Sou a Sun - parte dois

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5 de setembro de 2009


Exímio diário,

Você acreditaria se eu dissesse que hoje o mais impensável aconteceu?

Eu sei que meio que já disse isso muitas vezes, porém este fato me surpreendeu ainda mais do que o habitual, se é que é possível. De verdade, não esperava por isso, e olhe que estou começando a esperar quase tudo (minhas vivências falam por si só, não é?)!

Pois bem, lá estava eu na aula do Miller quando este resolveu inovar (esses professores devem estar passando muito tempo com a senhora Smith, não acha?).

— "O homem está condenado a ser livre, condenado porque ele não criou a si e ainda assim é livre. Pois tão logo é atirado ao mundo, torna-se responsável por tudo que faz" — foi o seu "bom dia!" ao passar pela porta tranquilamente. — Esta é uma famosa citação de Jean-Paul Sartre, libertista, e justamente por isso, presumo que já tenham ouvido. De igual modo, como devem saber, existe a corrente determinista, que como o próprio nome revela, prega a ausência de livre-arbítrio, defendendo, em vez disso, fatores que determinam nosso comportamento. — Desenhou uma linha reta no centro da sala com um giz. — Do lado direito, quero todos os defensores da liberdade. Do oposto, os deterministas.

Cada estudante levou alguns instantes para processar o pedido e decidir seu posicionamento, mas logo estavam formadas as duas filas requeridas.

Percebi que meus amigos Logan e Jasmine, assim como eu, estavam apoiando Sartre e parabenizei-os mentalmente. Como ainda existiam adeptos do determinismo, hein?

— Um número par? Perfeito, isso facilita as coisas — comemorou o professor. — Cumprimentem a pessoa à frente, será sua dupla de discussão.

Fiz uma carranca ao contemplar meu parceiro. Fala sério!

— E aí, Cloudy? — o palhaço saudou com um sorriso torto.

Einstein — devolvi.

— Sentem-se e convençam-na a tomar seu partido — ordenou Miller. — Quem "perder", escreve uma redação sustentando as ideias do oponente. Divirtam-se! — Relaxou em sua cadeira, um livro na mão.

Todos fitamos o assento vazio do Mason. O Miller tinha muita sorte de ele não estar ali, senão a aula seria... Bem, tensa. Todavia, pensando melhor, deve ter sido por isso mesmo que resolveu aplicar o exercício hoje. Como membro do corpo docente, certamente sabia do compromisso do grêmio. Assim, aproveitou para fingir que não evitava debates e, como garantia, não contava com a mínima chance de interferência de um certo aluno "ameaçador". Jogada inteligente...

Voltei para meu lugar sem me preocupar em olhar para trás, checando se meu adversário (literalmente) havia me seguido. Se o fizesse, bem. Se não, melhor ainda. Para meu azar, infelizmente, o meliante escolheu a primeira opção. Ou queria aqueles pontos demais ou mal podia esperar para me irritar. Talvez os dois. É, provavelmente os dois.

— Do que tinha me chamado mesmo? — perguntou assim que se acomodou no meu antigo refúgio.

Einstein? — Por que me dou ao trabalho?

Ele riu.

— Me acha inteligente?

— Na verdade, é o contrário.

Acredita que riu mais ainda?! Deve ser menos inteligente do que pensei...

— A que devo "a honra"? — investigou.

— Quer mesmo a lista?

— Escolha um item, então. — Deu-me um sorriso cheio de covinhas (não era errado que uma criatura daquela tivesse um sorriso bonito? Eu acho...).

Diário De Um Passado Iluminado | 2ª ed. | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora