Sou a Sun - parte três

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6 de setembro de 2018


Caríssimo,

Estou tão, mas tão aliviada agora! Não consigo nem expressar o tamanho da minha gratidão aos céus pelos eventos de hoje, um dia por regra feliz que foi destruído há muito tempo, mas que, de alguma forma, trouxe-me algo bom, restaurou minha paz. Digo, em tese...

Por volta das 3 horas da tarde, minha campainha anunciou a chegada de alguém, e como não esperava visita alguma, principalmente naquele dia, fui recebê-la bastante intrigada. Quem poderia...?

— Mason?! — Estupefata, deixei cair meu copo de suco no chão, o qual, para o meu extremo infortúnio, era de vidro e espatifou-se na madeira com conteúdo e tudo, causando um enorme estrago. Conhecia uma tia que não ficaria nada contente...

— Meu Deus, você está bem, Sunny?! — Fez menção de aproximar-se para ajudar, porém o parei com um gesto de mão.

— Não, você pode pisar em um caco e se machucar. Por favor, fica aí, eu estou bem. E... já vou limpar. — Olhei em volta com desânimo. Lá se vai meu descanso... Contudo, naquele momento, isso pouco me importava.

Mason me analisou com cuidado, tomando sua decisão gradualmente, no entanto acabou por realizar meu pedido, concentrando-se, em vez disso, no que diria a seguir...

— Sunny... — começou, e a mágoa que senti em sua voz, levemente entrecortada, partiu meu coração. Eu podia estar habituada à tristeza, mas não o Mason. Não, ele não. O sentimento não combinava com sua essência e vê-lo daquele jeito, por minha causa, ainda por cima, trouxe um nó imenso à minha garganta, que quase me impediu de falar. Quase. Eu precisava consertar aquilo...

— Você não contou ao pastor sobre mim — interrompi-o. Não era uma pergunta.

— Não. — Sua resposta foi imediata.

— E... E tecnicamente, me levou para conhecer seu pai.

Um leve sorriso se desenhou em seus lábios enquanto assentia devagar.

— Levei.

Não pensei mais. Em uma atitude desesperada que surpreendeu a mim mesma, lancei-me para si, entregando-me de corpo e alma àquele abraço de reconciliação, o melhor que podia oferecer, pedindo a qualquer força piedosa do Universo que aquilo servisse ao seu propósito. Por favor, que eu não tenha estragado tudo, que eu não tenha estragado tudo, que eu não tenha... Por favor!

— Me perdoa! — murmurei contra seu peito (Deus, como ele era alto, porque eu estava longe de ser baixa!), lutando para conter as lágrimas teimosas que insistiam em tentar se apropriar do meu rosto. Mas o que era aquilo?! Eu não podia chorar. Não podia!

— Está tudo bem. — Subtraído o choque inicial, estreitou-me em seus braços com o mesmo fervor, apoiando a cabeça na minha enquanto respirava fundo. — Só não... me dê outro susto desses, o.k.? Achei... Achei que tinha estragado tudo. — Outro aperto, carregado de emoção, puxou-me para ainda mais perto (Cristo, aquilo era bom...).

— Não vou — prometi, visivelmente abalada (o que esse garoto está fazendo comigo, hein?!), e finalmente descansei no calor de seu toque.

Era estranho como nossos corpos se encaixavam bem, como parecia certo estarmos ali, juntos. Como se... Como se... fôssemos feitos um para o outro.

Afastei-me de supetão, assustada com o rumo que meus pensamentos tomavam, e limpei a garganta.

— É... — Especulei a melhor forma de indagar o que me incomodava. — Sem querer correr o risco de comprometer tudo de novo, mas... O que o trouxe aqui? Quero dizer, já nos veríamos na segunda, então...

— Sim, tem razão. — Estendeu-me, assim, um pacotinho azul que nem o notara segurar. — Feliz aniversário!

Meu pulso sumiu. Há onze anos minha tia e eu não comemoramos meu aniversário. Por escolha minha. Eu não quero lembrar... o que aconteceu. É a data mais triste da minha vida. Sempre será. Entretanto, ao olhá-lo daquela forma, suspendendo a reluzente embalagem com uma expectativa insegura (o Mason!), não consegui me forçar a arruinar tudo, por conseguinte aceitei o presente e agradeci baixinho.

— Desculpa, não é nada extraordinário — confessou, um adorável tom de vermelho colorindo suas feições (ai. Meu. Deus!). — Mas é... especial.

— Não se preocupe, corro de coisas pomposas desde que me entendo por gente! — tranquilizei-o enquanto tateava pelo embrulho, no típico intento de descobrir o que escondia. — É um papel?

— Acho que vou te deixar averiguar sozinha, se não se importar. Não sei o que vou fazer se não gostar, sabe? — Desalinhou o cabelo em seu costumeiro gesto nervoso (juro que "nem olhei"... ̶M̶a̶s̶ ̶e̶l̶e̶ ̶f̶i̶c̶o̶u̶ ̶l̶i̶n̶d̶o̶!̶). — Até logo, Sunny!

— Até, Mase! — disse em automático, prendendo a respiração quando percebi, tarde demais, como o havia chamado. Ah, não! Não, não, não! Tinha passado tanto tempo ouvindo Logan e Jasmine pronunciarem o apelido que inconscientemente devo tê-lo incorporado.

O alvo de minha completa estupidez, que já havia dado alguns passos, também percebeu a mudança (claro que sim...) e virou-se na mesma hora. Porém, contrariando meus pressentimentos, não pareceu irritado. Ao contrário. Seus olhos... seus olhos brilhavam.

— Tchau... Sun — e partiu, ostentando o sorriso mais belo que jamais vislumbrei.

Oh, meu...

Desde que meus pais estão... distantes, nem mesmo tia Sue ousou resgatar a expressão, praticamente criação deles. Não obstante, quando o Mason resolveu fazê-lo, não experimentei a onda arrebatadora de angustia para a qual me preparava. Em seu lugar, senti-me... Não sei, completa. Senti uma vontade incomensurável de gritar para que voltasse e repetisse. Por isso mesmo, fechei a porta o mais rápido que consegui. Com chave.

— Minha nossa, o que aconteceu aqui?! — exclamou tia Sue, ainda meio desorientada pelo sono da tarde.

— Tia? — chamei, ocultando o que ganhara atrás de mim.

— Sim?

— A senhora... pode me chamar de Sun.

Dito isso, dirigi-me à sala onde guardávamos nosso material de limpeza, deixando-a boquiaberta em frente à porta. Ainda deve estar, já que minha sanidade continua intacta (de novo: em tese), porém, como da outra vez, sei que é apenas uma questão de tempo (um longo, por favor)...

Contando com seu apoio,

Sun

~♥~

O fato do presente não ser revelado nesse capítulo não é por acaso, tá? Quero muito saber quais são os palpites de vocês sobre o que poderia ser, esta será nossa pergunta final (sem banner dessa vez, porque é uma pergunta mais aberta). E aí, quem será que acerta? E, ah!, não esqueçam da nossa campanhaaa! <3

Diário De Um Passado Iluminado | 2ª ed. | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora