Sozinha No Mundo

Capítulo 19

Alan narrando:

Estava lendo um livro gigante de psicologia quando o meu celular vibra e a tela acende para me alertar que havia uma notificação. Olhei para o visor, o relógio marcava quase 03 da manhã:

"Quem iria me mandar mensagem tão tarde da noite?" - pensei enquanto esfregava meu queixo com o polegar. 

A contra gosto, desbloqueei o aparelho e li a mensagem, era da Lorena, seu contato repentino me deixou feliz pois eu esperava boas notícias ou até mesmo atualizações sobre a festa de formatura pois eu sei o quanto ela parecia animada por esse evento, porém, não tinha nada a ver com o que eu estava pensando, ela me mandou uma mensagem de despedida, e pela escolha das palavras, ela estava certamente falando sobre tirar a própria vida. Me ajeitei na cadeira enquanto digitava de forma desesperada pedindo para que ela não tomasse aquele tipo de decisão pois ela poderia se arrepender e a morte jamais seria uma solução para os problemas e que nós poderíamos resolver isso juntos. Eu estava com medo, não vou mentir, eu já havia presenciado aquele tipo de comportamento há alguns anos atrás e por medo eu decidi ignorar e eu me arrependo e me culpo até hoje por isso.

Conforme eu enviava as mensagens, elas não eram entregues, o que me fez ficar mais preocupado. Ela era uma paciente, eu não tinha nenhuma ligação com ela além dessa mas eu sabia que ela precisava de ajuda, eu não iria suportar perder mais ninguém dessa maneira. Me levantei apressado para procurar as chaves do carro enquanto ligava para Raphael torcendo desesperadamente que ele atendesse logo, cada minuto era importante. Não demorou muito para que ele atendesse com um tom de voz sonolento e preocupado:

-Pai, precisamos ir na casa da Lorena agora, ela acabou de me enviar uma mensagem suicida e eu temo que ela esteja correndo perigo.

-Vou tentar entrar em contato com os pais dela e te encontro lá.

Desliguei o telefone e saí de casa sem trancar a porta, peguei o elevador e fui até o estacionamento e corri até chegar ao meu carro. Eu estava desesperado e com medo, da mesma forma que eu me senti naquela noite mas não poderia deixar isso me abalar, eu precisava ser rápido, ela estava em perigo e eu ainda tinha alguma chance de salvá-la.

                                                                                              *****

Em menos de 10 minutos, eu e Raphael estávamos na frente do portão que nos separava da Lorena, eu tentava ligar mas seu telefone sempre caía na caixa postal, o que estava me deixando mais nervoso. Depois de alguns minutos gritando, uma menina que aparentava ter menos de 16 anos abriu o portão, sua pele pálida refletia claramente as olheiras negras de quem não dormia bem há muitos dias, ela coçava os olhos com as costas das mãos enquanto tentava assimilar o que estava acontecendo:

-Posso ajudar?

-Você é parente da Lorena?

-Sou irmã dela, por que?

-A sua irmã está correndo perigo.

Não consegui esperar a sua permissão para entrar e corri, adentrando a casa sem pedir licença, Raphael e a menina vieram logo atrás de mim, ela não escondia a preocupação em seus olhos:

-Quem são vocês e por que estão procurando a minha irmã?

-Onde ela está nesse momento? - eu perguntei olhando para todos os lados na esperança de ver ela saindo bem de algum dos cômodos.

-Ela está no quarto, andar de cima.

Novamente sai em disparada pelas escadas de madeira que faziam rangidos altos conforme eu pisava nas mesmas, cheguei rápido no andar de cima que estava pouco iluminado. Liguei a lanterna do meu aparelho enquanto a chamava mas não obtinha respostas, tudo estava quieto. Parei na frente de uma porta de madeira branca com a fechadura arrombada e algumas marcas de pés que pareciam ter sido feitas por alguém extremamente desesperado. Não demorou muito para que a menina me alcançasse e Raphael viesse atrás dela, ela estava mais preocupada do que quando abriu a porta para nós: