Happy True Me Day!

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31 de outubro de 2009


Alvo de minha mais profunda saudade,

Faz ideia do quanto é bom revê-lo, tocá-lo, escrevê-lo?! É como finalmente encontrar água no deserto após dias de caminhada sob um sol escaldante, um verdadeiro bálsamo para a alma!

Imagino que se a data no início destes escritos não lhe revelou o motivo de minha explosão emocional, por certo o passar dos dias o fez. Devo confessar, aliás, que foi uma tremenda tortura não tê-lo por perto, e assim sendo, suponho que presuma (acertadamente) que tal privação não foi iniciativa minha.

Sua idealizadora foi ninguém mais, ninguém menos que tia Sue. Dá pra acreditar?! Ela o descobriu pouco depois das 24 horas do meu aniversário e imediatamente surtou! Sur-tou! Ainda me lembro de sua mão ligeiramente trêmula apontando para você enquanto questionava com temor:

— O que está segurando, Sun?

— Um... diário? — respondi, embora de fato tenha soado como uma pergunta, já pressentindo algo ruim.

— E por que tem um diário, meu bem?

— Eu... — Engoli em seco, trazendo-o para mais perto, o que pareceu preocupá-la ainda mais. Mandou bem, Sunny!

— Posso dar uma olhada?

— O quê?! Tia, um diário é pessoal! Essa é a função dele!

— Não, querida, veja o nome: diário. Sua função é guardar memórias do nosso cotidiano.

— Não, sim, claro, eu quis dizer que...

Ai, que confusão!

— Calma, amor, eu entendi. — Presenteou-me com o primeiro sorriso verdadeiro daquela conversa, aproximando-se para bagunçar meu cabelo com afabilidade (não é injusto que eu não possa nem ficar com raiva dela direito?). — Posso? — Tentou outra vez, sinalizando em sua direção.

— Desculpe, tia — pedi, apertando-o com mais força, e incrivelmente estava sendo sincera. Até queria compartilhar esses acontecimentos com ela, apenas... não podia. Não era a hora ainda, entende? Eu não estava pronta. Não estou pronta. E... Não sei, mostrar você assim... — Me desculpe — repeti.

Tia Susie refletiu por alguns instantes, observando-me com cautela, e por fim propôs que fizéssemos um trato: não o leria, porém o manteria consigo. Aparentemente, temia que você se tornasse algum obstáculo para meu desenvolvimento social ou algo assim, que não tentasse me abrir com pessoas por possuir outra "válvula de escape", além de, "o pior", segundo ela, preenchê-lo com pensamentos ou acontecimentos negativos. Seu álibi terapêutico não a convenceu nem um pouco.

Desnecessário dizer que entrei em pânico, não é? Infelizmente pra mim, aquela era minha tia e não havia nada que pudesse fazer a não ser concordar.

Ela pode até ter certa razão, mas isso não alivia meu sofrimento! E eu definitivamente não estava preparada para isso. No entanto, e agora felizmente, foi-me permitido pelo menos escrevê-lo em datas comemorativas, quando eu supostamente tenho algo bom para registrar, e aqui estamos nós!

31 de outubro. Essa data lhe soa familiar? Caso tenha pensado "Halloween", bingo! Só tem um detalhezinho a esse respeito: não comemoramos esse feriado.

Sim, sim, eu sei que parece estranho que alguém como eu não aprecie o Dia das Bruxas, uma data na qual sair de preto por aí não atrai a mínima atenção. A questão é: desde que meus pais se foram, detesto tudo o que é falso, conforme já confidencializado, foram mentiras que os tiraram de mim, e esta comemoração é a personificação de tudo isso.

Diário De Um Passado Iluminado | 2ª ed. | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora