esquecemos ou nos afastamos do que somos, mas você é e sempre foi um humano, Kagaho. E como tal precisa reconhecer, enfrentar e controlar seus sentimentos.

Kagaho estava tentando controlar a respiração, estava ofegante após tentar alguns golpes contra o cavaleiro de virgem.

- Se acalme – falou antes de começar um mantra.

O ex espectro sentiu outra energia, ela também transmitia paz, mas era diferente do poderoso Asmita. Seu coração acelerou parecia que ele sabia.

A imagem de um menino apareceu em sua frente e Kagaho caiu de joelhos enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.

A: Não é uma ilusão. O espírito do seu irmão enfim encontrou a paz e precisava que você soubesse disso.

Sui caminhou ate Kagaho e o abraçou, por alguns instantes Benu sentiu que o tempo não havia passado, era a mesma emoção. Sabia que era seu amado irmão.

S: Desculpe-me por todo o sofrimento que eu o causei. Estava confuso e me sentia um fardo para você.

K: Para mim você nunca foi um fardo. Pelo contrario, era você que me apoiava, que me dava motivo para seguir em frente. Eu queria proteger você. Eu deveria ter protegido você.

Kagaho abraçou novamente o irmão. Diferente de Asmita, ele podia sentir o irmão.

S: Antes de fazer aquele ato de desespero, eu falei para você procurar o sol. Eu vi que o encontrou. Por que esta fugindo dele?

Kagaho o olhou surpreso apesar da aparência infantil, o irmão falava com uma segurança, uma maturidade e ele sabia de quem ele falava.

Sui lia seus pensamentos – eu só estou nessa aparência porque ela é a que você reconhece, mas meu espírito assim como seu é antigo. Não são apenas os deuses que reencarnam, nós também. Você não tem que se culpar pelo que fiz, a escolha foi minha e nunca deveria questionar se o amor que me deu não foi suficiente. Eu não poderia ter tido um irmão melhor. Quando não havia ninguém por nós, você escolheu ficar, me criar, me cuidar, me amar. Perdão se eu não compreendia as conseqüências daquele ato.

Kagaho chorava – Você não precisa me pedir isso. Eu que te devo perdão. Talvez se eu...

S: Não. Não há talvez. Você fez suas escolhas e eu fiz as minhas, cada um só é responsável pelos seus atos. É doloroso ver que após tanto tempo você se culpa e se fecha, se pune. Tudo que eu quero é que você viva e não apenas sobreviva. A vida é linda e há muito para você viver.

K: Eu não sei amar, eu só machuco, afasto... Você não tem idéia das coisas que fiz.

S: Eu sei – falou triste - Mas sei que apesar de toda a sombra que envolve você ainda há uma pequena luz aqui. – colocou a mão no peito do ex espectro – se perdoe. Aprenda a lutar por você, pela sua felicidade. Não por mim ou por Alone. Lute por você. Se coloque em primeiro lugar, aprenda a se amar. Se permita amar e ser amado. Você merece o sol.

O mantra que Asmita falava acabava.

S: Eu tenho que ir.

Kagaho o abraçou com toda a sua força – por favor, não vá.

S: Eu tenho que ir, mas sempre estarei com você e em breve irei voltar a Terra. Não se preocupe, eu estou bem. Eu te amo, meu irmão.

Kagaho aos poucos soltava o irmão que desaparecia.

Asmita fez um gesto com as mãos, ele e o espírito de Sui sumiram e um forte vento abriu todas as janelas.




Benu continuava ajoelhado no chão, lagrimas que há muito tempo estavam guardas escorriam. A luz do sol iluminava a sua casa, olhou para o canto que havia jogado o barco e sorriu entre as lagrimas.

Notas FinaisAsmita e Kagaho travam uma batalha no gaiden do Asmita. Modifiquei algumas frases.

Na imagem estão Kagaho e Sui.

Kagaho - Segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora