Hora do Mason - parte três

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31 de agosto de 2009


Benquisto ouvido-amigo,

Ainda tem disposição para escutar sobre minhas vivências mirabolantes (seja sincero, não acha que se adequariam a todo o conteúdo de um livro? Em minha opinião, resta apenas saber se seria bom...)?

Se sua resposta for negativa, não se preocupe, não o julgo. Na realidade, creio que já aguentou bastante. Em seu lugar, haveria fugido há muito tempo. No entanto, e graças a Deus por isso, pois só Ele sabe o quanto estou precisando colocar mais algumas coisas pra fora, você parece ser bem mais resistente do que eu. Obrigada mesmo!

Alerto-o, contudo, que nem um final de semana inteiro de calmaria foi o suficiente para aplacar os eventos de uma única segunda-feira. Provavelmente, são muitos os que dizem isso, mas, a essas alturas, já deve ser consciente de que comigo sempre é mais do que isso, certo? É um mistério o porquê de eu ainda não ter me acostumado (aquilo da esperança, talvez? Sim, que descanse em paz...).

Tudo começou com minha ida ao banheiro (é, foi lá de novo...) no horário do almoço. Estava lavando as mãos quando duas garotas adentraram o espaço, estalando seus saltos muito altos (na escola? Fala sério...) e preenchendo o ar com um perfume que devia ser caríssimo, mas eu pessoalmente achei deveras malcheiroso.

Uma dedicou-se a arrumar o cabelo já perfeitamente alinhado, enquanto a outra preferiu cobrir o rosto com mais maquiagem do que as próprias lojas de cosméticos tinham a oferecer. Não obstante, ambas me analisavam através do espelho a cada oportunidade, por fim entreolhando-se em um acordo telepático que, para meu infortúnio, logo tomou forma.

— Sabe o que é estranho, Brook? — a confusão de pós pensou alto.

— O quê, Britt? — A outra puxou o cabelo um pouco mais.

— Viemos aqui pra relaxar um pouco, não?

— É claro!

— E por que sinto como se, de repente, tivesse uma nuvem negra por perto? — Olhou-me de relance.

— Você também?! — Sua cúmplice cobriu a boca com fingido assombro.

— Totalmente!

Gargalharam estridentemente até que uma nova voz lhes sobrepôs:

— Sabem que estou numa situação parecida? — Uma deslumbrante ruiva materializou-se na entrada. — Estava procurando um banheiro limpo, mas, logo de cara, me deparo com a atitude mais imunda que já vi.

— Mas o q... — Arfou a primeira, virando-se para encarar aquela que rapidamente lhe tirou toda a cor que não era artificial. — Oh. Meu. Deus! Você é Jasmine Ann Johnson!

— Sou. E aquela que estão importunando é minha amiga Sunny.

— S-sua amiga?! Vocês... — Apontou freneticamente entre nós. — Vocês são amigas?!

— Algum problema?

— N-n-não, claro que não!

— Meninas, por que não mantemos a calma, hein? — Brook apressou-se em socorrer a parceira de maldades, que assentiu vigorosamente. — Acho que tudo não passa de um grande mal-entendido.

— Estão sugerindo que tenho algum problema de compreensão ou audição, por acaso? — Jasmine contra-atacou.

Enquanto ambas explodiam em negativas e pedidos de desculpas, a terceira enganchou seu braço no meu e me conduziu para fora daquele ambiente caótico, deixando uma única frase para trás:

— Seja lá o que tenha acontecido, espero que não se repita, porque eu absolutamente não permito que minhas amigas sejam tratadas assim.

— Obrigada, mas não precisava ter feito aquilo, eu estava bem — disse após alguns passos e um tempo para me recuperar.

Diário De Um Passado Iluminado | 2ª ed. | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora