Capítulo 11

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Quando cheguei em casa, naquela mesma noite, eu me encarei no espelho e me analisei minuciosamente enquanto me derramava em lágrimas, eu estava no fundo do poço. Fui até a gaveta do banheiro e encontrei uma lâmina.A peguei e fiz o meu primeiro corte no punho, o filete de sangue apareceu instantaneamente e pingou sobre o meu pé nu. Continuei a fazer diversos outros cortes que pegavam uma parte do antebraço e muitos nas coxas, eu sei que você deve estar se perguntando se aquilo não doía mas sim, doía pra caramba porém não era comparada a dor emocional que eu estava sentindo e foi naquela noite que o meu vício pela auto-mutilação começou.

Com o passar do tempo, eu havia mudado completamente, as músicas animadas que falavam sobre o amor e alegria deram lugar a canções tristes com letras melancólicas que diziam que o suicídio era a única solução, eu me cortava todos os dias sempre que eu podia, não me alimentava corretamente e fazia abuso de bebidas alcoólicas fortes, andava sempre de blusas de mangas compridas e havia abandonado os shorts e vestidos.

Com o quadro de depressão se avançando, eu ia pensando cada vez mais em suicídio e ia me afastando de todo mundo, exclui todas as redes sociais e me afastei dos meus amigos e da minha família, o que não demorou muito para que eles viessem me questionar o por que eu não aparecia nos jantares de família e até por que eu não falava mais com Jason e havia parado de ver os meus amigos. Obviamente não contei os meus motivos pois em minha cabeça contar meus problemas não resolveriam e não iriam acrescentar nada na vida de ninguém.

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Eu estava deitada em meu quarto ouvindo "me sinto feio" quando minha mãe apareceu na porta com meus amigos e Jason, eu olhei para eles e perguntei desanimada:

-O que foi?

-Seus amigos vieram ver como você está. Bom, eu vou fazer um lanche. -disse ela meio cabisbaixa e saindo logo em seguida.

Os quatro entraram, Duda e Gih se sentaram na beirada da minha cama enquanto Jason e Gabriel ficaram de pé. Eu me ajeitei na cama puxando as mangas do moletom preto e os olhei esperando para ouvir o que eles tinham a me dizer, Jason tomou coragem e falou primeiro:

- Nós sabemos que você não está bem e que está escondendo algo de todos nós. Olha eu sei que você passou por muitas coisas difíceis mas não precisa passar por isso sozinha pois todos queremos ajudar você. -disse enquanto pegava nas minhas mãos.

Duda se aproximou de mim e complementou:

-Somos todos seus amigos e apenas queremos ajudar, por favor nos conte o que está acontecendo e faremos o possível e o impossível para ajudar.

Eu olhei nos olhos de cada um deles e, lá no fundo eu sabia que eles estavam falando a verdade mas, o medo me aprisionava com correntes pesadas que me impediam de contar a eles a verdade então eu sempre dava alguma desculpa esfarrapada que a pessoa mais ingênua não acreditaria. Mesmo que eles dissessem que eu poderia confiar e contar com eles para tudo, eu não conseguia achar as palavras certas para dizer o que eu estava passando.

Minha mãe chegou com uma bandeja cheia de lanches e uma jarra de suco de maracujá, o meu preferido, ela bateu na porta com o pé:

-O lanche está pronto, se sirvam. Se precisarem de algo, estarei na cozinha. -disse e saiu.

Então todos se levantaram e perguntaram se eu iria comer, eu respondi que sim e fomos até onde minha mãe havia deixado os lanches, na hora de me servir uma gotícula de sangue pingou no móvel branco e Gabriel estava ao meu lado no momento, ele notou e me disse:

-Você está sangrando?

Eu olhei desconcertada para o meu pulso me lembrando dos cortes que havia feito antes que eles chegassem, respondi no mesmo minuto:

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