Céu inacessível

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FLASHBACK

Ana estava sentada no quarto da velha cabana escrevendo, colocar seus pensamentos no papel a ajudava a organizá-los. Escutou Kagaho batendo na porta.

A: "Pode entrar!"

Ele abriu a porta e usava sua sapuris. Ele parecia sempre mais bonito e ela sorriu com esse pensamento. Ele mantinha sua postura séria e fingiu não perceber como ela o olhava.

K: Venha, quero mostrar algo a você.

Ela estranhou ele estar trajado com a sapuris de Benu. Perguntou apreensiva: " está tudo bem?"

Ele fez um gesto positivo com a cabeça.

Assim que saíram da cabana, ele a olhou estendendo a mao:" Confia em mim?, perguntou sério, perto demais.

Ela sorriu segurando a mão dele e ele a pegou em seus braços, alcançando as alturas. Ana num gesto automático colocou seus braços em volta ao pescoço dele, colando seus corpos e olhou para baixo.

A: Que lindo!!!

K: Você não devia confiar em mim. Na verdade não devia confiar em ninguém, o mundo não é um bom lugar.

A: Vai me jogar daqui de cima?

Ele a olhou com surpresa.

K: Claro que não!

E ela sorriu, ele percebeu que ela só estava brincando.

K: Devia. Você é uma pessoa muito difícil.

A: Eu sou dificil?, ela sorriu.

Voaram tão alto que passaram por algumas nuvens, estava de noite e a lua estava minguante, não iluminava muito e muitas nuvens a escondiam.

Ana sentiu um pouco de frio e ele percebeu, com seu "cosmo" ele a aqueceu um pouco.

Pousaram suavemente numa montanha enorme. Ana tentava controlar a respiração pois o ar estava um pouco denso pela altura.

"Olhe" - Benu falou apontando para o céu.

Ela levantou a cabeça e deu um passo para trás, nada a preparava para aquilo, nada poderia definir aquela imagem. Teve infância privilegiada e conheceu as pinturas mais famosas de todos os tempos, mas aquilo a tocou de uma forma tão profunda que sentiu vontade de chorar ao ver tamanha perfeição.

Kagaho notando a emoção dela: " Sabia que ia gostar!"

A: Eu, eu nunca vi nada assim!! São tantas estrelas!!! Elas brilham de tantas formas diferentes. Já olhei para o céu a noite mas nunca vi nada parecido com isso.

K: Estamos num local escuro, sem iluminação é melhor para vê-las e também estamos bem no alto.

A: Sinto que posso tocá-las. Sinto que somos parte delas! Infinitos.

Ana não conseguia desviar o olhar do céu estrelado e ficou assim por horas, até perceber que seu companheiro de observação noturna estava muito calado. Olhou para ele e sorriu ao ver que ele a olhava, os olhos dele brilhavam diferente do que estava acostumada. Percebeu que estava sem sapuris, usava uma blusa azul escura que deixava seus braços musculosos de fora e uma calça preta, estava descalço.

Confusa, perguntou: " Você tirou sua armadura? Está descalço?"

K: Sei que ela a assusta!

"Não me assusta mais.", ela falou hipnotizada pelos olhos brilhantes dele e se aproximou sem perceber.

Ele notando a aproximação dela, deu um passo para trás, desviando o olhar para o chão porque ele também se sentia hipnotizado por Ana, aquela noite foi a que ele achou o céu mais lindo de todos e não era só pelas estrelas.

K: "Fique descalça também. Não há bichos aqui. É uma sensação boa olhar para o céu e sentir a terra sob nossos pés"

Ana ficou um pouco constrangida porque por alguns segundos perdeu seus comandos e se aproximou dele como um imã, fez o que ele pediu. Tirou os sapatos e sentou ao lado dele. Sentiu uma sensação que nunca havia sentido antes, algo no brilho das estrelas, no ar rarefeito, no sentir a terra sob seus pés ou simplesmente por estar ali naquele lugar mágico com ele.

"Não sabia que curtia essas coisas! Afinal você quer acabar com tudo!!"

K: Ana, Hades precisa acabar com tudo para fazer um novo melhor. Eu não nego que há belezas nesse mundo.

Ana tentou mudar de assunto, falar sobre Hades sempre os fazia discutir e não queria estragar o momento.

A: Aqui não parece ser muito movimentado.

K: Não é. Só eu venho aqui e agora... você.

A: É o seu lugar secreto?

K: Bem... a cabana era o meu lugar secreto, mas aqui também é.

A: Obrigada por compartilhar comigo. Eu nunca vou me esquecer disso.

Ficaram ali por horas até o sol aparecer.

A: Obrigada por me mostrar a noite mais linda e o nascer do sol mais incrível que já vi. Obrigada, Kagaho.

Ela o beijou na bochecha. Ele ficou paralizado pelo toque e a observava. Após alguns minutos chegaram à cabana.

Ana caminhava para o quarto, mas voltou e sentou ao lado dele no sofá. Tocou suavemente o rosto dele.

A: Isso não precisa ser o fim. Vamos lutar, vamos fugir!

K: Não temos como vencer essa batalha.

A: Eu não quero ir embora, deixá-lo, por favor, vamos encontrar uma forma de nos mantermos salvos. Deve ter um lugar para onde possamos ir. O mundo é tão grande, Kagaho. - Havia uma certa súplica, desespero em sua voz.

K: Ana, eu não sou igual a você. Estou marcado pela estrela da morte, não há lugar aqui ou no submundo para mim, eu não posso fugir. Hades precisa de mim.

A: Eu também preciso! E não é justo você ter que se sacrificar por algo assim. Será que você não percebe que não há vitórias para você. Se Atena vencer você será morto e se Hades vencer você continuará morto porque você está vazio, sozinho.

K: Ana, eu fiz um pacto. Eu não tenho escolha! Não quero discutir sobre isso. - ele se levantou pegando um pouco de água na cozinha que dividia espaço com a pequena sala.

A: É claro que tem! Sempre há uma escolha!

K: Você fala que sou teimoso, mas não ver que também é uma cabeça dura. Eu não assinei um papel. Eu fiz um contrato com um deus, com a minha alma e ela não me pertence mais.

A: Você decidiu perder, voce não quer lutar!

K: Ana, eu sou um lutador! Lutar é o que sei fazer!

A: Digo lutar pelas coisas certas!

K: Estou lutando pelo certo!

Ana saiu da sala e bateu a porta do quarto, ele deu dois passos em direção ao quarto mas parou olhando fixamente para a porta que os separava e levou a mão até o peito, o apertando como se quisesse arrancá-lo, pois ali percebia que nem seu coração o pertencia mais.

Quando ela acordou após dormir o dia todo ele já não estava mais lá. Olhou pela janela o céu escuro e percebeu que as estrelas não brilhavam como na noite anterior, aquele céu não era acessível a qualquer um, precisava voar para chegar até ele e ela não tinha asas, ficou triste por perceber que talvez nunca mais veria o céu daquela forma, mas o que mais a deixou triste foi perceber que o céu não era o único inacessível.

FIM

Kagaho - Segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora