Vale A Pena Ser Sincero?

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— E foi assim que eu ganhei essa cicatriz — Jungwoo terminou de contar apontando para a cicatriz no seu pescoço que foi feita por um acidente de moto que aconteceu há alguns anos atrás. Eu estava realmente surpreso como ele contava tudo tão tranquilamente, mas imaginava que na hora deve ter sido um susto tremendo.

— Ficou muito ferido?

— Alguns arranhões no corpo e quebrei um braço, apenas isso, fiquei algumas semanas no hospital e depois de um discurso da minha mãe sobre cuidado no trânsito e ouvir outro sermão do Yuta, tudo voltou ao normal e eu pude voltar logo a andar de moto — Ele terminou o seu milkshake de morango e vi os cantinhos da sua boca sujos, fazendo eu sorrir — O que foi?

— Os cantos da sua boca estão sujos de milkshake — Suas bochechas ficaram avermelhadas e eu senti meu coração falhando, como poderia Kim Jungwoo conseguir ser tão maduro e ao mesmo tempo tão infantil?

— E agora? — Ele disse após limpar.

— Está limpo, bom, o que quer fazer agora?

— Podemos ir no parque? Lá é muito bom para conversamos.

Terminei o meu milkshake e saímos do estabelecimento, ele subiu na sua moto e eu logo atrás, abraçando a sua cintura. Chegamos no parque e fomos andando até um dos bancos, o dia estava realmente lindo, casais abraçados, famílias fazendo piqueniques e se podia ouvir risadinhas de crianças e alguns latidos de cachorros, eu gostava muito desse clima.

— Yoonoh — Jungwoo chamou minha atenção e eu olhei para ele — Depois de mim, você já se apaixonou por outra pessoa?

— Já sim, não foi na mesma intensidade mas era paixão — Contei olhando o chão e lembrando da época em que eu e Taeyong éramos felizes e um casal que seria meta de qualquer outra pessoa — E você?

— Nunca me apaixonei de verdade, nem sei como é esse sentimento, me diga, como é estar apaixonado?

— Quando se é correspondido é muito bom, sentir as borboletas dançando no seu estômago, as bochechas ficarem vermelhas toda vez que vê a pessoa, como as suas pernas tremem de ansiedade e o ânimo ao ver a pessoa que você gosta, e quando você a abraça, beija e pode ficar um tempo agarradinho, nossa, não existe sensação mais gostosa.

— E quando não é correspondido?

— Doloroso, saber que não pode encher aquela pessoa especial de beijos e carinho, que ela não te ama na mesma intensidade mas mesmo assim você deseja todas as coisas boas do mundo para ela, mesmo que só seja feliz com outra pessoa, não importa, ver a pessoa sorrindo é mais importante.

— Você é tão bom com as palavras, Yoonoh.

— Sabe que pode me chamar de Jaehyun, não é? Já temos intimidade o bastante.

— Temos intimidade? Então me responda o que você está escondendo de mim — Eu o olhei surpreso e vi seu olhar sério, como ele sabia? — Consigo ver pelo seu jeito que tem algo bagunçando o seu coração, então não tenha medo de me contar o que é, sabe que não vou te julgar.

— Eu...eu sou casado, sabe o Lee Taeyong? O aluno que era presidente de sala por três anos seguidos e que ganhou o lugar de rei de baile da escola duas vezes? Pois é, é ele — Eu suspiro e viro o rosto para que Jungwoo não notasse que queria chorar — Éramos tão compatíveis antes, mas aí nos mudamos para cá e tudo começou a desmoronar.

— Por quê?

— Taeyong passava praticamente o dia todo na empresa, nossos sonhos viraram poeira, principalmente o de ter filhos, ele começou a sair com um tal de Kim Doyoung, ele chega estressado em casa e qualquer coisa que eu faça é motivo de discussão, eu tento evitar mas parece não ter escapatória — Eu senti meus olhos lagrimejarem mas não me permiti chorar, não na frente dele — Faz uns dias que ele decidiu que devíamos dar um tempo, ele ficou no nosso apartamento e eu na casa do Johnny e Ten.

— Por que não me contou?

— Você estava tão animado contando como sua vida estava ótima que eu me senti envergonhado em contar que estou em um casamento fracassado, me desculpa.

— Tudo bem, o que importa é que você me disse — Eu o olhei e ele estava sorrindo, o que me confortou muito — Eu já volto, fica aqui.

Ele se levantou e não vi para onde estava indo, fiquei parado olhando o céu quando senti sua presença ao meu lado novamente, Jungwoo segurava uma única tulipa roxa e a entregou para mim.

— Por que isso?

— Lembra que eu contei uma vez que tulipas roxas significam paz e tranquilidade? Não sei como te ajudar então só posso fazer isso — Suas bochechas voltaram a ficar vermelhas e eu sorri, resolvendo me aproximar e o abraçar.

— Obrigado, Jungwoo.

— De nada, e olha, mesmo que eu não entenda nada de amor e essas coisas, eu acho que seria melhor você se divorciar, faria bem para os dois porque vai que até o Taeyong esteja se sentindo preso? Cada um lida de uma maneira, você é quieto mas ele desconta as frustrações nos outros e isso na verdade é mais normal do que parece — Jungwoo segurou minha mão — Lembre-se que você não é o único sofrendo nessa situação, eu poderia te falar para reconquistar o Taeyong e fazê-lo lembrar como era antes do casamento, mas seria só mais uma forma de adiar o inevitável, vocês dois merecem ser felizes.

— Eu não sei o que faria da minha vida se me separar do Tae, eu não tenho casa, a casa do Johnny é longe do meu trabalho e mesmo se fosse perto eu me sentiria mal por estar invadindo a privacidade dele e do Chittaphon.

— Não devia pensar assim, eles são seus amigos e jamais negariam sua presença, e eu acho que você necessita de uma folga de tudo, até das crianças na creche, já pensou em depois de se divorciar deixar os problemas de lado e ir para a praia ou outro lugar que goste? Você é jovem, tem que viver mais, curtir a sua vida porque infelizmente nunca iremos saber quando é o fim.

Ele tinha razão, Taeyong podia estar tão mal quanto eu, talvez com um divórcio eu pudesse ver a outra versão dele, vê-lo feliz, talvez sendo feliz ao lado de Kim Doyoung, e eu não quero o prender e não deixá-lo ser feliz, como eu não podia deixar a minha felicidade também, Ten já me disse várias vezes que com todos os seres humanos em algum momento somos egoístas porque é preciso, talvez esse seja o meu momento.

WHITE TULIP // JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora