5 de dezembro de 2009
Meu amado parceiro,
Estou em absoluto choque. Toda vez que penso no que aconteceu hoje, lágrimas inundam meu rosto imediatamente e não consigo conter o pulo do meu coração, que, para variar, acontece por uma razão tão incrível (embora associada a um momento delicado) que ainda não fui capaz de conceber por completo. É surreal demais para alguém como eu, que sequer sonhou com algo relativamente próximo a isso.
Foi tudo efeito do dia de ontem. Acordei com uma vontade imensa de repaginar minha vida no que me cabia, então até meu quarto entrou na fila (como o preambular, na verdade). Eu queria externar tudo o que sentia, quem me tornara, no ambiente que mais me representava. Consequentemente, embora não fosse a data pré-estabelecida para sua limpeza, aquele local necessitava ser limpo. Também precisava de mais cores...
Abri meu guarda-roupa (sim, eu o preferia aos closets habituais) e suspirei. Em suma, para minha a infelicidade, só tinha preto no interior, com raríssimas exceções (a exemplo, meu medalhão dourado e a blusa nova) que nem de longe poderiam ser usadas como decoração. Eu realmente, realmente tinha de dar um jeito naquilo... Porém, era óbvio que levaria muito mais do que um sábado para realizar este feito. Que situação!
Bati a mão em uma das extremidades e algo se moveu no compartimento superior. Prendi a respiração ao erguer os olhos, nostalgia batendo firme na porta. Meu ursinho! Meu ursinho aniversariante!
Caramba, há quanto tempo não olhava pra ele! Desde o meu aniversário de seis anos, para ser mais específica, o anterior ao acidente. Depois disso, não tive coragem de sequer lhe direcionar a visão, muito menos tocá-lo. Até agora, claro. Eu precisava fazer aquilo.
Estendi as mãos e apertei-lhe o chapéu, testando suas pilhas, e por algum milagre, ainda estavam prestando. A canção de felicitações preencheu todo o ambiente, arrancando um pequeno fungar da minha parte. Tudo bem, no entanto. Ganhara-o quando bebê e, até a afamada fatalidade, dormia com ele em cada aniversário, um hábito que jamais imaginara quebrar. Normalmente, pegava no sono de tanto apertá-lo, enfadando-me com a cantoria repetida.
Decidi arrebatá-lo daquele canto escuro por um momento, aconchegando-o nos meus braços. Contudo, ao puxá-lo com expectativa, não foi a única coisa que desceu. Não, um papel amarelado, dobrado em um retângulo perfeito, pousou suavemente no chão, sua face oculta para o outro lado.
Um dos meus desenhos, talvez? Será que algum de fato sobrevivera?
Não dei muita importância no início, optando por apreciar meu antigo amigo de pelúcia. Era tão macio quanto me recordava e alguns dos seus pelos ainda se soltavam dependendo de como o alisasse. Também lhe dei umas batidinhas de leve para espantar um pouco da poeira. Em seguida, aproximei meu nariz... E espirrei na mesma hora. Tinha cheiro de terra e objeto guardado, uma combinação que meu olfato detestava, mas, de novo, eu daria um jeito.
Aproveitando minha altura atual (então já não precisava arrastar uma cadeira), examinei com atenção o pequeno espaço de onde saíra, à procura de mais desenhos, porém não encontrei nada. Inclusive, cheguei a tatear a madeira para ter certeza. Nada. E foi impossível não sorrir com as memórias que esse simples fato trazia.
Nunca me considerei uma artista, desenhava pela mera diversão e esperança, mas não gostava do que produzia. As pessoas me olhavam estarrecidas por esse detalhe, dizendo que estava lindo ou (quando eu dizia de pronto que achava feio — não depreciando a mim mesma, apenas sendo sincera) que melhoraria com o tempo. No entanto, mesmo quando criança, sempre tive algumas opiniões que independiam dos adultos. E, bem, no fim, não melhorou (a falta de prática não é um aliado, de todo modo).
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Diário De Um Passado Iluminado | 2ª ed. | ✔️
عاطفيةUma garota definida por um passado traumático, o qual tem controlado seu presente e futuro. O diário de quando tudo começa a mudar... Um acidente na infância transformou para sempre a vida de Sunny Clark. Mesmo em sua tenra idade, a sorridente e amo...